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Feminicidas são os únicos tipos de pessoas que "quase nunca morrem"


(Autor: Senhor dos Anéis)

Todo tipo de pessoa e de ser vivo tem um prazo de vida. Cumprido este prazo, existe a morte. Na humanidade, isso não é exceção à regra e isso faz parte das leis da Natureza.

No entanto, a julgar nesses tempos de moralismo doentio, permissividades e autoritarismos tresloucados e outras insanidades mentais - como a revolta de bolsonaristas contra a recomendação médica do isolamento social como prevenção contra o coronavírus - , um tipo de pessoa parece ser simbolicamente poupado da morte, ou ao menos ter um prazo limitado para morrer.

São os feminicidas. Esses homens que matam não apenas suas companheiras, esposas, noivas ou namoradas, mas às vezes colegas de trabalho e vizinhas por quem sentiam uma "paixão platônica" que nunca é correspondida. São dotados de ciúme doentio e uma fúria que os impele à crueldade de matar suas vítimas sem oferecer chance de defesa, no caso de maridos que cercam suas esposas nos quartos de casal para a execução do crime que, felizmente, é considerado hediondo.

Embora a sociedade manifeste repúdio ao feminicídio, há uma tolerância social surreal a esse crime e a esses criminosos, que, durante muito tempo, tiveram não só a impunidade como benefício como também a ressocialização que, nos moldes do "alpinismo social" (reintegração social de criminosos que não traz ensinamentos morais e só recupera privilégios e anestesia o orgulho), já fez muito feminicida levar a melhor em novas conquistas amorosas, mais do que muitos homens de caráter considerado realmente bom e inofensivo.

Os feminicídios ocorrem por decorrência da masculinidade tóxica. Em boa parte, são motivados pelo álcool e pelas drogas. Muitos feminicidas são fumantes, alcoólatras e toxicômanos e não são lá o bom exemplo de motoristas de seus carros. Masculinidade tóxica é todo tipo de comportamento que o machista expressa que traz danos à sua saúde física, e ela atinge até mesmo machistas que são considerados "saudáveis", pois a irritabilidade constante é suficiente para causar doenças.

Só que existe um aspecto digno dessas tragicomédias surreais do cinema. Você vê a imprensa e as notícias sobre o falecimento de algum antigo feminicida - definindo como "antigo" aquele cujo crime já ocorreu há um tempo passado - são simplesmente nulas.

A impressão é que os feminicidas têm um prazo para "morrer", mais ou menos até duas semanas após a ocorrência do crime. Depois, o feminicida passa a gozar de uma "imortalidade" que nem a masculinidade tóxica mais extrema consegue derrubar, ganhando uma "eternidade" que faz sentido numa sociedade considerada patriarcalista e machista como o Brasil, tão machista que só permite o feminismo quando a mulher escolhe entre o macho (um marido poderoso) e o machismo (ser liberada para viver solteira desde que faça o papel machista da mulher-objeto).

Na Internet, começa-se a discutir por que quatro feminicidas famosos, já na casa dos 80 anos de idade, não têm noticiadas sequer suas situações de fim de vida, de enfrentar doenças graves que, quando muito, são relatadas como "males pequenos", como "gripezinhas", só para fazer o trocadilho com o desprezo inicial dos bolsonaristas ao coronavírus, substituído pela utopia milagrosa da cloroquina.

São eles: Roberto Lobato, empresário da construção pesada de Minas Gerais que matou a esposa, Jô, em 1970, Doca Street, ex-playboy e também empresário, que matou a "pantera de Minas Gerais", Ângela Diniz, na véspera do Reveillon de 1976-1977, Lindomar Castilho, cantor brega que matou, em 1981, Eliane de Grammont, e Pimenta Neves, que matou a colega e ex-namorada Sandra Gomide, em agosto de 2000.

Pelas leis da Natureza, todos eles seriam considerados no fim da vida, mas não há uma matéria na imprensa alertando essa realidade. Eles, aliás, estão numa faixa etária em que poderiam, todos os quatro, estarem hoje mortos. Em vez disso, eles estão "oficialmente vivos" e aparentemente "saudáveis" ou com "pequenas doenças de velhice", mas sem algum risco de morrerem a qualquer momento, o que seria mais lógico.

Doca Street levou a masculinidade tóxica às últimas consequências. Fumou os mesmos cigarros que um sem-número de famosos que morreu e continua morrendo, com idade inferior aos 85 anos que o ex-playboy de São Paulo, e que como ele estavam em evidência nos anos 1970. Doca também se embriagou e consumiu cocaína até o seu auge (dizem que ele matou Ângela sob o efeito da cocaína), tendo um risco potencial de morrer na casa dos 50, 60 anos de idade.

Aparentemente, ele sobreviveu e parecia "saudável" nas entrevistas para divulgar seu livro Mea Culpa, escrito por ele e um ghost writer entre 1985 e 2006. Por uma gafe estranha para a imprensa profissional (mas compreensível em época de fake news que às vezes a própria grande mídia pratica), O Globo afirmou que Doca "estava bastante ativo nas redes sociais", o que é um grande absurdo, por ele estar "amargurado com a sociedade" e por não ter, aos 81 anos (na época da matéria, 2015), forças físicas nem psicológicas para enfrentar haters nas redes sociais.

Doca Street já havia movido advogados para barrar o filme Quem Ama Não Mata, de Roberto Farias (hoje já falecido), que estava em pré-produção (com Alexandre Borges no papel do ex-playboy). Há indícios de que ele não podia se incomodar com qualquer coisa, para evitar problemas de saúde. O empresário tentou doar um rim para um sobrinho, que não resistiu e morreu. 

Doca, no seu livro, citou que sofreu uma "pneumonia no pulmão esquerdo", que respondeu, laconicamente, ter sido "curada". Pode ser indício de um câncer e não uma pneumonia. Com estranha ênfase, ele citou, nas entrevistas de 2006, que "sofria de pequena dislexia", o que pode ser um eufemismo para Mal de Alzheimer. Sinceramente, machistas não gostam de expor suas fraquezas, ainda mais da "velha escola" de um nascido de 1934.

Com idade avançada demais para ter 85 anos em 2019, várias pessoas, fora das discussões aparentes na Internet, já desconfiam de que Doca Street já está falecido, entre 2017 e 2019. A suposição, com fundamento lógico apesar da falta de fatos, toma como base o fato de que ele fumou muito (em 2006 manteve o uso de cigarro comum) e isso causou aflição entre amigos que temiam por sua vida já em janeiro de 1977, como confirma a revista Manchete, na época.

Todavia, não há rumores circulando na imprensa. E, aparentemente, muitos acreditam na "certeza" de Doca continuar "vivo" em 2025, quando começarão as coberturas de lembrança da morte de Ângela Diniz, a completar 50 anos em 2026. Numa sociedade cheia de terraplanismos, muitos acham que se pode fumar demais e viver longamente. Olavo de Carvalho acredita que "fumar faz bem à saúde". Quase morreu de insuficiência respiratória.

É tanta omissão quanto à tragédia de feminicidas - que colocaria, até mesmo, feminicidas não tão velhos como o promotor Igor Ferreira e o detetive Reinaldo Pacífico na mesma condição de risco que matou o ator português Filipe Duarte, de Amor de Mãe, com apenas 46 anos, por infarto - , que, de maneira risível, o ex-jornalista Pimenta Neves é noticiado, desde 2011, como "tendo grandes chances de contrair câncer na próstata", esperando nove anos para essa "chance" se concretizar, com ele aos 83 anos de idade. Com menos idades, Frank Zappa e Milton Santos já haviam morrido da doença.

E por que não se divulga as tragédias dos feminicidas, quando nossa imprensa noticia mortes de anônimos pracinhas em alistamento militar e jogadores de futebol de várzea por sofrerem males súbitos? Será que há o interesse empresarial, representado por nossa mídia corporativa, de evitar expor as mortes de feminicidas, para não desencorajar novas práticas? Será o feminicídio a principal pauta da agenda necropolítica vigente no Brasil, secretamente, desde a ditadura militar?

Ou será a tal utopia da "ressocialização", que, dentro dos limites do "alpinismo social", mais contribui para o criminoso recuperar privilégios do que aprender as duras lições de seu crime? As pessoas tanto se incomodam quando se fala das tragédias que os feminicidas contraem para si, e, com um moralismo doentio, apelam para deixá-los "viver em paz". 

Certo. Mas e as famílias das mulheres assassinadas? E os traumas dos parentes e amigos, que para os moralistas de plantão são sinônimos de nada? Será que a vida das mulheres assassinadas não tem valor, que suas tragédias, sim, valem as lágrimas de crocodilo de uma sociedade moralista que condena o feminicídio mas passa pano para os feminicidas, "jagunços" de valores retrógrados ligados à Família e ao Casamento?

Não seria, por outro lado, a "ressocialização" dos feminicidas uma desculpa para um apego doentio a condições sociais simbólicas - como o sobrenome ilustre, a riqueza financeira, o prestígio na alta sociedade e a boa aparência - , únicas coisas que se destroem com a morte de um feminicida que, na encarnação posterior, terá a chance de recomeçar pelo zero, sem carregar o fardo de uma vida manchada pelo sangue alheio?

A liberdade de imprensa teve esse retrocesso de não noticiar mortes ou doenças graves de feminicidas. Com tanta facilidade com que a imprensa divulga mortes de profissionais de jornalismo que ninguém jamais ouviu falar, é patético dizer que Pimenta Neves ainda "aguarda" há nove anos ser atingido por um câncer na próstata, apesar de sua idade elevada que sugeriria até a morte por tal doença.

A sociedade moralista adulta, com esse medo de ver feminicidas morrerem, transfere neuroses infantis para o contexto da "maturidade". Adultos têm mais medo de verem feminicidas mortos e de "médiuns espíritas" serem desmascarados. O caso de João de Deus serve apenas como "boi de piranha" para permitir que outros farsantes atuem impunemente ou não sejam postumamente desmascarados (como Chico Xavier).

E isso quando as crianças aprenderam a aceitar a morte, em casos de outras crianças morrendo de doenças graves e raras, e quando elas também aceitam a ideia de que Papai Noel é ficção e coelhinhos da Páscoa não são animais ovíparos. Perder para a criançada na superação de certas neuroses faz a gente grande passar uma vergonha gigantesca.

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