(Autor: Professor Caviar)
Ainda analisando o caso do disparo acidental que José Divino Nunes deu, em 08 de maio de 1976, no amigo Maurício Garcez Henrique, causando sua morte, um jornalista do Diário da Noite, de São Paulo, o repórter policial Orlando Criscuolo, foi tomado de paixão religiosa e de fascinação obsessiva por Francisco Cândido Xavier depois da divulgação de supostas psicografias atribuídas ao jovem morto e reunidas no livro Lealdade, de 1982, organizado por Hércio Marcos Cintra Arantes, hoje editado pela igrejeira IDE.
Ele tentou se fazer de "cético", forjando uma carta com nome e endereço fictícios solicitando a Chico Xavier a indicação de remédios para o tratamento de determinada doença. Supostamente tentando testar se a "mediunidade" era uma mistificação ou não, o repórter depois foi tomado da fascinação obsessiva motivada pelo apelo emotivo e religioso do "médium", seduzido diante do aparente ceticismo.

Reproduzimos então o texto, ao qual se recomenda uma leitura muito cuidadosa, para que o leitor também não seja tomado de tentadoras paixões religiosas e sucumbir à fascinação obsessiva de adorar Chico Xavier, dominado em perigosa comoção emocional. O texto foi publicado em 10 de setembro de 1979.
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DIÁRIO DA NOITE
(São Paulo, SP, 10/9/1979)
CHICO XAVIER SALVOU INOCENTE DA CADEIA
Francisco Cândido Xavier, ou simples e carinhosamente Chico Xavier.
Ao longo dos seus cinquenta e dois anos de atividades, somente duas vezes tive contato com ele. A primeira, e lá se vão muitos anos, foi quando lhe entreguei uma carta com um nome e endereço fictícios para que ele, auxiliado por Emmanuel, seu guia espiritual, respondesse qual ou quais remédios, para o espírito ou para o corpo, que deveriam ser indicados em favor da “pessoa” cuja carta ele segurava entre os dedos de sua mão esquerda. Olhos cerrados, fisionomia serena, apenas seus lábios se movimentavam na boca semi-aberta.
A seu lado, contrastando com o ambiente de respeito que se podia sentir nos músculos de todos os rostos das pessoas que superlotavam a pequena sala onde nos encontrávamos, eu não conseguia dissimular um sorriso maroto que brotava de dentro de mim.
Era o repórter procurando, por meios menos honestos, encontrar um caminho para denunciar publicamente uma farsa ou uma “mistificação grosseira” que já estava sendo aceita por uma incalculável multidão como uma verdade incontestável.
Francisco Cândido Xavier largou lentamente a carta-mentira sobre a mesa, colocou a mão esquerda sobre os olhos sempre cerrados e enquanto os dedos da mão direita se crispavam em torno do lápis, seus lábios pronunciaram uma frase que o lápis ágil se encarregou de marcar no papel.
“Que Deus te perdoe meu filho.”
Todos os olhares, a maioria de espanto, se voltaram para mim. Ele apanhou a “carta-mentira” e colocando-a junto às minhas mãos abertas sobre a mesa, com uma serenidade que só os santos podem ter, disse:
“Para este mal só há um remédio: a verdade.”
Não fui capaz de escrever uma só linha em forma de reportagem sobre este encontro. Pela primeira vez em minha vida eu senti medo.
Muitos anos depois, num dos corredores da TV Tupi de São Paulo, quando Chico Xavier se preparava para uma entrevista no “Pinga-Fogo”, vi quando ele, delicadamente, deixou de conversar com um pequeno grupo de pessoas voltando-se para uma senhora idosa que estava às suas costas, e que ele provavelmente jamais tinha visto, foi até ela e segurou as duas mãos trêmulas da mulher entre as suas, com uma mansidão de santo. Algumas lágrimas rolaram pelas faces da velhinha. Chico Xavier quis falar, mas não pôde. Tive a impressão de que por trás de seus óculos escuros seus olhos também ficaram embaciados por lágrimas. Quando eu quis identificar a velhinha, ela tinha desaparecido do prédio. Um mistério, que de simples tornou-se indecifrável para o repórter.
Santa Izildinha, Antoninho da Rocha Marmo, Donizete Tavares de Lima, o padre de Tambaú, José de Freitas, o Arigó e muitos outros são nomes que figuram em muitas de minhas reportagens e que me recordam grandes e controvertidos acontecimentos. São nomes que fizeram com que milhares de lágrimas fossem derramadas por gratidão, por respeito ou até mesmo por um desejo insatisfeito. Nenhum deles, nunca, arrancou uma só lágrima dos meus olhos.
Nesta última quarta-feira, porém, tive que cerrar fortemente os olhos para que eles não se enchessem de lágrimas, lágrimas de arrependimento por nunca ter tido a coragem de escrever uma só reportagem sobre Chico Xavier. Hoje, ela aqui está. E a escrevo convicto de que o famoso médium espírita de Uberaba é algo mais do que um homem: é quase um Deus.
(Narrando, em sequência: o histórico do acontecimento de Goiânia (com o subtítulo: A morte chegou cedo); a constituição do Processo (O Processo); o recebimento da primeira carta psicografada, transcrevendo-a na íntegra (A Mensagem); o conceituado jornalista Orlando Criscuolo encerrou sua longa e brilhante reportagem, — que preencheu toda uma página do DIÁRIO DA NOITE, ilustrada com fotos do médium e de Maurício, bem como com o confronto das assinaturas do jovem (na Cédula de Identidade e na carta psicografada) — com as seguintes palavras:)
Mensagem absolve o réu
Não se conhece na história do mundo alguém que tenha sido absolvido pela Justiça dos homens tendo como ponto fundamental de sua inocência uma mensagem enviada do Além. É absolutamente inédito um acontecimento desta ordem, mas ele aconteceu.
No dia 16 de julho último, três anos após a morte de Maurício, o Juiz de Direito Orimar de Bastos, titular da 6ª Vara Criminal de Goiânia, absolveu José Divino. E pela primeira vez, em toda a história jurídica do mundo, um Juiz de Direito apoia sua decisão em uma mensagem vinda do Além, muito além da imaginação de qualquer ser vivo.
Na sentença de absolvição, aquele Magistrado diz textualmente: “Temos que dar credibilidade à mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, anexada aos autos, onde a vítima relata o fato e isenta de culpa o acusado, discorrendo sobre as brincadeiras com o revólver e o disparo da arma. Coaduna este relato com as declarações prestadas por José Divino, quando do seu interrogatório”.
E a sentença do Juiz foi marcada por um fato que, para mim, só Deus pode explicar: a assinatura de Maurício na mensagem psicografada por Chico Xavier é idêntica à assinatura que, em vida, ele deixou em sua Carteira de Identidade.
Chorem, comigo, a incompreensão desse fantástico fenômeno que se chama Chico Xavier.
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