Periódico paulista que apoiou a ditadura militar e forneceu viaturas para transportar presos políticos, a Folha de São Paulo fez uma matéria sobre Espiritismo, a pretexto de lembrar os 150 anos do falecimento do precursor Allan Kardec.
Como é de praxe, a reportagem mistura alhos com bugalhos e tenta blindar a figura de Francisco Cândido Xavier, a "água com açúcar" que a ditadura militar ofereceu para os brasileiros.
Dentro do padrão que os "isentões espíritas" - espécie de "bolsomínions" da Doutrina Espírita - adoram, com aquela "neutralidade de mentira" que considera tanto o Espiritismo original quanto a sua forma deturpada como "válidos", o que nada tem de imparcial, por apostar na falsa imparcialidade de "juntar o joio e o trigo".
A reportagem é tendenciosa e, supostamente, correta, por, em tese, dar igual atenção aos dois lados, seja a estudiosa espírita autêntica Dora Incontri, uma das críticas da deturpação espírita, o "neutro" mas simpatizante de Chico Xavier, o escritor Marcel Souto Maior, e a cúpula da Federação "Espírita" Brasileira, que nem deveria falar sobre Allan Kardec porque a instituição nasceu sob o signo do roustanguismo.
Além disso, além de continuar estabelecendo um vínculo oportunista entre Kardec e Xavier - duas figuras fortemente antagônicas entre si, conforme provam, de maneira contundente, as respectivas bibliografias - , tenta desvincular o "médium" e latifundiário goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, do "espiritismo" brasileiro, apesar de ter recebido as bênçãos de Chico Xavier, de quem o hoje acusado de muitos crimes, como assédio, charlatanismo e porte ilegal de arma, havia sido discípulo.
CARIDADE DE CHICO XAVIER? ONDE, MEU AMIGO?
A matéria da Folha de São Paulo não estabelece o menor questionamento sobre Chico Xavier, que na verdade foi um dos mais vergonhosos deturpadores do Espiritismo e cuja trajetória arrivista antecipou ou permitiu abusos cometidos por seus sucessores. Por exemplo, se Zé Arigó era ganancioso e João de Deus cometia crimes, de alguma forma a licenciosidade de Chico Xavier, que fazia pastiches literários e usava os nomes dos mortos para "concordar" com as opiniões pessoais do "médium" (que são de um conservadorismo doentio).
Chico Xavier foi o primeiro a quebrar a vidraça, fugiu e nunca foi devidamente responsabilizado. Fez o que quis com a memória de Humberto de Campos que este se tornou um escritor injustiçado, enquanto sua obra fake, tida como "espiritual", circula livremente nas livrarias e sebos e ainda é disponível de graça na Internet.
Se há gente que usurpa um morto da moda para produzir mensagem fake, se tem gente prevendo datas precisas para acontecimentos futuros, se tem gente brincando com os amigos para saber quem foi quem numa escala de diversas encarnações passadas e se as pessoas perdem tempo falando em milagres e outras tolices catolicizadas sob a marquize do Espiritismo, foi Chico Xavier que liberou tudo isso, que abriu as portas para os desordeiros doutrinários que hoje se veem por aí.
Mas aí ele contou com um lobby poderosíssimo - uma blindagem de fazer inveja aos caciques do PSDB - e saiu impune em tudo. Foi réu e foi beneficiado pela seletividade da Justiça, bem aos níveis do Sérgio Moro (que Chico Xavier teria tietado com muito entusiasmo). Foi favorecido por uma "queima de arquivo" do sobrinho Amauri, que ameaçou denunciar o tio e a cúpula do "movimento espírita" de Minas Gerais e da FEB no Rio de Janeiro. Foi cúmplice do caso Otília Diogo mas conseguiu sair de fininho pelas portas dos fundos. E ainda assediou os familiares de Humberto de Campos, depois de usurpar a sua memória de maneira bem cafajeste.
Não bastasse esses benefícios que Chico Xavier recebeu e que fariam Aécio Neves (admirador e admirado pelo "médium", que recebeu o tucano no fim da vida) sair babando, fala-se da tal "caridade" que serve de carteirada para os atos abusivos do "médium". A própria "psicografia" é um ato de desonestidade, com fraudes apresentando provas consistentes - como disparidades em estilos, aspectos pessoais e nas caligrafias usadas, em relação ao que os mortos haviam sido em vida - , mas tudo isso é permitido porque o esperto Chico Xavier virou uma grife, em que pese sua trajetória arrivista. Afinal, ele sempre garantiu fortunas para a FEB, como uma "galinha de ovos de ouro".
A "caridade" de Chico Xavier é um mito, mas é tratado como um dogma persistente, pois, embora não haja provas consistentes dessa "caridade" e seus resultados nunca passem de medíocres, sua qualidade sempre foi bastante duvidosa, a considerar os seguintes aspectos:
1) A "caridade" de Chico Xavier sempre foi espetacularizada, nunca passando de um precursor dos quadros farsantes que Luciano Huck realiza no seu Caldeirão do Huck. Uma "caridade" de baixos resultados sociais, com realizações meramente pontuais e duvidosas (dizem que os bens concedidos aos humildes são devolvidos à produção do programa, mediante pequena indenização), que gera mais estardalhaços e mais beneficia o "benfeitor" que os necessitados;
2) Dizem que Chico Xavier consolava as pessoas. Sério? Com aquelas pregações de que os sofredores têm que aguentar suas desgraças sem reclamar da vida, com a jornada de trabalho aumentando, os salários diminuindo e as contas de acumulando e subindo vertiginosamente, quem é que se sentirá consolado trabalhando de 6h às 22h, ganhando R$ 200 aos quais terá que fazer mágica para pagar contas que ultrapassam R$ 2.500? Chico Xavier apenas tinha uma boa conversa, como malandro que era e, por isso, consolava o pior desafortunado, de forma a convencê-lo a ficar feliz até quando vira alvo de chacotas e ameaças de morte nas redes sociais;
3) As "cartas mediúnicas", sabemos por aqui, são um rol de perversidades. As tragédias familiares tinham exposição prolongada, fazendo a festa da imprensa marrom, o que significa que, mesmo com o papo da "vida após a morte" - que o "espiritismo" brasileiro acolhe sem considerar a abordagem científica do tema - , a tragédia humana era glamourizada, para infelicidade das famílias que perdiam seus entes queridos. Além das mensagens psicografakes de Chico Xavier, com indícios de "leitura fria" e pesquisas de fontes impressas, elas exploravam de forma leviana os dramas pessoais, e fazia com que o "médium" se promovesse às custas do sofrimento alheio. Além do mais, as reuniões "mediúnicas" eram verdadeiras orgias da mistificação e das paixões religiosas.
Diante disso, podemos concluir que o texto da Folha de São Paulo é de uma infelicidade enorme. A grande imprensa não consegue sequer trazer um mínimo de informação sobre a deturpação espírita e sobre como a figura traiçoeira de Chico Xavier conseguiu consolidar o roustanguismo que o mineiro sempre professou em toda a sua carreira. A Folha de São Paulo apenas contribuiu para a desinformação generalizada que faz permanecer o círculo vicioso da deturpação do Espiritismo. Lamentável.
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