(Autor: Professor Caviar)
O fruto não cai fora de sua correspondente árvore. Cá para nós, laranja não dá em bananeira, e devemos perceber que, se há dois casos arrivistas, como o de Jair Bolsonaro e do "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, envoltos em inúmeros escândalos, é porque isso faz parte do Brasil em que um arrivista de nome Francisco Cândido Xavier é considerado um "semi-deus".
A tendência dos "isentões espíritas" em apelar para que os "médiuns" sejam reconhecidos "no limite de suas imperfeições" não resolve o problema. Só agrava. A complacência nunca assumida dos erros - os "isentões" adoram reprovar a complacência do erro, desde que cometido por gente fora do seu meio - só serve para permitir que "médiuns" envolvidos em escândalos mantenham a alta reputação mesmo com tais ocorrências.
O Brasil tornou-se um país em que o erro se tornou banalizado e, por isso, muita gente pensa que tudo virou natural. A coisa chegou ao ponto da bagunça, da farra, da permissividade. Se um assassino como Guilherme de Pádua, uma das personalidades mais arrogantes do Brasil - ele mesmo demonstra um semblante de alguém que vive se achando, é só observar o semblante esnobe de seu sorriso, como quando ele se casou recentemente - , virou pregador youtuber, estamos no país do vale-tudo.
E isso se deu porque Chico Xavier tornou-se um pretenso símbolo de pacifismo e sabedoria no Brasil. Estamos acostumados com a propaganda enganosa em torno dele que prevalece há 40 anos e cria duas abordagens igualmente positivas: uma o define como um suposto vidente e profeta e outra, como um pretenso pacifista e filantropo.
A ignorância é tal e, o que é pior, uma ignorância convicta, dessas que as pessoas preferem vencer na vida sendo estúpidas, que faz as pessoas se irritarem com revelações realistas. Num país que o ex-presidente Lula é condenado sem provas - independente de ideologismos, devemos reconhecer que os casos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia são estórias mal contadas - , Chico Xavier, com irregularidades fartas de provas irrefutáveis, é beneficiado pela impunidade.
Sim, as irregularidades de Chico Xavier são fartíssimas de provas. As supostas psicografias revelam mil irregularidades: problemas sérios nos estilos pessoais dos escritores mortos supostamente evocados. Caligrafias em "cartas mediúnicas" totalmente diferentes das que as pessoas mortas deixaram em vida (como em carteiras de identidade). Uso de leitura fria, que é a coleta de informações ocultas a partir de gestos e reações de cada pessoa, também é verificado nas "cartas mediúnicas" que tanto fizeram sucesso e fizeram o Carnaval para a imprensa sensacionalista, a maior beneficiada por esse embuste trazido por Chico Xavier.
Mesmo o reacionarismo de Chico Xavier, trazido por suas próprias palavras num programa de grande audiência, esculhambando movimentos de operários, camponeses e sem-teto, com apetite bolsomínion que fez defender não só a ditadura militar mas o AI-5, as prisões e torturas para combater o "radicalismo" de seus opositores, era bastante explícito.
Apesar disso, esquerdistas tolos, que se consideram "comunistas de carteirinha" e petistas de paixão, vão felizes da vida citar Chico Xavier como seu adorado ídolo, acreditando na sua imagem de suposto pacifista, de suposto filantropo, colocando em seus blogs frases do "médium" sobre as "maravilhas" de suportar calado uma desgraça extrema. Daí que as esquerdas caíram, perderam o protagonismo político, por acolher como "heróis" seus ícones da direita. O "funk", subproduto do Rio de Janeiro reacionário que pariu o fenômeno Jair Bolsonaro, foi outro "cavalo de Troia" que fascinou as esquerdas no Brasil. Ninguém imaginou no "funk" os "pobres de direita" que fingiram apoiar o PT visando as verbas da Lei Rouanet.
ARRIVISTAS
Jair Bolsonaro e João de Deus são "filhos" de Chico Xavier. Se eles cometeram escândalos, é por procedimentos e condições psicológicas que foram permitidas pelo "bom exemplo do médium", que também foi beneficiado pela impunidade, liberado de um processo judicial que lembra o caso da "carta roubada" de Edgar Allan Poe, quando a débil Justiça brasileira não conseguiu encontrar o real problema das "psicografias" que usavam o nome do escritor Humberto de Campos: o caráter farsante de seus textos.
As obras do "espírito Humberto de Campos" eram risivelmente medíocres, apenas imitando, superficialmente, e ainda assim muito mal, o estilo do autor maranhense. Mas a imitação era tão fajuta que, devido à ênfase do tema religioso, a impressão que se tem é que a fonte de imitação não é o escritor brasileiro, mas os evangelistas João, Mateus, Lucas e Marcos.
O suposto Humberto era mais melancólico, pachorrento e monotemático que o original. Na obra "espiritual", só se viam pregações religiosas e moralistas, e mesmo fatos cotidianos eram apenas ganchos para tais pregações. Em nada lembrava a narrativa ágil, descontraída, bem escrita do autor maranhense. A farsa estava óbvia, acessível nos livros "mediúnicos" que, comparados com a obra original, soam caricaturas muito grosseiras e muito mal concebidas.
Mas esse risco foi considerado quando as obras originais de Humberto foram retiradas do catálogo, evitando que as "psicografias" fossem desmascaradas. Mas, enquanto isso, "intelectuais" como Alexandre Caroli Rocha apostam na falácia de que "é impossível haver 2+2=4" porque, para ele, "analisar" as obras do suposto "espírito Humberto de Campos" só é possível através de mecanismos complicados de análise da atividade psicográfica e do contato com os mortos. Pura conversa para boi dormir, porque o próprio "movimento espírita" também se recusa a fazer, de verdade, análises sobre psicografia e comunicação com os mortos, satisfeita com as atividades fake feitas sob tal pretexto.
Isso é apenas uma das inúmeras irregularidades de Chico Xavier, que também não era a meiguice que muitos pensam ser. Ele era ranzinza, temperamental, reacionário e sua "caridade" é tão falsa quanto os quadros assistencialistas do Caldeirão do Huck, considerando que Luciano Huck é explicitamente admirador do "médium", tanto que ele foi um dos primeiros a ver o filme biográfico sobre ele e ainda gravou um dos quadros Lata Velha na cidade de Pedro Leopoldo, que nem mesmo parte dos "espíritas" sabe de sua existência.
Essas irregularidades criaram as condições psicológicas de um Brasil que, com isso, se tornou ao mesmo tempo libertino e moralista, reacionário e subversivo, usando o ato de errar como "carteirada por baixo" (vide a frase clichê "Quem nunca erra?"), e, em vez de ter autocrítica em relação aos erros cometidos, apenas "admite" os erros da boca para fora com o objetivo de evitar sofrer as consequências drásticas desses atos.
É a tática do arrivista, que se ascende aprontando confusão e obtendo visibilidade com atos tão controversos. É se promover às custas das polêmicas fabricadas, conquistar o espaço cobiçado e depois bancar o "certinho", mesmo continuando a errar e se envolvendo em escândalos descobertos por várias denúncias.
Isso ocorreu com Chico Xavier e seus "fakes do bem" com "psicografias" que, melhor observadas, soam ridículas e medíocres. E isso permitiu que pessoas "vencessem na vida" através da trapaça, porque se uma trapaça literária como Parnaso de Além-Túmulo conseguiu ser levada a sério por muita gente, então qualquer erro pode levar o oportunista de plantão ao sucesso pessoal. Criar confusão virou a "receita do sucesso".
Jair Bolsonaro e João de Deus são fruto de uma combinação de valores ultraconservadores e mística religiosa com a libertinagem moral, uma confusa mistura que faz as pessoas acharem que podem errar e até cometer crimes porque nada acontece contra elas ou, se acontecer, basta uma choradeira e a falácia de que a pessoa "cometeu, sim, muitos erros", chegando a exageros do tipo "nós nascemos para errar" para criar esse sentimento de arrogância pelo avesso, pois no Brasil é que cola esse estranho orgulho em "ser o pior".
Assim, vemos Jair Bolsonaro e seus "laranjas", João de Deus e seus assédios e outros crimes - que o "médium" praticava com a certeza de que um "médium", quando erra, é por "culpa exclusiva" do obsessor - , condicionados pelo mesmo inconsciente coletivo que "divinizou" Chico Xavier e que, agora, diante das denúncias contra este, tentam agora renegar a "divinização", apelando para "admirar o 'médium' nos limites de suas imperfeições".
Essa manobra dos "isentões espíritas" tem por objetivo evitar que as denúncias sobre deturpação do Espiitismo e fraudes psicográficas surtam efeitos. E usam a ideia do perdão, da misericórdia, como se isso fosse sinônimo de permissividade. Só que esta postura, em vez de resolver as coisas, só complica ainda mais os problemas em volta do "espiritismo" brasileiro.
Em outras palavras, se uma pessoa "iluminada" como Chico Xavier comete uma série preocupante de erros, então significa que qualquer um pode errar gravemente, cometer gafes e danos, recuar depois de decisões precipitadas, e depois pedir desculpas e "seguir em frente". Ninguém quer sofrer as consequências e usa a falsa autocrítica de "assumir que errou" para evitar perder as vantagens conquistadas. Tudo isso virou uma farra de erros que está destruindo o país. E quando o perdão ser considerado sinônimo de permissividade, só caminharemos para o abismo.
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