(Autor: Professor Caviar)
Quando se fala que o "espiritismo" brasileiro, por sua natureza deturpada e seu conteúdo medieval, traz azar, muitos não gostam e acham um tremendo absurdo. Mas isso ocorre, sim, porque uma religião deturpada, que comete traições doutrinárias ao precursor Allan Kardec, só consegue trazer más energias.
A Mocidade Independente de Padre Miguel, que no passado teve como presidente de honra o bicheiro Castor de Andrade, decidiu fazer um samba-enredo intitulado "Namastê... A Estrela Que Habita em Mim Saúda a Que Existe em Você", aparentemente ecumênico e pacifista.
O enredo, que evoca várias crenças e fala em paz, cita duas personalidades duvidosas da religião: Madre Teresa de Calcutá e Francisco Cândido Xavier, através de seu apelido conhecido, Chico Xavier. As duas personalidades foram notórias defensoras da ultraconservadora Teologia do Sofrimento, que faz apologia à desgraça humana sob o pretexto de obter benefícios póstumos no "Céu".
Outra coisa contraditória é citar Chico Xavier ao lado de Dom Hélder Câmara. Este líder católico pode ter sido conservador, mas, depois, tornou-se progressista e humanista, tendo sido um dos ilustres religiosos comprometidos com a causa da redemocratização do país. Já Chico Xavier, não, tendo sido sempre um ultraconservador, um reacionário, que defendeu a ditadura militar até o fim, apoiou Fernando Collor contra Lula em 1989 e, se vivo fosse, teria apoiado políticos como Aécio Neves, Michel Temer e Luciano Huck.
O enredo é, portanto, bastante confuso, como veremos abaixo. No primeiro verso, fala na desobediência civil, a insubordinação política defendida por Mahatma Gandhi, algo que vai contra o que defende Chico Xavier. Sabe-se que Chico Xavier defende justamente o contrário, o máximo de subordinação a quem quer que seja, mesmo o algoz que comete abusos. "Não reclames, aceite e ore, tenha fé que tudo passa", é a síntese do receituário do "médium" mineiro, que poucos se lembram ser uma figura bastante conservadora a ponto de defender a ditadura militar.
Pois a inclusão de Chico Xavier no samba-enredo trouxe um preço. O desfile da Mocidade foi desastroso e cheio de problemas, deixando a agremiação carnavalesca longe de ser uma das favoritas para ganhar o Carnaval 2018. Mas o pior, mesmo, ocorreu nos bastidores.
A Mocidade Independente não gostou da "desobediência civil" que o Afoxé Filhos de Gandhi - filial carioca do grupo surgido em Salvador - em vender as fantasias sem a autorização da escola de samba. Os Filhos de Gandhi fizeram uma lavagem na escola, na quarta-feira anterior ao Carnaval, e se sentiram desrespeitados com a postura da escola, que decidiu banir o grupo de desfilar na Marquês de Sapucaí, usando como desculpa o "custo de haver uma ala carnavalesca a mais no desfile da escola". Os Filhos de Gandhi estão pensando em processar a Mocidade por danos morais, além do prejuízo financeiro de R$ 10 mil.
Diante dessas "boas energias" trazidas por Chico Xavier, o "médium" que, em vida, trazia má influência até para seus devotos - que, subitamente, perdiam seus filhos em tragédias surgidas do nada - e era um "Aécio Neves" da religião - Chico podia aprontar das suas que ninguém mexia nele, criando precedente na blindagem aos "médiuns espíritas", mais beneficiados que os tucanos - , vamos mostrar a letra do enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel.
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Namastê... A Estrela Que Habita em Mim Saúda a Que Existe em Você
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel (RJ)
Autoria: Altahy Veloso / Denilson Do Rosário / Paulo César Feital
Kamadhenu derrama leite em nosso terreiro
Ganesha tem licença do Cruzeiro
Desemboca o ganges cá no Rio de Janeiro
Os filhos de Gandhi hoje são brasileiros
Brahma foi quem guiou velas de Portugal
E trouxe a Índia aos Gantois da mãe querida
Padre Miguel chamou Shiva pro carnaval
E Namastê pra todo povo da avenida
Hora de se benzer, hora de ir ao mar
Do sal à doce liberdade
Há tempo ainda!
Desobedecer pra pacificar
Como um dia fez a Índia!
Theresa de Calcutá
Ó Santa Senhora, ó madre de luz
Venha para iluminar
Esse povo de Vera Cruz
Clama o meu país
À Flor de Lótus símbolo da paz
E a vitória régia da mesma raiz
Pela tolerância entre os desiguais
Nesse Holi
Eis o triunfo do bem e da fé
Nerhu, Dom Hélder, Chico Xavier
Olhem pra Índia e pro Brasil! ôô
Bendita seja a Santíssima Trindade!
Em Nova Délhi ou no céu tupiniquim
Ronca na pele do tambor da eternidade
O amor da Mocidade sem início, meio e fim!
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