(Autor: Professor Caviar)
Roberto Carlos, cantor que muitos achavam "moderno" e demoraram para admitirem o seu conservadorismo ideológico - o "Rei" foi um apoiador da ditadura militar - , definiu o "médium" Francisco Cândido Xavier como "homem bom", conforme uma música que outros compositores fizeram para o ídolo capixaba.
Recentemente, o mesmo Roberto Carlos, elogiando o ex-juiz Sérgio Moro e hoje ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, definiu o atual presidente da República como "homem bem intencionado".
Vejamos os termos: "homem bom" e "homem bem intencionado". Homem bom não é homem de boas intenções? Como as pessoas ainda são capazes de espernear diante das comparações entre Chico Xavier e Jair Bolsonaro, baseada sempre naquela falácia de que "um defendeu o amor e outro defende o ódio", quando os dois sempre foram associados a um mesmo conservadorismo ideológico?
Prestemos atenção a um termo chamado "reajustes espirituais", às vezes definido como "resgates morais", do "espiritismo" brasileiro. É uma espécie de terreno sombrio, escondido nas florestas encantadas das ideias dóceis que muitos acreditam ser a "nossa doutrina espírita". É onde se ocultam as cicutas ("chicutas"?) que envenenam o ideário "espírita" que se conhece em nosso país.
É esse termo que se sustenta o lado macabro da "moral espírita", embora mil interpretações, desesperadamente relativistas, tentem "dissolver" os aspectos negativos. É aí que a "moral espírita" mostra seu lado punitivista e investe na culpabilização da vítima para alegar que os infelizes e desafortunados "pagaram pelo que mereceram", o que faz com que o "espírita" não seja a pessoa que possa ser comparada a um bom samaritano.
Não dá para reagir, dizendo; "Mas os espíritas sempre têm consideração e respeito a todos que fossem, dos oprimidos aos tiranos, encarados igualmente como admiráveis irmãos". Isso porque falar é fácil e o balé das palavras é um espetáculo maravilhoso para nos distrair diante do sentido oculto das ideias e da realidade.
O que se comprova, embora muita gente se recusa, até com certa paranoia, a admitir, é o direitismo reacionário de Chico Xavier, comparável ao de Jair Bolsonaro. A dicotomia "amor versus ódio" que separa os dois não passa de especulação, porque Chico Xavier já demonstrou ser ranzinza em muitas situações, e Jair Bolsonaro demonstrou ser afável e hospitaleiro em várias ocasiões.
A obra doutrinária de Chico Xavier é o suprassumo do ultraconservadorismo. As pessoas estão acostumadas apenas a acolher um "recorte" de suas ideias que lhes parece agradável, com frases e trechos de livros tirados de seu contexto, e, por isso, têm dificuldade para aceitar a verdade de que as ideias de Chico Xavier são, queiram ou não queiram seguidores e até opositores de toda espécie, profundamente bolsonaristas.
Em Chico Xavier há tudo de reacionário: há desde a "cura gay" (o espírito que reencarna como homem, tendo sido antes uma mulher, ou vice-versa, terá que se acostumar com a atual condição sexual, obedecendo aos desígnios de Deus) até a Escola Sem Partido (a educação tem que ser apenas para ler, escrever, trabalhar e conhecer a fé em Deus).
A obra xavieriana passa também pela defesa de aspectos contidos na reforma trabalhista: apologia à servidão humana, pouco importando se o trabalho é demasiado penoso, a jornada exaustiva, a função escapa da vocação do trabalhador, o patrão é um sujeito abusivo, os colegas de trabalho, traiçoeiros e o salário mensal mal dá para uma sobrevivência precária de duas semanas. Sim, o padrão de serviço de Chico Xavier é um dos mais perversos e opressivos do mundo!
CHICO XAVIER ERA DO TIPO QUE NÃO MUDARIA DE VALORES NA VELHICE
Um grande aviso para os progressistas que cultuam Chico Xavier é para eles reverem seus entulhos mentais. Será que alguém é esquerdista porque quer, porque se sente identificado com tais ideias, ou apenas usa essa postura para obter vantagem pessoal de qualquer espécie? Será que uma parcela de esquerdistas não estaria tendo um comportamento e atitudes de gente de direita?
Vejamos bem. Embora muita gente esperneie só por saber dessa realidade (que esse pessoal não quer admitir), Chico Xavier foi um dos maiores apoiadores da ditadura militar. Ele apoiou a derrubada de João Goulart, disse que o AI-5 era necessário para combater o caos, foi condecorado pela ditadura militar e, pasmem, a sua imagem de "bondoso", que hoje fascina a todos, foi construída para servir de cortina de fumaça para a crise da ditadura militar.
E mais. Chico Xavier atuou naquela farsa das "cartas mediúnicas", aquelas "mensagens de entes queridos falecidos" que tanto levou às lágrimas muita gente ingênua, era um artifício que, de forma indireta, quis fazer as pessoas ficarem felizes com as mortes de presos políticos nos porões da ditadura. É como se dissesse, "se nossos parentes, morrendo cedo, estão em boa situação, as vítimas da ditadura estão melhor ainda". Como se morrer cedo fosse "bonito", o que não é verdade!
Chico Xavier manifestou seu apoio à ditadura militar para um grande público, no programa Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971. Ele não faria isso se não fosse o alcance de tais ideias, disponíveis até hoje: uma grande plateia no estúdio da TV Tupi, uma audiência externa maior ainda, na transmissão televisiva, e uma gigantesca audiência na posteridade, sobretudo postumamente, através de vídeos disponíveis nas redes sociais e amplamente difundidos.
Alguém em sã consciência iria renegar o direitismo de Chico Xavier e achar que sua defesa da ditadura militar foi dada "sem saber", ou por "obsessão espiritual" ou por alguma condição que seja alheia ao seu propósito de apoiar um projeto político ultraconservador do qual o "médium" defendia abertamente, sabendo do risco de sua gigantesca projeção? Ele fez isso para milhões e milhões de pessoas com a exata consciência das ideias que estava defendendo.
Além do mais, ele nunca apoiou os movimentos de redemocratização - o "médium" acreditava que só a vontade de Deus é que "iria redemocratizar o país" - , nunca fez revisão de seus valores direitistas, manifestou seu horror a Lula (de quem os esquerdistas, erroneamente, consideram ser "alma gêmea do médium") e manteve sua linha de pensamento e ideologia até a morte, em 2002.
Lembremos que, como todo conservador, Chico Xavier não era do tipo que iria mudar radicalmente seus valores na velhice. Além disso, sua defesa da ditadura militar - fruto de um conservadorismo que era expresso desde Parnaso de Além-Túmulo - foi dada quando o "médium" estava com 61 anos de idade, que no contexto social da época era a fase da velhice, e é sabido que o conservadorismo ideológico sempre considera a etapa da velhice um estágio em que as ideias se tornam firmes e impossíveis de serem mudadas.
Chico Xavier, com seu direitismo, desafiava o pensamento desejoso de seus seguidores, que tentam brigar com a realidade dos fatos. Até a citação de uma "previsão" de Chico Xavier, de que o Brasil seria governado por alguém que era jovem em 1979 (ano de tal mensagem), por Carlos Baccelli - considerado "vidraça" por parte do "movimento espírita" - , amigo do "médium", o que o fez sugerir ser Jair Bolsonaro, está de acordo com o ultraconservadorismo do "médium".
Isso pode gerar controvérsias, a de que Chico Xavier "previu" a vitória de Jair Bolsonaro (que, se Chico estivesse vivo, teria dado apoio explícito ao "capitão"), mas não a declaração de Baccelli de que o "médium" tinha pavor de ver Lula eleito presidente do Brasil. Esta se confirma pelo contexto do ultraconservadorismo do "médium", também comprovado pelas suas raízes e formação sociais, o que mostra que Chico Xavier NUNCA seria uma personalidade progressista, em que pese o esforço hercúleo de pensamento desejoso de seus seguidores.
O pensamento desejoso vive no terreno das ideias agradáveis e tem na religião em geral o seu playground. É muito fácil dizer coisas do tipo "Chico Xavier só viveu pelo próximo e, por isso, ninguém se identifica com ele senão o Lula", que até criam consenso e fazem o "gado" das redes sociais responder sempre em concordância, mas isso é um dos absurdos que a realidade mostra, de forma contundente, que não fazem sentido algum.
Chico Xavier foi ultraconservador na juventude e na vida adulta. Na velhice, reafirmou esse conservadorismo extremo e não é nesta fase, onde os conservadores acreditam que suas ideias são consolidadas e amadurecidas, que o "médium" viraria um progressista corajoso. Não há fatos, fundamentos nem indícios de que Chico virou progressista no fim da vida. Mas sobram provas diversas de que ele foi ultraconservador em toda sua vida, mantendo isso até morrer.
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