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Brasil virou a sociedade do medo. Medo de livrar-se dos "entulhos"


(Autor: Professor Caviar)

O Brasil, recentemente, virou a sociedade do medo. E é incrível que o "espiritismo" brasileiro, uma de suas religiões mais influentes - apesar de sua vergonhosa deturpação em relação à doutrina original francesa - , fala em "desapego aos bens materiais" e o que se vê é o contrário, um apego dos mais doentios a qualquer coisa, o que provoca um medo, um pavor muito grande de se livrar dos "entulhos" de toda espécie.

Os brasileiros têm uma sensação estranha. Acham que estão tendo um sentimento nobre quando perdem bens que lhes são necessários e entes queridos que lhes são essenciais, além de aceitar fácil a tragédia humana, quando ela atinge pessoas admiráveis e de valiosa contribuição para nossa sociedade.

Mas quando se trata de ver canastrões culturais - como os terríveis cantores da música "extremamente popular" de nosso país - caírem no ostracismo, é aquela aflição. Quando se abre mão da idolatria de oportunistas religiosos, é aquele choro. Quando se fala que aquele rico feminicida que saiu da cadeia está com câncer aos 50 anos, é aquela raiva. Como jogamos fora a nossa casa para ficar só com o lixo e o entulho!

Quando se fala em desapego, a lógica é que nos desapeguemos ao que NÃO nos é necessário. O desapego tem que envolver o supérfluo, e não o valioso e útil. Essa inversão anda contaminando muita gente boa, desde os moralistas reacionários aos esquerdistas de senso crítico frágil, dos delinquentes àqueles que parecem dotados de alguma lucidez, dos sociopatas juvenis aos idosos com algum saber. 

De uma forma ou de outra, o apego ao supérfluo é uma das doenças que mais atingem o Brasil, e o "espiritismo" brasileiro, que deveria estimular o desapego, é o que mais estimula o apego ao que é doentio. Somos educados a aceitar a perda dos que poderiam nos ajudar em alguma coisa, mas nossos rivais que nos ameaçam, e que, eventualmente, também cometem danos à saúde, não morrem. Chega-se ao ponto do moralismo "espírita" desafiar a natureza, a ponto de nos fazer crer que pessoas ruins que abusam das drogas, do álcool, do cigarro e da má alimentação têm mais chance de sobreviver do que pessoas saudáveis ou semi-saudáveis que realizam grandes prodígios sociais.

O próprio apego doentio a Francisco Cândido Xavier é um grande problema. Nos esquecemos que Chico Xavier arruinou os ensinamentos espíritas originais, sem o menor escrúpulo, e durante toda a vida. Só essa atitude poderia lhe fazê-lo deplorável, sobretudo pelo fato dele considerar como "seu guia" um espírito claramente autoritário que é Emmanuel, lembrando que Allan Kardec nos advertiu que espíritos autoritários são sempre inferiores, grosseiros e de baixíssima evolução moral.

VULGARIZAÇÃO DOS ERROS E "JEITINHO BRASILEIRO"

O apego doentio aos entulhos humanos faz com que o Brasil esteja apegado aos erros humanos. Embora muitos confundam a aparente "consciência" do erro cometido, trazido pelo bordão "Quem nunca errou na vida?", com uma postura autocrítica, o que se vê é que o erro humano nunca foi tão beneficiado por sentimentos de complacência, condescendência e até mesmo apologia.

Hoje se fala até mesmo do "orgulho de ser errado", e novos preconceitos sociais se baseiam no pretexto de ser "gente como a gente", como se ser ridículo, cometer gafes e até crimes fosse sinônimo de "simplicidade social". Evidentemente não é, mas diante do festival de pretensiosismos e dissimulações, nunca a hipocrisia humana, através da vulgarização do erro, esteve tão em alta no Brasil.

Temos mil manobras para manter pessoas que cometem gafes, erros graves e até crimes em seus privilégios sociais. Até homicidas passam a ser "novos entes queridos" por conta de um alpinismo moral que não pode ser confundido com o natural arrependimento dos crimes, porque o alpinismo moral é voltado mais para se livrar das consequências negativas do crime cometido. O alpinismo moral mais parece um escudo para a sordidez humana do que para uma verdadeira regeneração pessoal.

Não podemos perder pessoas sórdidas. Elas não podem sofrer consequências negativas. Pessoas "têm" que errar muito e, mesmo assim, conquistar ou manter as vantagens sociais obtidas, ainda que de forma desonesta ou abusiva. E isso é feito através dos conhecidos artifícios típicos da malícia brasileira, que é o chamado "jeitinho brasileiro".

Junto ao "jeitinho brasileiro", seus derivados são usados para justificar o privilégio dos que cometeram erros abusivos. A "memória curta" visa jogar ao esquecimento esse passado de erros gravíssimos, protegendo o arrivista, que não se arrepende desses erros, apenas os deixou de cometer porque "não precisa deles". O pensamento desejoso tenta relativizar os erros através de fantasias usadas como condescendência a tais atos, em muitos casos "livrando" a culpa de quem é obviamente o responsável por tudo isso.

Temos o "vitimismo" ou "coitadismo", artifícios que fazem com que um privilegiado ou algoz se livrem das consequências negativas de seus erros. Feminicidas que deixam a cadeia passam a posar de "simpáticos tristonhos" na hora de conquistar novas namoradas. Canastrões musicais usam a desculpa do "preconceito" para tentarem ampliar seus mercados e se passarem por "grandes artistas".

No caso de Chico Xavier, o "vitimismo" ou "coitadismo" é usado nas situações em que sua pessoa é alvo de críticas severas. Em vida, ele usou muito isso, dizendo coisas como "não vamos botar querosene no incêndio, deixemos que eles nos ataquem e oremos para Deus". Hoje são seus apoiadores que usam esse recurso que o faz um falso cristo, forjando falsos calvários com cruzes de plástico, atos vitimistas feitos para forçar a comoção pública.

Temos também a "carteirada", que é uma espécie de declaração de arrogância na qual pessoas usam seu prestígio social para se livrar de certos compromissos ou incômodos. A "carteirada" é muito famosa pelo bordão "Vocês sabem com quem estão falando?".

No caso de Chico Xavier, a "carteirada" era muito usada pelos seus seguidores nas redes sociais, furiosos com os questionamentos e contestações acerca de sua trajetória. "Quem é você para falar sobre Chico Xavier?", diziam, com explosões de raiva "inimagináveis" para quem, em tese, se sente protegido pelas "elevadas energias espirituais" atribuídas ao "bondoso médium".

TODA SORDIDEZ SE TORNA "JUSTIFICÁVEL"

Tudo acaba se tornando "justificável" num Brasil que se torna preso em paradigmas de arrivismo - que é a ascensão social por meios desonestos - e mediocridade humana. E isso mostra o quanto a mediocridade atinge níveis doentios, porque se torna um círculo vicioso arrumar desculpas para erros que vão de uma simples canastrice artística ou política, por exemplo, até mesmo a prática do homicídio, que em certos casos são justificados por bandeiras "moralistas" como a "legítima defesa da honra masculina", no caso do feminicídio, e "o direito de propriedade", no caso de pistoleiros que matam ativistas camponeses, seringueiros, missionários etc.

Isso faz o Brasil chegar à situação de verdadeira estupidez governamental que encontramos. E o caminho foi aberto por causa de uma mentalidade condescendente que nos tempos de ignorância social, na década de 1930, permitiram o arrivismo de Chico Xavier, que hoje é o "santo homem" ou o "iluminado imperfeito" que seus apoiadores acreditam, mas que começou como o deplorável oportunista que inventou um trote através do risível Parnaso de Além-Túmulo.

Apresentamos provas diversas de que Parnaso de Além-Túmulo é uma grande farsa, e que só foi levada a sério porque a FEB fez um lobby com o mercado literário e, de tempos em tempos, o mito de Chico Xavier foi moldado até ele receber a blindagem das Organizações Globo, que o fizeram um "filantropo de telenovela", porque as pessoas andam vendo televisão demais, ainda que seja pelo telefone celular.

Os brasileiros se sentem complacentes com a sordidez humana porque veem novelas e filmes de ação em demasia, e acreditam que no capítulo seguinte o vilão da estória será o mocinho da vez. Ou acreditamos que supostos filantropos, "ainda que imperfeitos", possam trazer essa estranha "perfeição da imperfeição" de pessoas elitistas que, pelos seus preconceitos e pretensiosismos, acham que errar muito é ser "gente como a gente", confundindo ser "mais pé no chão" do que cair no lodo movediço da sordidez e suas consequências desfavoráveis, como um feitiço que se vira contra o feiticeiro.

MEDO DE AUTOCRÍTICA E MUDANÇA

Na verdade, há um grande medo de autocrítica, de mudança, de cancelamento de totens, de renúncia de privilégios, e mesmo quando pessoas cedem aqui e ali, não cedem de acordo com méritos e desméritos, mas conforme as conveniências e, ainda assim, porque são obrigadas a fazer pela pressão das circunstâncias.

Daí que muitos seguidores de Chico Xavier agora renegam, pelo menos no discurso, a imagem "divinizada" do "médium". Não podem desmentir as irregularidades comprovadas - com provas fartíssimas contra ele - em sua trajetória, e, por isso, mantém o apego à idolatria a ele, mas dentro daquele novo mantra: "é preciso admirar o médium não como um semi-deus ou salvador da pátria, mas como um homem bom no limite de sua possibilidade de cometer erros na vida".

Só que isso virou um atestado de banalização dos erros, num contexto em que o governo Jair Bolsonaro virou uma bagunça generalizada. E é engraçado que boa parte dos seguidores de Chico Xavier trema de medo com as comparações entre o "médium" e o atual presidente da República, mas os dois não só tiveram uma trajetória arrivista semelhante, se promoveram com obras fake como também compartilham quase todas as ideias ultraconservadoras, excetuando apenas a violência (que Chico Xavier reprovava).

O medo de se livrar da idolatria a Chico Xavier é tão grande que os conselhos do espírito Erasto sobre repelir com severidade a deturpação do Espiritismo foram inteiramente desprezados. Usando o pensamento desejoso e os apelos da pós-verdade, se minimiza a gravidade e a ruína causada pelo próprio Chico Xavier em relação aos ensinamentos da Doutrina Espírita, substituídos, no Brasil, pela transmissão dos valores retrógrados da Teologia do Sofrimento medieval.

E muitos ainda acreditam que se possa recuperar as bases kardecianas acolhendo um deturpador vergonhoso como Chico Xavier. E o medo de "abandonar" Chico Xavier é tanto que textos que o denunciam estão entre os menos lidos na Internet, tamanho é o pavor de muitas pessoas de abrirem mão de suas fantasias.

Sim, Chico Xavier foi uma espécie de Olavo de Carvalho dos anos 1970. É doloroso, mas realista. Afinal, os brasileiros foram mal acostumados por muitos paradigmas ruins, como a bregalização cultural, a mistificação religiosa e mesmo a pintura padronizada nos ônibus de várias cidades brasileiras - que, pela uniformização visual de diferentes empresas de ônibus, causa uma infinidade de problemas aos passageiros - ninguém quer abrir mão de manter.

Mesmo as esquerdas acolheram paradigmas da ditadura militar ou do imaginário cultural direitista, como a própria bregalização, que, sob o pretexto do "combate ao preconceito", na verdade trazia formas preconceituosas de abordagem das classes populares. Foi essa complacência à "cultura brega" ou ao chamado "popular demais" que as esquerdas perderam o protagonismo político, até porque vários de seus ídolos assumiram-se, depois, bolsonaristas.

Não se faz uma verdadeira revisão de valores no Brasil, que se mantém apegado aos seus "entulhos" diversos. Há um grande medo de assumir problemas graves, de se desfazer de fantasias e devaneios diversos, de buscar a lógica dos fatos e permitir que se derrubem paradigmas antes considerados sólidos e inabaláveis, mas foram construídos pela areia frágil do arrivismo e das conveniências sociais. Mas se as pessoas têm até medo de verem morrerem assassinos famosos, então o Brasil se encontra numa situação bastante pavorosa. Convém os brasileiros retirarem esse mofo tóxico que se encontra dentro de suas mentes.

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