A edição de janeiro de 2019 do periódico "Correio Espírita", editado no Grande Rio, aparentemente ruma pela neutralidade política, mas estabelece um aparente otimismo em relação ao ano que se começa.
Com isso, se subentende que, diante do governo ultraconservador de Jair Bolsonaro, que não garante o menor otimismo, diante de seu projeto de retirar direitos dos trabalhadores, estabelecer pautas reacionárias - como liberar o porte de armas para cidadãos comuns e despreparados - e entregar as riquezas nacionais e as empresas públicas para corporações estrangeiras ou, quando muito, para longínquas estatais europeias.
Mas o "espiritismo" brasileiro, que clama para que não seja visto como "ideologicamente conservador", porque isso "entristece muito" os partidários dessa "religião da bondade" (sic), demonstra, no entanto, identificação ao direitismo ideológico, por conta de um conteúdo moralista que se fundamenta pela Teologia do Sofrimento (corrente medieval do Catolicismo), usando a "vida futura" como pretexto para fazer apologia da desgraça alheia.
Observando bem, a pauta do "espiritismo" brasileiro, que põe a Teologia do Sofrimento acima até dos ensinamentos originais da Codificação, inclui elementos que são facilmente identificáveis com a pauta reacionária vigente na política brasileira desde 2016: reforma trabalhista, precarização do emprego, Escola Sem Partido, cura gay, etc.
O "espiritismo" brasileiro até sinalizou eventos que resultaram no atual cenário político, inaugurado por Michel Temer e consolidado por Jair Bolsonaro. Definiu as passeatas do "Fora Dilma" como "início da regeneração da humanidade", atribuiu agosto de 2017 ao "início da Pátria do Evangelho", por sinal baseado num lema de Francisco Cândido Xavier não muito diferente do de Jair Bolsonaro (comparem: "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos").
Mas o "espiritismo" brasileiro não parou aí. Definiu o juiz paranaense Sérgio Moro como "enviado dos benfeitores espirituais", e atribuiu a ele a "missão divina" de "combater a corrupção e promover um novo Brasil livre da roubalheira política e social". Hoje Sérgio Moro é ministro de Jair Bolsonaro e se encaixa nas perspectivas do "espiritismo" que tem em Chico Xavier seu maior ícone.
AFINIDADES DE SINTONIA
São afinidades de sintonia que fazem com que Chico Xavier encontre cadeira cativa nas mesmas redes sociais que cultuam fake news - influência da literatura fake lançada pelo "médium" - e promovem conservadorismo ideológico, bem ao gosto do "médium". Memes pró-Chico Xavier são muito difundidos, e até um "médium" afinado com os redutos do Facebook e WhatsApp, o carioca Adriano Correia, lançou mensagens atribuídas a Hannah Arendt, Erich Fromm e Alfred Schutz, estranhamente com português fluente e linguagem de youtuber (?!), "prevendo" que o Brasil iria dominar o mundo (a tal "Pátria do Evangelho").
Isso é muito doloroso de dizer, porque os "espíritas", por mais conservadores que sejam, não gostam de estarem associados ao conservadorismo ideológico que domina o país. Eles precisam usar como verniz a reputação progressista de Allan Kardec, e tentam, mesmo com uma pauta social digna de bolsonarismo, manter a aceitação de setores das esquerdas.
No entanto, ideias expressas, ideias identificadas. Não há como pensar num sentido conservador e se recusar a admitir esse conservadorismo. Impossível ser progresissta e ter ideias conservadoras, e ficar se desculpando por aí dizendo que as ideias expressas são metafóricas. Isso é falta de firmeza, de coragem e revela um certo oportunismo.
É esse oportunismo que faz com que os "espíritas" tentem camuflar seu conservadorismo, usando frases de dois espíritas autênticos, Kardec e o conceituado tradutor José Herculano Pires, para uma interpretação distorcida das ideias originais.
"HOMEM NOVO" É O ALEXANDRE FROTA?
Na edição do "Correio Espírita" deste mês, usa-se Kardec para "perdoar as imperfeições dos outros", o que indica um apelo sutil para que se aceitem os retrocessos e prejuízos a serem trazidos pelo governo Jair Bolsonaro. Mais abaixo, a respeito do Ano Novo, usa-se Herculano Pires para pregar aos brasileiros um "outro tipo de mudança", que é sempre abrir mão de sua individualidade, de suas necessidades, de seus anseios, de seus projetos de vida. O "espiritismo" brasileiro tem desse aspecto cruel que é o de fazer crer que a pessoa "só ganhará" acumulando grandes perdas em sua vida.
Mas um aspecto se vê na ilustração da matéria sobre o "Ano Novo que exige um homem novo". O rosto é surpreendentemente idêntico ao do ex-ator e hoje deputado federal pelo PSL paulista, Alexandre Frota, um dos evangélicos que, pelo jeito, se afinam com a pauta conservadora que os "espíritas" herdaram de Chico Xavier.
Frota é um ex-ator da Rede Globo que depois realizou filmes pornô e divulgou o "funk carioca". Mais tarde, tornou-se também um reacionário anti-petista e pregador de ideias ultraconservadoras. Foi um dos divulgadores da Escola Sem Partido, projeto dos evangélicos Miguel Najib e Magno Malta, mas que contém ideias que haviam sido apoiadas e praticadas por Chico Xavier e Divaldo Franco (que, pelo jeito, sinaliza apoio ao projeto).
Pode parecer coincidência, mas não há como não pensar na ilustração do "novo homem" sem pensar no ex-ator que se tornou propagandista do atual momento político, de retomada ultraconservadora. E isso quando o "espiritismo" brasileiro anuncia que estamos "num período de regeneração" e na "condução da Pátria do Evangelho", na data-limite sonhada por Chico Xavier, ele mesmo um adepto de um reacionarismo com apetite bolsonarista, para desespero de muitos progressistas que ainda são complacentes com o "médium". "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" se traduz, no padrão do WhatsApp, em "Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos". Tudo a ver.
Observando bem, a pauta do "espiritismo" brasileiro, que põe a Teologia do Sofrimento acima até dos ensinamentos originais da Codificação, inclui elementos que são facilmente identificáveis com a pauta reacionária vigente na política brasileira desde 2016: reforma trabalhista, precarização do emprego, Escola Sem Partido, cura gay, etc.
O "espiritismo" brasileiro até sinalizou eventos que resultaram no atual cenário político, inaugurado por Michel Temer e consolidado por Jair Bolsonaro. Definiu as passeatas do "Fora Dilma" como "início da regeneração da humanidade", atribuiu agosto de 2017 ao "início da Pátria do Evangelho", por sinal baseado num lema de Francisco Cândido Xavier não muito diferente do de Jair Bolsonaro (comparem: "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos").
Mas o "espiritismo" brasileiro não parou aí. Definiu o juiz paranaense Sérgio Moro como "enviado dos benfeitores espirituais", e atribuiu a ele a "missão divina" de "combater a corrupção e promover um novo Brasil livre da roubalheira política e social". Hoje Sérgio Moro é ministro de Jair Bolsonaro e se encaixa nas perspectivas do "espiritismo" que tem em Chico Xavier seu maior ícone.
AFINIDADES DE SINTONIA
São afinidades de sintonia que fazem com que Chico Xavier encontre cadeira cativa nas mesmas redes sociais que cultuam fake news - influência da literatura fake lançada pelo "médium" - e promovem conservadorismo ideológico, bem ao gosto do "médium". Memes pró-Chico Xavier são muito difundidos, e até um "médium" afinado com os redutos do Facebook e WhatsApp, o carioca Adriano Correia, lançou mensagens atribuídas a Hannah Arendt, Erich Fromm e Alfred Schutz, estranhamente com português fluente e linguagem de youtuber (?!), "prevendo" que o Brasil iria dominar o mundo (a tal "Pátria do Evangelho").
Isso é muito doloroso de dizer, porque os "espíritas", por mais conservadores que sejam, não gostam de estarem associados ao conservadorismo ideológico que domina o país. Eles precisam usar como verniz a reputação progressista de Allan Kardec, e tentam, mesmo com uma pauta social digna de bolsonarismo, manter a aceitação de setores das esquerdas.
No entanto, ideias expressas, ideias identificadas. Não há como pensar num sentido conservador e se recusar a admitir esse conservadorismo. Impossível ser progresissta e ter ideias conservadoras, e ficar se desculpando por aí dizendo que as ideias expressas são metafóricas. Isso é falta de firmeza, de coragem e revela um certo oportunismo.
É esse oportunismo que faz com que os "espíritas" tentem camuflar seu conservadorismo, usando frases de dois espíritas autênticos, Kardec e o conceituado tradutor José Herculano Pires, para uma interpretação distorcida das ideias originais.
"HOMEM NOVO" É O ALEXANDRE FROTA?

Mas um aspecto se vê na ilustração da matéria sobre o "Ano Novo que exige um homem novo". O rosto é surpreendentemente idêntico ao do ex-ator e hoje deputado federal pelo PSL paulista, Alexandre Frota, um dos evangélicos que, pelo jeito, se afinam com a pauta conservadora que os "espíritas" herdaram de Chico Xavier.
Frota é um ex-ator da Rede Globo que depois realizou filmes pornô e divulgou o "funk carioca". Mais tarde, tornou-se também um reacionário anti-petista e pregador de ideias ultraconservadoras. Foi um dos divulgadores da Escola Sem Partido, projeto dos evangélicos Miguel Najib e Magno Malta, mas que contém ideias que haviam sido apoiadas e praticadas por Chico Xavier e Divaldo Franco (que, pelo jeito, sinaliza apoio ao projeto).
Pode parecer coincidência, mas não há como não pensar na ilustração do "novo homem" sem pensar no ex-ator que se tornou propagandista do atual momento político, de retomada ultraconservadora. E isso quando o "espiritismo" brasileiro anuncia que estamos "num período de regeneração" e na "condução da Pátria do Evangelho", na data-limite sonhada por Chico Xavier, ele mesmo um adepto de um reacionarismo com apetite bolsonarista, para desespero de muitos progressistas que ainda são complacentes com o "médium". "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" se traduz, no padrão do WhatsApp, em "Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos". Tudo a ver.
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