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Com falsas psicografias, Chico Xavier pegou carona em casos policiais

(Autor: Professor Caviar)

Em pelo menos três ocorrências policiais, oficialmente se atribui a Francisco Cândido Xavier a suposta solução desses crimes, através de supostas mensagens espirituais.

Citemos três casos, que foram dramatizados pelo programa Linha Direta, da Rede Globo, e que alimentaram o sensacionalismo da mídia, pois sabemos que o jornalismo policialesco foi o único que foi realmente beneficiado pelas "cartas mediúnicas" que Chico Xavier escreveu com maior frequência nos anos 1970 e 1980, pela afinidade de sintonias, envolvendo não só o apelo sensacionalista da figura do "médium", mas também a glamourização da morte, o moralismo retrógrado e as paixões religiosas.

São três casos criminais, os quais Chico Xavier supostamente resolveu:

1) O Henrique Emmanuel Gregoris, que causava preocupação à sua mãe, dona Augustinha, por estar portando um revólver. Ele brincava de roleta russa com os amigos, no dia 10 de fevereiro de 1976, até que João Batista França disparou um tiro acidental que matou o amigo. A investigação policial já dava como homicídio culposo (sem intenção de matar) o crime ocorrido na ocasião.

Mas Chico Xavier, um dia após à sentença pelo juiz Orimar Pontes, que absolveu João França, visitou dona Augustinha e, com uma suposta mensagem mediúnica, a leu para a senhora: "Avise minha mãe para suspender o processo contra João França. Ele é inocente e essa história toda tem prejudicado o meu crescimento espiritual".

Note-se que o caso estava praticamente resolvido e Chico Xavier apenas pegou carona na situação. Foi chover no molhado divulgar essa mensagem, que nada acrescentou ao processo e só reiterou o que já havia sido concluído pelas investigações.

2) Outra história envolveu Maurício Garcez Henrique, que estava em sua casa com o amigo José Divino Nunes que, de brincadeira, pegou o revólver do pai do outro. Ele estava na cozinha, naquele dia 08 de maio de 1978, quando José, ao tentar sintonizar uma emissora de rádio, disparou um tiro acidental nas costas de Maurício que, ao ser levado para o hospital, morreu antes de receber atendimento. José, chorando, disse que nunca desejou matar o amigo e que o disparo foi acidental.

Dona Augustinha, a mãe do rapaz morto em outro caso, entra em contato com os pais de Maurício, Dejanira e José Henrique, que, em estado de choque, foram chamados para ir a um "centro espírita". O caso foi levado, também, ao juiz Orimar Pontes, e as investigações também concluíram pelo tiro acidental, sendo crime de homicídio culposo.

Mais uma vez Chico Xavier pegou carona "tentando resolver" o que já estava resolvido pela Justiça. Divulgando uma suposta carta de Maurício, Chico mais uma vez fez chover no molhado, porque era óbvio que Maurício teria perdoado o amigo. A "psicografia" em nada acrescentou à óbvia situação, sendo uma grande ação oportunista para promover o "médium".

3) A ex-miss Campo Grande, Gleide Maria Dutra, foi morta em 01 de março de 1980 por um disparo acidental do marido João Francisco Marcondes Fernandes, conhecido por "João de Deus". Ele estava ajeitando a calça e tirando o revólver da cintura, quando sem querer atirou contra a esposa, matando-a em seguida.

As investigações, mais complexas, porque poderia se tratar de um caso de feminicídio - crime que então era conhecido como "crime passional" - , apontavam para a hipótese provável a de homicídio culposo, e consta-se que, antes de morrer, Gleide, no hospital, havia dito que o marido era inocente.

Todavia, Chico Xavier pegou carona e, mais uma vez, atraiu para si os familiares das vítimas. Tomado de profunda fascinação obsessiva, João Francisco "sentia" odores de rosas nas reuniões com Chico Xavier, ignorando que funcionários discretamente espalhavam esse perfume pelo ambiente. A "carta mediúnica" sinalizou pela absolvição do acusado, algo que já era sinalizado em investigação criminal.

Chico Xavier se promoveu às custas desses crimes, mandando "mensagens espirituais" que nem de longe acrescentaram de concreto a tais casos, e, além disso, tinham sempre o estilo pessoal do "médium". Os meios jurídicos caíram como patinhos e acreditaram que a "psicografia" de Chico Xavier era "poderosa" a ponto de "resolver crimes" e, procurando cabelo em ovo, usam critérios escalafobéticos para corroborar teses que, mediante argumentos mais simples e diretos, seriam contestadas de imediato.

A única coisa que ocorreu foi que Chico Xavier atraiu seguidores dessa maneira tão leviana, tão oportunista e tão farsante. E isso numa época em que o "médium" era usado para servir de "cortina de fumaça" para as crises sociais da ditadura militar. Dessa maneira, nada como a farsa das "cartas mediúnicas" para distrair e enganar os aflitos diante do cenário político explosivo da época.

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