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Muito difícil haver as chamadas "falanges" de espíritos artistas

(Autor: Professor Caviar)

Há um mito de que grupos de espíritos artistas, mesmo de diferentes procedências e épocas, se reúnem como se fossem um time e participem de supostos eventos artísticos, envolvendo artes plásticas, ou enviem obras que compõem antologias poéticas, prosadoras ou musicais.

Esse mito se deu pela má interpretação do que ocorreu com a obra de Allan Kardec. Consta-se que espíritos diversos teriam enviado mensagens sob a coordenação do Espírito de Verdade para difundir mensagens que foram aproveitadas em obras como O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e Evangelho Segundo o Espiritismo.

No entanto, esses autores não se reuniram num clubinho e prepararam mensagens para Allan Kardec publicar como se fosse editor de um periódico estudantil. Segundo sua biografia, o que ocorreu na verdade foi uma seleção de uma enxurrada de mensagens aparentemente psicográficas que Kardec recebeu de outros médiuns - lembrando a todos que o verdadeiro médium, como mostravam aqueles tempos, eram e deveriam ser quase anônimos, tinham papel meramente intermediário e não o papel espetacularizado que os ditos médiuns brasileiros possuem, com direito ao culto à personalidade.

Kardec selecionou as mensagens, reprovando uma considerável maioria, dentro dos critérios do Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos, porque as mensagens simplesmente não indicavam qualquer possibilidade de autenticidade pelos conteúdos apresentados. Poucas foram as que constituíram grande probabilidade de serem verdadeiras, por não apresentarem aspectos comprometedores em relação aos autores mortos alegados.

Em muitos casos, até se surpreende, por exemplo, com as mensagens do espírito Erasto, discípulo de Paulo de Tarso - conhecido pelos católicos como São Paulo - , que fazem alertas contundentes sobre a deturpação que atingiria o Espiritismo e que ameaçaria o legado de Allan Kardec.

PARNASO DE ALÉM-TÚMULO E PINTURAS

Exemplos dessa pretensa atribuição de "plêiades espirituais" - como os "espíritas" tanto falam - se tratam da antologia poética Parnaso de Além-Túmulo, lançada pelo suposto médium mineiro Francisco Cândido Xavier em 1932, e as pinturas "mediúnicas" do suposto médium baiano José Medrado.

No primeiro caso, Chico Xavier alegou que diversos autores espirituais enviaram para ele uma série de poemas e algumas prosas para publicação. No entanto, a obra mostra claras e grosseiras irregularidades estilísticas, e outro dado estranho é que o livro, considerado "obra acabada da espiritualidade superior", sofreu reparos editoriais cinco vezes, com poemas alterados e inclusões e exclusões de poemas movidos por muitas polêmicas. Alceu Amoroso Lima revelou que a obra foi uma farsa montada por Chico e a equipe editorial da FEB.

No segundo caso, há a alegação de que diversos pintores, supostamente comandados por Pierre-Auguste Reonir, estariam se reunindo para um processo de "pintura mediúnica" por parte de José Medrado. As irregularidades estilísticas também são claras. As assinaturas possuem o mesmo estilo caligráfico e pessoal de José Medrado.

É praticamente impossível reunir tantos e tão diferentes pintores, de tão diferentes épocas e lugares distantes. A lógica da realidade mostra essa dificuldade. Imaginemos, por exemplo, a reunião de ex-colegas de uma escola, depois de 30 anos estudando juntos. Qualquer pessoa pode constatar essa impossibilidade de haver "falanges" e "plêiades" de artistas espirituais distantes entre si no tempo e no espaço.

Vejamos. Uma turma de 40 alunos de determinada época decide se reunir 30 anos depois para um reencontro de confraternização. Virão todos os 40 estudantes? Impossível. Uns se casaram ou passaram a morar bem longe do local da escola. Em certos casos, uns poucos já morreram. Se a turma conseguir reunir metade da turma, já é muito, e o mais provável é que o número não passe de 15 pessoas. Quanto mais distante a época - digamos que a confraternização seja 40 anos e não 30 - , essa tendência diminui.

Como é que vamos acreditar na facilidade extrema de reunir não uma turma de pintores ou poetas - ou, em outros casos, compositores - , que não estiveram juntos numa mesma época nem em um mesmo lugar, mas em tempos e lugares diferentes e distantes entre si, para um evento de suposta pintura mediúnica no Brasil?

Isso não procede e verdadeiros absurdos acontecem como a alegação de que Vincent Van Gogh, pintor holandês, cuja personalidade difícil não permite que faça parte desse aparente clubinho de pintores. Ainda mais se esse clubinho vem da imaginação de cada "médium". Além de José Medrado, Giovanni d'Andrea também "atraiu" os mesmos "espíritos" que supostamente serviram o "médium" baiano. Mais facilidade, que a lógica e o bom senso desmentem com toda segurança.

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