
(Autor: Professor Caviar)
Não é preciso esforço para dizer que a declaração de Emmanuel (ou Francisco Cândido Xavier, caso até a atribuição do jesuíta nas "psicografias" seja também duvidosa) sobre o comunismo é de um falso apoio. Emmanuel cobra do "comunismo autêntico" visões bastante reacionárias, como o conceito igrejeiro de "fraternidade" (que envolve conceitos rígidos de hierarquia e submissão humana) e "educação" (que rejeita o debate aprofundado da realidade, ideia defendida pela Escola Sem Partido) e a condenação naquilo que Emmanuel, vagamente, define como "anarquias" e "degradações", que são as greves e as passeatas de trabalhadores, além de invasões de fazendas improdutivas de grandes proprietários de terras.
Emmanuel teve habilidade, no texto de Coletânea do Além, de 1945, de fingir que estava apoiando o comunismo, quando, na verdade, o estava reprovando. É aquele típico texto da direita que diz aprovar o comunismo, desde que ele se submetesse aos desejos da direita. É aquela manobra de cobrar tanto do comunismo que ele acaba cedendo a tudo, anulando rigorosamente sua essência.
Não podemos nos iludir com alegações supostamente favoráveis à fraternidade e à melhoria de vida. Na política, temos vários exemplos disso. Quantos golpes políticos são feitos "em nome da democracia"? Quantas violações à lei são feitas "em nome da legalidade"? Quantos discursos falam em respeito às instituições políticas, quanto escondem práticas que desrespeitam e ofendem as mesmas?
O próprio Jair Bolsonaro, que adora violar artigos da Constituição Federal, em prol de seus interesses reacionários, afirmou em discurso que ela é o "único norte para a governabilidade". Um exemplo disso é a liberação do porte de armas pelo cidadão comum, que, pelas consequências sociais tão conhecidas, vai contra o princípio constitucional do direito à vida.
Michel Temer era um artífice desse discurso. Hipócrita, ele dizia que preservaria os direitos trabalhistas, os direitos sociais da Constituição e se empenhava em promover a melhoria da vida da população. São mentiras bem arranjadas, mas que também poderiam se passar por "verdades" para alguém menos informado.
Emmanuel demonstrou ideias reacionárias em outras obras. Machista, ele ironizou o "feminismo", dizendo que ele só deve ser exercido "no lar e na prece" e não fora desse âmbito. Emmanuel também rejeitava o questionamento aprofundado (uma prática das esquerdas) e pedia para as pessoas apenas "trabalharem e confiarem em Deus", sinalizando a sua defesa potencial de ideias presentes na reforma trabalhista, como a flexibilização dos acordos trabalhistas - que deixaria os trabalhadores em desvantagem - e o aumento da carga horária de trabalho.
E para quem acha que Chico Xavier não concordaria com a agenda direitista de Emmanuel, se engana completamente, ainda mais se considerarmos que Emmanuel, de acordo com certas correntes, seria o próprio "médium". Além do mais, Chico Xavier exibiu um reacionarismo raivoso na entrevista do Pinga Fogo, da TV Tupi, derrubando qualquer hipótese de que o "médium" seria um progressista.
Na verdade, Chico Xavier sempre foi um ultraconservador. O único diferencial é que ele sabia dissimular isso, quando possível. Sua suposta humildade é que enganou muita gente das esquerdas, que pensou que o "médium" estava ao seu lado, quando na verdade elas estavam adorando um ícone ultraconservador, educado nas raízes sociais medievais de Pedro Leopoldo.
O problema é que as paixões religiosas permitem a licenciosidade do pensamento desejoso, onde a fantasia busca se impor acima da realidade e muitos se iludem com uma imagem "dócil" de Chico Xavier, desenvolvida nos últimos quarenta anos sob influência do que o inglês Malcolm Muggeridge fez para "santificar" Madre Teresa de Calcutá. Esse pensamento desejoso cria ilusões que soam muito confortáveis e são até blindadas por mil desculpas que tentam relativizar o reacionarismo de Chico Xavier. Mas trazem o efeito desagradável da desilusão, quando argumentos mais consistentes desfazem qualquer ilusão.
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