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Mais um texto ingênuo sobre os eleitores "espíritas" de Jair Bolsonaro


(Autor: Professor Caviar)

O texto abaixo, publicado no site Repórter Nordeste, é de uma ingenuidade igrejista preocupante. O texto lamenta o interesse de "espíritas" em votar em Jair Bolsonaro, como se isso não tivesse a ver.

Quem escreveu o texto está movido de apelos igrejeiros, que mostram apenas emoções agradáveis, se esquecendo da semelhança contundente e certeira do lema de Francisco Cândido Xavier, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", e o de Jair Bolsonaro, "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos".

Esquece o(a) autor(a) do texto que Chico Xavier sempre foi um reacionário e um anti-esquerdista convicto. Muitos fazem pensamento desejoso para minimizar ou tentar (em vão) desmentir seu reacionarismo, mas erram em argumentos movidos por ideias soltas e apelos exageradamente emocionais que não trazem coerência nem fundamento algum. É só ver o programa Pinga Fogo e reconhecer o anti-esquerdismo raivoso do "médium", coisa que choca muitas pessoas que continuam acreditando na imagem "dócil" desse ídolo religioso.

Chico Xavier defendeu muitas pautas naturalmente bolsonaristas: aceitação conformada das desgraças da vida, trabalho opressivo, educação sem debates, submissão da mulher ao lar e à prece. Inventou uma "cidade espiritual", a fictícia Nosso Lar, só como "recompensa" para aqueles que mais aceitarem desgraças na vida.

Além disso, o próprio Chico Xavier teve uma ascensão pessoal semelhante à de Jair Bolsonaro. Chico fez pastiches literários, Jair um plano terrorista, e ambos irritaram a sociedade em seu tempo, mas foram beneficiados pelas conveniências do momento. Daí não ser estranho um devoto de Chico Xavier votar em Jair Bolsonaro. É pela violência? Ora, Chico Xavier acusou as vítimas de um incêndio num circo em Niterói de terem sido "romanos sanguinários" que voltaram para "pagar o que deviam". Culpa-se a vítima usando a lorota dos "reajustes morais", "resgates coletivos" e outros delírios do moralismo punitivista.

O "espiritismo" brasileiro diz defender os direitos humanos, mas se preocupa mais, quando um sofredor acumula desgraças sem controle em sua vida, para a pessoa aceitar sua situação de oprimido, se conformar com um sofrimento que nunca acaba, com a desculpa que, após a morte, terá uma "vida melhor", desperdiçando uma encarnação para tantos flagelos que esmagam a alma. Esquecem que isso é um dos valores DESUMANOS que o "espiritismo" brasileiro, calcado na Teologia do Sofrimento (corrente católica medieval), tanto prega em seus "ensinamentos".

Portanto, o articulista deveria ser menos ingênuo. Como creditar que Chico Xavier, anti-petista de carteirinha, teria seguidores apoiando Fernando Haddad, só porque ele é um professor? Vamos deixar de tanta tolice, porque o "espiritismo" brasileiro possui uma pauta ultraconservadora que é fácil de ser identificada lendo os textos e depoimentos deixados por Chico Xavier. Não há mais como se apoiar na imagem de "fada-madrinha do mundo real" para falar da realidade. Os pais e avós reclamam da idolatria que as meninas crianças têm das princesas da Disney. E eles, em sua idolatria a Chico Xavier, apoiada em semelhantes fantasias?

Pedimos para que se leiam o texto abaixo com muito cuidado, para que não se deixe levar pelas paixões religiosas que perigosamente levaram o articulista a defender uma religião que apoia a "paz sem voz", rejeita o debate público como "tóxico do intelectualismo" e culpabiliza vítimas por supostas sentenças "espíritas" dadas sem o menor fundamento científico. Leiam o texto, mas leiam com o senso crítico:

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Texto aos espíritas eleitores de Bolsonaro

Do Repórter Nordeste

Minha inclinação de escrita neste momento é deveras delicada, pois preciso abordar uma preocupação de caráter legítimo, embora carregada pelo risco de desagradar segmentos aos quais respeito, e exatamente por isso, não poupo a crítica e o chamado à reflexão.

Estou escrevendo para os irmãos e irmãs espíritas, sobre política no ano 2018, no país chamado de Pátria do Mundo e Coração do Evangelho.

A mistura de formação cultural e ideologias classistas, caracteriza o espiritismo brasileiro pela maioria de seus adeptos se encaixar na terminologia “pessoas de bem”, criada para encapsular a elite, tornando-a muitas vezes asséptica; até disposta a praticar caridade, mas avessa à políticas de justiça social.

A insipiente formação política nem sempre é justificativa para a repulsa que muitos demonstram quando as lutas sociais e de minorias, vêm à tona; até insisto em afirmar que um ranço de classe emerge, mesmo quando materialmente falando, o irmão ou irmã pertence apenas à classe média.

A plataforma de valores tem sido mantida em patamares de alienação política e social intensa, quando para a maioria a lei do carma tem servido para justificar desigualdades, injustiças anunciadas e violências evitáveis.

Tudo isso está acontecendo, com um discurso doce sobre amor sendo facilmente espalhado, em tons românticos e infantilizados. Vistos em reuniões que se voltam a assistir e orientar espíritos desencarnados, ao mesmo tempo que os participantes apoiam pena de morte e endossam apartheid étnico e religioso.

Claro que o lado bom também é real!

A lindeza de um aconselhamento psicológico bem intencionado, uma transfusão energética caritativa e entregas de cestas básicas a quem tem fome, são atos grandes em significado. Mas não basta.

Dois acontecimentos neste dia me instigaram ao texto direcionado, envolvendo militantes espíritas aos quais conheço há muito tempo e suas ideias relativamente às eleições presidenciais.

A primeira frase pregava o não envolvimento do espírita com as eleições.

Por qual razão? Já habitam os planos intangíveis? Acaso não são afetados quando a educação e a saúde do país estão com investimentos congelados pelo prazo de vinte anos?

Ou estão esperando o aumento da miséria para fazerem mais sopa e distribuírem mais cestas básicas e lençóis nas ruas, se sentindo melhores que os outros, por poder ajudar materialmente?

Sim, eu me preocupo com o distanciamento da vida social, do mundo real de agora.

A outra frase, trazia adesão ao candidato mais violento que se apresenta no cenário brasileiro, em cujo discurso temas como racismo, misoginia, estupro, homofobia e incitação à violência armada são carros chefes do palanque.

O candidato que homenageia torturador conhecido por colocar ratos nas vaginas das mulheres vitimadas pelo período da ditadura militar em nosso país, e que alardeia pena de morte e porte de armas para todos os “cidadãos de bem”, pode ser o escolhido por um cristão espírita?

Tenho mais do que indignação, tenho asco.

Porque nós espíritas sabemos que a morte do corpo não resolve situações subjetivas dos que se desgarram, e o próprio evangelho nos convoca à mansidão, ao amor feito renúncia, ação educativa e humanitária.

Como pode um cristão espírita declarar voto a um candidato que tem como pauta destruir os “Direitos Humanos” no Brasil?

Será que os irmãos não sabem que o nosso povo é carente de direitos básicos, como comer três vezes ao dia e morar sob um teto seguro? Como podem apoiar alguém que pretende extinguir a última referência de humanidade que ainda é oferecida sem distinção de classe neste país?

Por ora, para conter a emoção que toma meu peito, encerro estas linhas na esperança de que alguns de vocês leiam.

E aviso que antes de orar por mim e pelo meu obsessor, orem por vocês mesmos para que possam se libertar da ignorância obsessiva que assola nosso meio.

Paz e Luz, se possível for.

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