(Autor: Professor Caviar)
Aos pais que cobram seus filhos a arrumar emprego: "médiuns" viviam e vivem na moleza, que se não é nababesca na aparência, é nababesca na maneira com que se encaram os benefícios supostamente modestos dos quais usufruem esses oportunistas religiosos.
Você é daqueles pais de família, digamos, religiosos - vamos exemplificar que segue o "espiritismo" brasileiro - que cobram demais para um filho arrumar um emprego, dizendo para ele "meter a cara", "dar murro em ponta de faca" e até abrir mão de vocações e da individualidade, arrumando qualquer coisa, até trabalhar como burro de carga (literalmente falando)?
Além de você cometer equívocos como nunca cobrar dos empregadores a concessão de emprego para o filho, de não reclamar quando o supervisor de recursos humanos recusa um candidato por frescuras do tipo "esse cara lembra aquele f**** da **** que roubou minha namorada na adolescência", nunca declaradas abertamente, você ignora uma coisa: os "médiuns" espíritas, que lhe são tão adorados e amáveis, viveram e vivem na moleza.
Um pai de família desse tipo fica irritado quando seu filho se ocupa demais com um blog, mas não fica irritado quando um oportunista religioso finge que colocou no papel uma mensagem que jura ser de algum grande autor morto. O pai de família e, geralmente, um "moralista de sofá" (desses que cobram demais de quem não pode), fica maravilhado ao acreditar dizendo "olha, aquele escritor que morreu faz tempo voltou, e trouxe mensagens de conforto para todos nós". Mal sabe a ingenuidade que está tendo.
Ele esquece que Allan Kardec, que também considera seu mestre sem perceber suas ideias e restrições - Kardec é bem duro com o tipo de pessoa no qual se enquadram os "queridos médiuns" brasileiros - , rejeitaria o uso de nomes ilustres para pretensas psicografias. O pedagogo lionês, de forma bem explícita, alerta que tal uso é, na maioria das vezes, um truque para causar impressão na multidão e promover a mistificação através de um deslumbramento irresponsável.
Fácil ser moralista e falar grosso e alto para quem está embaixo. Fácil ser tigrão com os mais jovens e tchutchuca com os "médiuns", ainda que estes falem com a voz macia, tipo Divaldo Franco, ou desengonçada, como Francisco Cândido Xavier, o popular Chico Xavier, duas pessoas marcadas por uma "carteirada religiosa" que faz os mais duros moralistas ficarem moles diante deles, quando era para ser o contrário.
A memória curta dos brasileiros - agora surtando em múltiplas convulsões sociais - imagina que Divaldo Franco e Chico Xavier fizeram o mesmo trabalho peregrino de Jesus Cristo, não viajaram em carros de luxo, renunciaram e abominaram todo tipo de riqueza e sempre viveram na mais absoluta simplicidade. Ah, quanto engano! Mal sabe o quanto o verniz de simplicidade pode esconder porões de muita soberba e gananciosa ambição!
Os "médiuns" viveram e vivem na moleza. O suposto voto de pobreza é apenas um mal-entendido. Eles apenas se recusaram a tocar em dinheiro, coisa que a Rainha da Inglaterra também faz. Outras pessoas pagam por eles, fazem as contas e atendem aos pedidos e, se observarmos bem, os pedidos dos "médiuns" pareciam simples, mas tinham sua extravagância, como por exemplo Chico Xavier pedir um altar para adorar imagens de santos (!). E logo um sujeito conhecido por um suposto espiritualismo!
As pessoas são tolas. Não há como comparar viajar em bons aviões para lugares distantes com o caminho andarilho, sob o sol escaldante, de Jesus, suado e faminto, muitas vezes sem um lugar próximo para fazer suas refeições, tendo que segurar sua sede por um tempo até chegar a um local onde lhe pudessem oferecer água potável. Diferente de "médiuns" que iam de avião, de ônibus ou de carona em automóveis e paravam em restaurantes para comer do bom e do melhor.
Divaldo Franco viajava para a Europa e EUA, para se pavonear com sua verborragia e sua teatralidade, que já rendeu um puxão de orelha de José Herculano Pires (com o dado lamentável de que este passou pano em Chico Xavier, que fazia a mesma coisa, apesar do medo de avião).
Coitados dos pobrezinhos que vivem na Mansão do Caminho, aos quais havia a dificuldade sequer para passear para o Pelourinho e para a Liberdade, ou conhecer o Farol da Barra e a Lagoa do Abaeté e comer um simples peixe frito num restaurante em Itapuã, enquanto Divaldo Franco, que durante anos ficava quase sempre ausente, ia para Paris e Roma, para Londres e Barcelona, Lisboa e Madrid, e até para países como Bélgica e Suíça, bajulando Kardec como Rolando Lero bajulando o Professor Raimundo e comendo da mais típica culinária desses países.
Mal sabe o pai de família, que cobra por que o filho não conseguiu aquele emprego modesto que apareceu num anúncio de jornal ou veio de uma dica de um vizinho ou colega de trabalho do pai, o quanto os "médiuns" vivem na moleza, fazendo turismo pelo planeta para divulgar ideias mistificadoras, que fazem Allan Kardec fechar os olhos de tanta vergonha, por serem mentiras e cretinices travestidas de "mensagens cristãs" e "apelos para a paz e fraternidade".
Fácil não cobrar de quem tem status. Sejam os políticos que já são ricos empresários e ainda ganham mais por conta do nababesco salário parlamentar. Sejam os machistas ricos e bonitões que matam suas mulheres, evitam ficar a vida toda na cadeia e ainda arrumam namoradas ainda melhores, atraentes e inteligentes (talvez nem tanto a ponto de evitar se casar com esses crápulas). Todos eles fazem pior do que o filho que "só se diverte no computador", mas garantem o sono do pai que acha que "esses casos não mexem com a vida dele".
Além disso, a adoração aos "médiuns", com o pai se apressando em ouvir a "mensagem de paz" de Divaldo Franco, que engana com seu tom de fala mansa, ele que fez pior do que o filho que "não luta na vida", põe o patriarca em contradição.
Isso porque os "médiuns" vivem do bom e do melhor, têm até os melhores advogados - que as federações "espíritas", seja a FEB, sejam as regionais, pagam para eles - a lhe livrar de qualquer cilada, inclusive abafando episódios em que se provam fraudes "mediúnicas", e ainda viajam com parte do "dinheiro da caridade", sob a desculpa de "irem ao Velho Mundo para espalhar as boas novas do Cristo".
O pai fica furioso quando seu salário serve para pagar as despesas do filho, que lhe pede até o skate para poder disputar manobras radicais com os amigos. "Pai, tem o show daquela banda punk de Los Angeles que vai se apresentar num festival de skate de Santo André, dá para eu ir?", diz o filho, e o pai, furioso, diz; "Você fica o tempo todo sem arrumar emprego, só brincando com esse computador, e o meu dinheiro só acaba".
Mas é o mesmo pai que doa generosas quantias ao "centro espírita" e gasta dinheiro com o novo livro do "médium", ou a reedição de um livro de Chico Xavier. Tem carnezinho em "centro espírita", pagando até mesmo R$ 50 ou R$ 100, enquanto se enraivece quando dá menos do que isso para o filho passear pela cidade. Fica furioso só quando seu filho pede para ir ao Centro da cidade, mas é o mesmo pai que se enche de orgulho quando vê Divaldo Franco em mais uma viagem para a Europa. Cremos até que há gente na Mansão do Caminho que nem conhece pessoalmente o "turista" Divaldo Franco, que mais parece um estrangeiro em sua própria terra!
Dizemos isso porque é fácil falar mal do argueiro dos olhos de quem está no lado de baixo da pirâmide, o "outro" do inconsciente coletivo dos moralistas de sofá. É muito confortável isso, mas as traves dos olhos da própria classe e dos seus ídolos, ainda que sejam os "modestíssimos médiuns espíritas", essas ninguém faz a mínima queixa.
Desigualdade é isso. É cobrar demais de quem não tem e ainda dar broncas violentas diante das dificuldades, sem saber que o "incapaz" e "preguiçoso" já tentou lutar e "meter a cara", mas não conseguiu resultado. É muito confortável o pai cobrar do filho arrumar o emprego, mas o pai nunca vai para o empregador e lhe cobra a concessão desse emprego.
E o pai de família ainda endeusa e considera "seus mestres" gente que vive muito mais da moleza, comendo e bebendo do bom e do melhor, viajando para os melhores lugares em aviões que, se não são luxuosos, são de suficiente conforto para sugerir algum privilégio, que, por mais simples que pareça, é um privilégio que, se não é manifesto pelo aparato aberto das grandes riquezas, ainda assim é alimentado por semelhantes demonstrações de soberba e ganância, a ganância de, sob a desculpa de renunciar às riquezas da Terra, supor que irá alcançar riquezas iguais ou maiores no além-túmulo.
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