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Chico Xavier foi, sem dúvida, o Olavo de Carvalho de sua época


(Autor: Professor Caviar)

Tomados de paixões religiosas, muitos brasileiros não conseguem perceber os problemas, da mais extrema gravidade, que envolvem Francisco Cândido Xavier. Estamos acostumados com a propaganda "limpinha" em torno da figura do "médium", feita nos últimos 40 anos, que muitos de nós, mesmo os que parecem de certa forma dotados de algum esclarecimento, têm dificuldades para entender e aceitar os pontos negativos da trajetória de Chico Xavier.

Temos que admitir e aceitar a ideia, realista e certeira, que Chico Xavier foi, no seu tempo, um equivalente a Olavo de Carvalho, guru de Jair Bolsonaro, hoje. Chico Xavier era o "guru dos sonhos" da ditadura militar, e muita gente não percebeu, e, volta e meia, vem sempre um esquerdista ingênuo apostando no pretenso pacifismo do "médium", no seu profetismo barato e cheio de erros geológicos e sociológicos - para um "médium" que permitia erros históricos em seus livros, isso faz sentido - , e lhe prestando adoração servil, bem contrário à natureza das forças progressistas.

Evidentemente, há uma grande diferença de contextos entre Chico Xavier e Olavo de Carvalho, este bem menos habilidoso no discurso que o outro. Mesmo assim, os dois se assemelham muito, e de maneira mais surpreendente do que muita gente imagina. O "discurso do ódio" de Olavo de Carvalho não é muito diferente das ideias de Chico Xavier que, embora estivesse associado a ideias dóceis como "paz, amor e humanismo", pregava uma moral punitivista, que vale também como "pedagogia do ódio", com o agravante de ser dissimulada em palavras mais suaves.

Ambos são mistificadores, religiosos formados ideologicamente no Catolicismo medieval - na verdade, o projeto da "Pátria do Evangelho" de Chico Xavier é a repaginação do Catolicismo medieval sob o rótulo de "espiritismo" - , e moralistas extremamente retrógrados. Chico Xavier, aliás, teria apoiado Jair Bolsonaro como candidato à Presidência da República, porque o "médium" era um anti-petista ferrenho.

Além disso, os dois combinavam uma ideologia religiosa medieval a um esoterismo falsamente futurista. Chico Xavier era simpatizante da Ufologia, Olavo de Carvalho nem tanto, mas é especializado em Astrologia. Tudo isso é para dar um tom falsamente futurista de um e de outro, vistos igualmente como pretensos profetas, como supostos gurus, como falsos filósofos, bem à maneira dos sofistas contestados por Sócrates e dos escribas e fariseus condenados por Jesus de Nazaré.

DEFORMAÇÃO CULTURAL PELA DITADURA MILITAR

As esquerdas se enfraqueceram porque até elas mesmas foram afetadas pela deformação cultural promovida pela ditadura militar. Elas acolheram, na música brasileira e nos fenômenos comportamentais, formas associadas a tendências cafonas e bregas, que promoviam o povo pobre de forma caricatural e estereotipada, e caíram na falácia de um "combate ao preconceito" que era na verdade uma campanha para se impor como "legitima expressão das classes populares" tendências e fenômenos que eram preconceituosos às classes populares.

Esse valores da "cultura" brega pregavam a prevalência de baixos valores morais, além da apologia à pobreza e à ignorância populares. Até mendigos embriagados e velhinhos banguelas eram exaltados como "modernidade pop transbrasileira" por intelectuais orgânicos infiltrados em periódicos de esquerda, de forma a enfraquecer, nos movimentos progressistas, a luta por melhorias sociais das classes populares, impondo a eles a aceitação de pautas que seriam mais típicas de departamentos culturais do PSDB, da Rede Globo ou da Folha de São Paulo.

Essa falácia, que deixava as classes populares reféns de sua própria inferioridade social, pois a bregalização lhes fazia portadoras de valores machistas e racistas, sobretudo pela coisificação da mulher e do negro, e desqualificava a imagem das populações suburbanas e rurais que só podiam ser "reconhecida" pelas qualidades negativas que o "sistema" impôs a ela. 

Durante anos a degradação social era vendida, para as esquerdas, através dos "mascates" intelectuais vindos da Globo e Folha e contratados, ingenuamente, pela imprensa esquerdista, como "cultura das periferias", um discurso festivo que superestimou as "causas identitárias", foi tendenciosamente promovido para que ídolos "extremamente populares" abocanhassem verbas da Lei Rouanet (apesar do forte respaldo privado desses ídolos) e submeteu demais as classes populares ao entretenimento popularesco como "cortina de fumaça" para seus problemas sociais.

Mas essa campanha intelectual, que durou praticamente toda a fase do PT na República brasileira, embora abrangendo parte do governo de Fernando Henrique Cardoso e, depois, do governo Michel Temer, deu resultados negativos. A intelectualidade de esquerda foi desacreditada pela opinião pública, que abriu caminho para intelectuais de direita (Olavo de Carvalho incluído), a Lei Rouanet passou a ser alvo de investigação, o Ministério da Cultura foi extinto, depois foi "ressuscitado" sob uma atuação mais débil e, em seguida, extinto. E a maioria dos ídolos popularescos foi apoiar Jair Bolsonaro, inclusive um Zezé di Camargo há muito empurrado para a aceitação esquerdista.

As gerações mais recentes das esquerdas tiveram uma educação cultural ruim na ditadura militar. Absorveram como "naturais" valores trazidos pela Rede Globo e por programas popularescos de Raul Gil e Sílvio Santos, que tinham um viés conservador por trás de seu apelo popularesco extremo. Daí que aceitaram o brega e, no âmbito da religião, aceitam figuras como o reacionário Chico Xavier.

Nessa época a mídia alternativa não tinha vez. Ela era clandestina, de atuação restrita. Além disso, o falso "cheiro de pobre" que fenômenos como o "funk carioca" e Chico Xavier expressavam seduziu as esquerdas, se esquecendo que o "funk" é originário de refugiados cubanos de direita que vivem em Miami e foi introduzido num Rio de Janeiro que se tornava a meca do conservadorismo social, a partir de 1989.

As esquerdas, que restringiam suas pautas específicas a assuntos de ordem econômica e política, concentrados em atuações sindicais, até hoje custam a admitir o reacionarismo de Chico Xavier, que ainda é encarado com surpresa por esquerdistas desavisados. Isso porque mesmo eles foram influenciados por um bombardeio de propaganda trazido pela Rede Globo e por outros veículos e instituições solidários, que anteciparam o "bombardeio de fake news" no WhatsApp que favoreceram a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro e a projeção de Olavo de Carvalho (que ganhou o bordão "Olavo tem razão").

Esquecemos que Chico Xavier foi promovido por um bombardeio de propaganda tendenciosa, baseado no que o jornalista inglês Malcolm Muggeridge, através do documentário de 1969, Algo Bonito Para Deus (Something Beautiful For God), fez para "santificar" a reacionária Madre Teresa de Calcutá. É um roteiro tendencioso e malicioso, mas tão cheio de aspectos agradáveis que as paixões religiosas brasileiras criaram um "reino da fantasia" na qual Chico Xavier aparece, "soberano", por meio de uma imagem idealizada que oculta os aspectos terríveis de sua trajetória.

Tudo isso antecipou o bombardeio de fake news e fez de Chico Xavier um "Olavo de Carvalho" dos tempos da ditadura militar, o "beato dos sonhos" dos generais, usado para fazer "cortina de ferro" da crise do regime ditatorial. Chico Xavier é associado a pautas retrógradas, defendendo valores análogos à "reforma trabalhista" (de Michel Temer e Jair Bolsonaro) e à Escola Sem Partido, era regador de sandices mistificadoras e ultraconservadoras que afrontavam seriamente as lições originais do Espiritismo e mesmo sua figura pitoresca, usando paletós cafonas e peruca e óculos bregas, expunha o caráter ridículo do "médium" que mais deturpou a Doutrina dos Espíritos.

Pior: as "sessões mediúnicas" que supostamente divulgavam cartas de falecidos comuns eram, na verdade, orgias da fé e das paixões religiosas que faziam a festa da imprensa sensacionalista, estimulavam nas famílias sentimentos obsessivos e sensações de ansiedade, trazendo nesses ambientes as piores energias espirituais, agravadas pelo fato de que as "psicografias", sobretudo as de Chico Xavier, eram fraudulentas (fake) e apresentavam indícios de "leitura fria" e problemas até na caligrafia, pois as "mensagens mediúnicas" só tinham a assinatura pessoal do "médium".

Só que o "método Muggeridge" passou um véu nos seguidores e simpatizantes de Chico Xavier e o que prevaleceu foram imagens agradáveis, embora fantasiosas. Chico Xavier tornou-se o único brasileiro pelo qual prevalece as visões e abordagens sonhadoras, que o promovem como "fada-madrinha do mundo real". É como se adultos e idosos tivessem sua versão para as crendices infantis das "princesas da Disney". 

Enquanto as crianças sonham com o "mundo encantado" do Disney World, com castelos imponentes e cerimônias pomposas, adultos e idosos que sonham com Chico Xavier (em outro sentido, uma espécie de "Peter Pan para gente grande") sonham em alcançar mais rápido o Céu, mantendo sua adoração extrema ao "médium", que não obstante sucumbe à cegueira emocional e cognitiva.

Diante disso, a amarga lição que se tem hoje com a adoração cega a Chico Xavier, "inabalável" diante de tantas denúncias realistas e cheias de provas contra ele, é que o Brasil, um dos países mais ignorantes do planeta, é o mais vulnerável à tentação maliciosa das paixões religiosas. Tanto que se conseguiu montar um discurso falacioso em favor de Chico Xavier, um grave deturpador do Espiritismo, tão agradável e sedutor, como as florestas da perdição que começam com relvas floridas e perfumes naturais diversos, que as pessoas não conseguem se desapegar dessa visão fantasiosa que rende as piores cegueiras emotivas.

Imaginemos se algo semelhante fosse feito em prol de Olavo de Carvalho. Será que as esquerdas adorarão ele daqui a 40 anos? Será que pesquisadores universitários o tratarão como "intelectual sério"? Ele também será promovido como "filantropo"? As deformações educativas da ditadura militar permitiram a adoração obsessiva a Chico Xavier. O perigo são as deformações educativas a serem promovidas pelo ministro Ricardo Velez Rodriguez, do governo Jair Bolsonaro, reinventarem Olavo de Carvalho como se reinventou Chico Xavier no fim dos anos 1970.

Como é fácil fabricar "santos" no Brasil. Malcolm Muggeridge deveria ter vivido no Brasil, se soubesse de tamanha facilidade. Mas a Globo comprou sua causa e seu roteiro e o usou para promover Chico Xavier. Com um discurso cheio de mistificações, premiou-se um deturpador do Espiritismo como um pretenso santo que seduz até mesmo esquerdistas e ateus. Como no Brasil as galinhas se deixam seduzirem facilmente pelo focinho das raposas!...

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