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Chico Xavier usou os "mortos" para tornar opiniões pessoais "menos pessoais"

(Autor: Professor Caviar)

Ninguém desconfia da obra sensacionalista de Francisco Cândido Xavier? As pessoas aceitam sem reservas obras muito estranhas que, num país despreparado para entender a mediunidade que o nosso - enquanto até o Velho Mundo estava ainda engatinhando em relação ao tema - , apresentam irregularidades e problemas, muitos deles bem graves, na atribuição de suposta comunicação dos mortos com os vivos.

Pois se Chico Xavier passou a alegar que "falava com os mortos" e, assim do nada, alegou também que "recebia os maiores literatos do além que haviam vivido entre nós", devemos desconfiar, e muito. Mas o Brasil, infelizmente, não tem esse método cartesiano de duvidar das coisas, preferindo aceitar mentiras que viessem coroadas de flores e doces.

Ou seja, a ignorância coletiva foi pega pelo deslumbramento fácil às coisas. Sem que tivéssemos qualquer informação sobre o que realmente é mediunidade, paranormalidade, contato com mortos e vida no além-túmulo,  aceitamos de bom grado qualquer coisa que se apresentasse como tal, desde que contenha alguma propaganda religiosa por trás. "Mentiras de amor", para muitos, não machucam.

E aí vemos uma série de problemas na "mediunidade" de Chico Xavier. E quando se fala em problemas, não é para o pessoal ficar sentado no sofá tranquilo, achando que são probleminhas. Eles não são probleminhas, são problemões, dos mais graves e dos mais preocupantes.

Só o fato de que as "psicografias" sempre fogem, num momento ou em outro, dos aspectos pessoais dos supostos mortos a que se atribui autoria. Caligrafias comparadas com as deixadas em vida, problemas estilísticos, problemas de pontos de vistas pessoais, tudo isso é observado na "incomparável obra" de Chico Xavier, que só é aceita porque, como todo produto traiçoeiro, apresenta fortíssimos apelos emocionais.

Um dado a observar é que as obras "mediúnicas" de Chico Xavier apresentam o ponto de vista pessoal dele, sobretudo no que se diz à apologia do sofrimento humano. E antes que um idiota deslumbrado, desses bem débeis-mentais, perguntar, com aquele deslumbramento piegas, "Quem nunca gostaria de ter o estilo pessoal de Chico Xavier?", devemos avisar a todos, até a esse idiota, que isso é uma coisa NEGATIVA e não positiva.

Primeiro, porque esse recurso revela a malandragem que Chico Xavier usa para pregar seus valores de notável (porém não devidamente reconhecido) ultraconservadorismo. São ideias pessoais do "médium", fundamentadas na Teologia do Sofrimento - isso pode ser confirmado com a comparação com as ideias dos católicos que defendem essa corrente medieval - , e são de um caráter extremamente retrógado, por mais que pareça, no discurso, cheio de "promessas de esperança": se você sofrer calado e aguentar as piores desgraças, você terá mais rápido o caminho para o Céu e, lá, conseguirá os prazeres e os benefícios que a bruta matéria da Terra não lhe faz possuir.

Balelas. Esse papo furado que força as pessoas a sofrerem mais tem como pretexto uma "vida futura" que não sabemos realmente o que é. Nosso Lar, a suposta cidade espiritual, foi concebida sem o menor fundamento científico. A literatura kardeciana dizia que o mundo espiritual existe, mas não há uma teoria plausível que pudesse definir o que ele realmente é. De 1857 para cá, não houve um estudo que apontasse alguma hipótese com um mínimo de probabilidade, e a gente está falando em "probabilidade" e não em "segurança".

Diante disso, o discurso "bonito" de Chico Xavier, pedindo para que nós nos comportássemos como bons meninos diante da avalanche de desgraças que esmagam nossas almas e nos deixam desprotegidos e assustados como animais acuados, é, na verdade, um grande blefe.

Afinal, que "vida futura" nos espera? E se, ao morrermos, vermos apenas um deserto em nossa frente? Qual o nível do choque que teremos, inevitavelmente, quando, ao regressarmos a dita "pátria espiritual", quando percebermos que não há campo de golfe, não há cidades imponentes, nem grandes hospitais que parecem shopping centers, BRTs organizados chamados "aeróbus" nem gatinhos e coelhinhos pulando no bosque?

O que o "médium" Chico Xavier fez contraria, de maneira bastante ofensiva - sim, dizemos ofensiva - a lição kardeciana de que devemos desconfiar do uso de "nomes ilustres" (pessoas famosas que já morreram) em supostas mensagens espirituais, com o objetivo de fazer popularizar, através da provocação ao público, conceitos mistificadores e ideias retrógradas.

Isso significa que os "mortos" de Chico Xavier são invenções da própria mente do "médium" feita para objetivos bastante levianos - vender mais os livros, favorecendo, sob o pretexto da "caridade", as fortunas pessoais dos dirigentes da FEB e o sustento, à maneira da realeza britânica, que não toca em dinheiro, do próprio "médium" - , entre os quais o de tornar as posições individuais do religioso "bem menos pessoais" e dando a falsa impressão de "universalidade".

Com Chico Xavier colocando suas opiniões pessoais em obras creditadas a outros nomes, ele está iludindo a população tentando fazê-la crer que estes pontos de vista são "transcendentais" e opiniões "menos pessoais". As pessoas então se iludem ao verem Castro Alves, Casimiro de Abreu, Humberto de Campos, Auta de Souza, Irma de Castro Rocha, Antero de Quental e outros "pensando" como o "médium" e, diante do deslumbramento fácil, acabam achando que essas opiniões são "divinas".

Esse é o truque que educou mal as pessoas e que pega as pessoas que se dizem progressistas bem desprevenidas. Pois as pessoas progressistas acham que Chico Xavier é como elas, com um pensamento "muito avançado". Grande engano: são essas pessoas que se declaram progressistas é que revelam resíduos de conservadorismo ideológico que são despertos com o proselitismo de Chico Xavier, que faz essas pessoas não só revelarem seus aspectos conservadores ocultos, como são induzidas a manter esses aspectos e, até mesmo, intensificá-los. É a partir daí que os progressistas de primeira viagem voltam para o âmbito do ultraconservadorismo mais convicto.

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