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Imprensa presta mau serviço ao não reportar a deturpação do Espiritismo no Brasil

(Autor: Senhor dos Anéis)

Foi extremamente vexaminosa a cobertura da imprensa brasileira ou mesmo de sucursais brasileiras da imprensa estrangeira - como no caso da BBC Brasil - em torno dos 150 anos de falecimento do pedagogo francês Hippolyte Rivail, o Allan Kardec, no último dia 31 de março.

Sob a desculpa de chamar a atenção para a "popularidade brasileira" do que se conhece oficialmente como Doutrina dos Espíritos, as reportagens, mesmo sob o verniz da imparcialidade e dos textos bem elaborados, comete a constrangedora gafe de comemorar mais a figura "filantrópica" de Francisco Cândido Xavier do que a própria figura de Kardec, relegada ao desprezo. Claro, Allan Kardec está morto, b*****.

Chico Xavier também, mas ele resiste como um fantasma que assombra terrivelmente o Brasil, à maneira dos filmes de terror. O Brasil virou refém de um deturpador do Espiritismo, que adaptou à realidade brasileira o pensamento de J. B. Roustaing e trouxe verdadeiras agressões aos postulados originais, como supor "cidades espirituais", a partir de Nosso Lar, sem o menor fundamento científico, e sugerir que extra-terrestres salvarão a humanidade na Terra (a tal "profecia da data-limite).

Chico Xavier não uniu as pessoas, mas as desuniu. Ele foi um "moleque" que usurpou Humberto de Campos porque não gostou da crônica do autor maranhense, que recomendou que não se repitam "psicografias" como Parnaso de Além-Túmulo para não atrapalhar o trabalho dos escritores vivos e, aproveitando a morte do próprio cronista, inventou uma "psicografia" que mostrava um "Humberto" diferente do original, em que até as "semelhanças de estilo", além de raras, soam superficiais e bastante caricatas.

Chico Xavier ainda por cima criou "cartas mediúnicas" fake, às custas da "leitura fria" e de pesquisas bibliográficas, que, de tão irregulares, causavam o efeito de jogar pais contra mães, irmãos uns contra os outros, tios contra sobrinhos, avós contra netos, amigos contra familiares. A "maior caridade" de Chico Xavier só beneficiou, mesmo, a imprensa policialesca, identificada com a espetacularização da morte e com o moralismo religioso que esse "lindo trabalho" tanto mostrava.

Além disso, Chico Xavier ventilou ideias controversas como supor que ele era "reencarnação de Kardec". Em alguns depoimentos, ele sugeria "confirmar" essa tese aberrantemente inconcebível, mas em outros ele procurava desmentir, dividindo as pessoas e obtendo visibilidade fabricando polêmicas à toa.

Quanto à "profecia da data-limite", Chico Xavier também dividiu seus próprios seguidores, sugerindo que haverá catástrofes a atingir o Hemisfério Norte e que, para substituir os milhares de intelectuais, artistas e ativistas que falecerem bruscamente, viriam criaturas extra-terrestres que estabeleceriam condições de "salvação da humanidade".

Imagine pessoas diversas como Marielle Franco, Luke Perry, Brittany Murphy, José Wilker, Sérgio Porto, Carl Sagan, Mário de Andrade, Jimi Hendrix e Renato Russo sendo "substituídos" por criaturas de outro planeta, de aparência bizarra que lembra um cruzamento de sapos com moscas, que de origem desconhecida sugiram uma suposta combinação de avançada intelectualidade com pretensa fraternidade.

Isso é algo que se aproxima mais do pensamento desejoso e que só tem validade porque nosso país tem um nível de ignorância tão endêmico que atinge pessoas até com certo grau de esclarecimento, permitindo que até mesmo jornalistas, juristas e acadêmicos silenciarem sobre a gravíssima deturpação que atinge o Espiritismo no Brasil, de maneira tão impune que remete mais ao chamado "crime perfeito", porque a deturpação espírita, mesmo com provas, nunca é sequer investigada.

SERVIÇO (OU MELHOR, DESSERVIÇO) DE INUTILIDADE PÚBLICA

Há muitas provas de que o Espiritismo que se conhece no Brasil é deturpado e desfigurado. Mas esse "crime perfeito", embora não escondesse essas provas - facilmente identificáveis, por exemplo, através dos livros de Chico Xavier - , consegue abafar qualquer tentativa de investigação e questionamento. 

Na primeira tentativa, é só mostrar uma imagem de Chico Xavier ao lado de flores, sob um céu azul e acompanhado de criancinhas sorridentes que esses apelos, de nauseante pieguice, desarmam seus contestadores mais fracos. Fácil usar o "bombardeio de amor" num país em que o senso crítico é amaldiçoado por influentes setores de nossa sociedade.

O nosso jornalismo comete um serviço, ou melhor, desserviço, voltado à inutilidade pública. Não se investiga sequer os contrastes entre o pensamento de Chico Xavier com o de Allan Kardec. E os contrastes são espantosamente extremos, que comprovam a incômoda condição de "inimigo interno do Espiritismo" que, com a mais contundente segurança, se pode atribuir ao "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.

São coisas muito surpreendentes e que soam assustadoras para os chiquistas. Além disso, há a necessidade de romper com a narrativa adocicada que há pelo menos 40 anos beneficia o "médium" Chico Xavier, um "rápido histórico da Doutrina Espírita" ditado pela Federação "Espírita" Brasileira e que prevalece até mesmo aos nossos veículos investigativos da imprensa, que perdem a oportunidade de esclarecer as pessoas sob os bastidores desse ilusionismo religioso.

A questão é tão grave que há suspeita de "queima de arquivo" nos bastidores do "espiritismo à brasileira". A revista Manchete, num tempo em que se podia fazer jornalismo investigativo contra Chico Xavier, denunciou que o sobrinho deste, Amauri Xavier, sofria ameaças de morte de gente do "meio espírita", como confirma a reportagem da edição de 09 de agosto de 1958, ligeiramente analisada por este blog.

Tínhamos gente com vontade de investigar Chico Xavier. Um livro que deveria vir à tona hoje, O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, escrito por Attila Paes Barreto em 1944, é um importante documento que foge para bem longe do cenário de flores, bichinhos, criancinhas e céu azul que hoje envolvem o "médium". Um trabalho que fará muita gente boa cair da cadeira ou das nuvens, se as fantasias em torno de Chico Xavier irem para devaneios extremos.

Temos que romper isso. A FEB não é dona da imprensa brasileira, assim como não é proprietária da verdade nem da lógica e do bom senso. Temos que combater a deturpação do Espiritismo, e, infelizmente, a FEB é responsável pelos desvios doutrinários que esconde sob o tapete. 

Que a chamada "mídia venal" possa promover uma imagem dócil de Chico Xavier cercado de bichinhos e criancinhas, num jardim de flores sob um céu ensolarado, com uma biografia que parece um conto-de-fadas para adultos, é compreensível. 

Que a Rede Globo transforme a vida de Chico Xavier em mais uma de suas novelas, também faz sentido, pois era interesse da Globo em promover, no "médium", a imagem de um pretenso filantropo, como faz com Luciano Huck, hoje em dia.

O que não se pode admitir é que gente que tem um compromisso de investigação e apuração adote uma postura brochante diante de Chico Xavier. Que pessoas emocionalmente frágeis possam se render aos assédios simbólicos do "médium", faz sentido.

Mas o que não pode é gente que deveria esclarecer e investigar e que pudesse ter um mínimo senso de dúvida e desconfiança, se sinta imponente diante dos apelos de um velhinho que nem era atraente, defendeu ideias reacionárias e retrógradas e era ligado a crenças essencialmente medievais.

Pelo menos, nossos jornalistas e acadêmicos possam questionar Chico Xavier sem medo, e com o rigor recomendado por Erasto, um dos mensageiros que foram aproveitados pela literatura kardeciana, e que alertavam, com muita antecedência, sob o risco de oportunistas se deixarem valer pelo prestígio religioso para enganar as pessoas. A estes não se pode admitir o deslumbramento.

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