(Autor: Professor Caviar)
Ninguém se atenta para o problema do "bombardeio de amor" que existe nas atividades do "espiritismo" brasileiro. No mundo desenvolvido, o "bombardeio de amor" é considerado um problema de extrema gravidade e um meio dos mais traiçoeiros de dominação das pessoas e é visto com muita preocupação por especialistas.
Mas aqui, no Brasil, o "bombardeio de amor", que nunca só tacada transformou em "santos" os pouco (ou, melhor dizendo, nada) confiáveis "médiuns espíritas", é sempre visto como "um sentimento positivo" e o raciocínio tipicamente idiota que prevalece nas redes sociais fala até mesmo em "guerra de amor" e "bombas de amor" para (supostamente) combater o ódio e a discórdia entre "irmãos".
É um discurso emocional, e nós vemos o quanto é aberrante que, no Brasil, prevaleça o discurso emocional, com toda a cegueira e deslumbramento exagerado que isso significa. Há até mesmo uma tendência de que pontos de vista e abordagens absurdas e surreais tenham que prevalecer sobre a realidade objetiva que os contraria. O Brasil virou o paraíso da "pós-verdade", no qual o Contrassenso também tem sua cota de "realidade", como se a irrealidade quisesse prevalecer sobre a realidade lógica das coisas.
No "espiritismo", há, apesar da risível demagogia de seus membros alegarem "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" aos postulados kardecianos originais, toda uma ojeriza ao raciocínio crítico, à investigação, ao questionamento. E, o que é pior, sobre certos absurdos defendidos pela doutrina igrejeira brasileira, os "espíritas" costumam, com certa hipocrisia, dizer que "existem coisas que escapam às percepções materialistas do raciocínio humano". Pura desculpa para defesa de pontos de vista sem um pingo de lógica - como a qualidade inferior dos livros "psicográficos" em relação às obras originais dos autores alegados - e, não raro, feitos ao arrepio dos ensinamentos espíritas originais.
O "bombardeio de amor" transformou o maior deturpador e mais grave manipulador de mentes de toda a História do Brasil, o suposto médium Francisco Cândido Xavier, num pretenso símbolo de caridade, superioridade moral e paranormalidade. Mas o propagandismo emotivo do "bombardeio de amor" se revela uma farsa, porque, se pesquisarmos a fundo a biografia de Chico Xavier, teríamos que admitir que ele nunca foi mais do que um equivalente religioso e antecipado de Aécio Neves.
A trajetória de Chico Xavier nunca foi límpida nem honesta, se valendo por uma série de arrivismos, confusões, corrupção e até apoio a práticas ilícitas, como as fraudes de materialização. Esses aspectos sombrios chocam muita gente, e esse choque se deve porque ele virou um ídolo religioso às custas de uma engenhosa campanha de propaganda religiosa que a FEB realizou em parceria com veículos da mídia hegemônica, primeiro os Diários Associados (em especial a TV Tupi) - se bem que O Cruzeiro às vezes punha em xeque o mito chiquista - , depois as Organizações Globo.
Até a denúncia do apoio midiático choca as pessoas, embora aparentemente os "espíritas" normalmente achem "ótimo" a divulgação do "espiritismo" brasileiro por uma poderosa empresa de Comunicação. Mas, por outro lado, há ingênuos que acham que os "médiuns espíritas", por sua suposta humildade, tenham um suposto brilho que, a seu ver, "está acima de todos os poderes midiáticos existentes na Terra ou, talvez, no universo". Fala sério...
O "bombardeio de amor" no "espiritismo" brasileiro foi tão engenhoso que passou a ser um rodízio de mistura de alhos com bugalhos, um festival de sucessivas incoerências, irregularidades e absurdos que acabou prevalecendo sobre a realidade lógica, causando prejuízos que vão desde o azar contraído por pessoas comuns que fazem os "tratamentos espirituais" nas "casas espíritas" até o desaparecimento dos livros originais de Humberto de Campos no mercado literário brasileiro.
Esses problemas e tantos outros são muito graves, e tiveram origem num mal maior: a traição que os "espíritas" brasileiros fizeram com o legado original do pedagogo Allan Kardec. Essa traição deveria ser vista como gravíssima, mas os "espíritas", no seu cinismo hipócrita, ainda se arrogam em exercer "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" àquele que traem. E como esse problema da traição é deixado para lá, os "espíritas" se animam e se tornam a religião onde todo mundo faz o que quer, sem admitir responsabilidades nem consequências.
Essa é a amarga lição que o "médium" Divaldo Franco deu quando ofereceu a edição paulista do Você e a Paz para homenagear o decadente prefeito de São Paulo, João Dória Jr., e lançar um complexo alimentar condenado por nutricionistas conceituados e pelos ativistas sociais sérios. Divaldo apareceu nas fotos mas saiu de fininho e, por sorte, a sociedade brasileira foi tomada demais de "bombardeio de amor" para ver culpa no "médium" que, como anfitrião, deve ser responsabilizado por toda a confusão da "farinata", mas foi poupado de tudo isso.
O "bombardeio de amor" fez com que as pessoas não percebessem o quanto Divaldo Franco - que em dezembro de 2016 cometeu outra atrocidade, julgando, durante uma entrevista, os humildes refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos colonizadores" em busca da retomada dos tesouros da Terra - cometeu atitudes tão graves que põem sua reputação santificada em xeque-mate, mas estranhamente muitos o absolvem por uma malandragem que a cegueira emotiva permite, numa boa.
Afinal, os "médiuns espíritas" só são responsabilizados quando cometem atos acertados e positivos. Quando são errados e negativos, mesmo com claros indícios de que os "médiuns" decidiram tudo por conta própria e sabiam do que estavam fazendo, eles nunca são oficialmente responsabilizados, e há quem fale até em "ação de espíritos obsessores". Mesmo que haja essa ação, isso não isenta o "médium" de culpa, porque, se ele decidiu errado por alguma coisa, ele deve responder pessoalmente por isso.
E se, no caso da "farinata", ao ser distribuída nas escolas públicas, causasse uma intoxicação alimentar em massa, matando vários alunos? O Você e a Paz e Divaldo Franco, que permitiu que João Dória Jr. lançasse oficialmente o alimento suspeito (hoje descartado), exibindo o logotipo do evento e o crédito do nome do "médium", sob o consentimento deste, mostra muitos aspectos relacionados a vínculo de imagem, algo que existe no mercado publicitário, não é invenção nossa.
Portanto, o "bombardeio de amor", que faz as pessoas terem uma visão atrofiada da realidade e inocentam os "médiuns espíritas" até se eles as traírem, se revela um perigoso processo de dominação mental, escravizando a consciência das pessoas e fazendo-as sentirem um apego dos mais doentios aos ídolos religiosos, a ponto deles serem poupados até mediante sérias traições. Muita gente até hoje não entendeu, por exemplo, o envolvimento de Divaldo Franco com a "farinata", e ainda continuam voando pelas nuvens de mãos dadas com ele, com Chico Xavier e com o que vier de ídolo religioso similar. Quando vier a hora de cair da cama depois de tal sonho, a desilusão será dolorosa.
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