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Transferir direitos autorais não é necessariamente uma caridade


(Autor: Professor Caviar)

É fácil recusar dinheiro quando se vive do bom e do melhor. Ídolos religiosos são muitas vezes tão privilegiados quanto os ídolos do dinheiro e da fama, e em muitos momentos se equiparam a eles quanto à projeção e o estrelato.

Estamos pesquisando a edição da revista Realidade, um dos importantes veículos da imprensa brasileira, que durou de 1966 a 1976, e na reportagem sobre Francisco Cândido Xavier - que evita carregar a postura "chapa-branca" que as matérias sobre o "médium" apresentam - , vemos que, por exemplo, os direitos autorais do livro Bênção de Luz - que Realidade foi informado por uma fonte que era "psicografado" do espírito Batuíra, mas, oficialmente, é creditado a Emmanuel - foram dados a um abrigo de crianças em São Bernardo do Campo.

Atribui-se também a doação do dinheiro dos direitos autorais para várias "instituições espíritas". Até 1969, no entanto, informações indicam que a Federação "Espírita" Brasileira é que detinha os direitos. Quando foi revelado o escândalo, ou seja, denunciado o acordo de Chico Xavier com o então presidente da entidade, Antônio Wantuil de Freitas, de que a cúpula da FEB ficaria com o dinheiro, o "médium" fez jogo de cena, manifestando-se "muito entristecido com a notícia", e aparentemente resolveu lançar seus livros em outras editoras "espíritas" e a doar direitos autorais para instituições "filantrópicas".

O pessoal sai comemorando, achando que essas são provas da "caridade profundamente transformadora" de Chico Xavier. Não, não são. É como qualquer celebridade faz quando doa cachê para instituições "filantrópicas". É muito fácil bancar o humilde recusando-se a receber dinheiro. Para muita gente, basta desviar o dinheiro que iria para a conta pessoal de algum famoso para se destinar a uma instituição "de caridade" para o sujeito e o "benfeitor" se torna alvo de devoção popular.

Não é assim. Aliás, em muitos casos há um senso de oportunismo por trás. Compra-se prestígio com o dinheiro que se recusa a receber, supondo que, ao ser essa remuneração desviada em direção a um orfanato, creche, asilo ou coisa parecida, o doador tenha encurtado o caminho para sua santidade, por mais longínquo que ele fosse.

Mas isso muitas vezes pode significar a compra de apoio popular, visando a promoção pessoal ou a busca de um prestígio de alguém com trajetória marcada por algum fato negativo. Dessa maneira, Chico Xavier, que deturpou o Espiritismo - sua obra é comprovadamente de desvios doutrinários em relação aos postulados originais - , que produziu pretensas obras "psicográficas" - com fartas provas de fraudes, com participação de membros da FEB - , usava a "caridade" como um trampolim para sua promoção pessoal, garantindo para si uma blindagem de fazer inveja a qualquer político do PSDB, conhecido como "tucano".

Isso é leviano, porque se usa a desculpa da "caridade" para evitar muitas responsabilidades pelos erros e delitos cometidos. É como um moleque que fica cometendo traquinagens, apedreja as casas dos outros, atira em passarinhos, prende os gatos amarrando os rabos em algum lugar e rouba os lanches dos colegas na escola, e fica dizendo o tempo todo que é "bonzinho", quando está diante dos adultos, principalmente seus pais, tios e professores.

Pode-se negar cachê com a indiferença de quem não se preocupa com a melhoria profunda de vida dos brasileiros. Pode-se negar receber uma grande soma de dinheiro e no entanto viver do bom e do melhor porque é sustentado por terceiros. E pode-se negar receber um cachê e, seja por frieza ou presunção, reservar a remuneração recusada para uma instituição aparentemente assistencial.

Há muitas sutilezas na natureza humana. Pode-se recusar receber dinheiro, sob o pretexto da "caridade", imaginando que as fortunas que deixam de serem recebidas na Terra possam ser adquiridas com maior amplitude no mundo espiritual. Isso é uma ilusão ainda maior, porque o mundo espiritual existe, mas não conseguimos ter noção do que realmente ele é.

E se imaginamos que o mundo espiritual que ainda não conhecemos seja portador de fortunas permanentes iguais às da Terra, estamos mergulhando numa ilusão ainda pior, por ver no além-túmulo um depósito de devaneios materiais frustrados na vida terrena. E usar a "caridade" para alimentar essa quimera é uma ilusão que poderá causar, no mundo espiritual, frustrações ainda maiores e mais dolorosas do que as que se encontram nos infortúnios da Terra.

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