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Nosso Lar não é socialista, e obra segue a analogia Barra da Tijuca-Cidade de Deus

(Autor: Senhor dos Anéis, via e-mail)

Não há razão alguma para definir a suposta cidade espiritual de Nosso Lar como uma sociedade socialista, como tão risivelmente tentam definir alguns delirantes indivíduos que tentam ao mesmo tempo serem "espíritas" da linha igrejista e esquerdistas da linha socialista.

Claro que existe louco neste mundo e há quem ache picolé de jiló uma delícia. Mas o problema é que a comparação de Nosso Lar com uma suposta comunidade socialista sonhada por Karl Marx esbarra em uma série de problemas.

Em primeiro lugar, a suposta cidade espiritual nem de longe lembra uma cooperativa de proletários, pela aparência luxuosa que contrasta até mesmo com os padrões de um operário que tenha conquistado alguma prosperidade. O aspecto luxuoso, que lembra os condomínios de luxo, dá, segundo a ótica marxista, a Nosso Lar não o caráter de uma sociedade socialista, mas antes o de uma sociedade burguesa, que, no seu âmbito, também atua pela solidariedade com os seus.

Em segundo lugar, nota-se que os próprios paradigmas de solidariedade não lembram muito a solidariedade marxista, até porque Nosso Lar, na verdade, é uma obra de conservadorismo católico - o "espiritismo" brasileiro é catolicizado - , e isso não dialoga com a perspectiva do comunismo ateu, base da ideologia marxista, pois os hábitos dos moradores de Nosso Lar são muitíssimo diferentes.

Uma coisa que chama muito a atenção é que o enredo de Nosso Lar é, na verdade, um contraste entre uma sociedade próspera, a própria "cidade" ou "colônia espiritual", e uma sociedade decadente, o chamado "umbral". É um contraste que, com as diferenças de contexto e com a inversão de abordagem, se assemelha a Admirável Mundo Novo (Brave New World), de Aldous Huxley.

Huxley, neste livro de 1932 - ironicamente, o mesmo ano de Parnaso de Além-Túmulo de Francisco Cândido Xavier - , tratava a "sociedade próspera" do tal "mundo novo" (a Londres do século XXVI) como negativa, enquanto uma zona decadente é uma comunidade de excluídos sociais.

Outro dado a considerar é que Nosso Lar, que Chico Xavier publicou sob o crédito do suposto espírito André Luiz (que, na verdade, se revela fictício e "coincide demais" com o nome de um falecido irmão do "médium", apesar das atribuições indicarem que o suposto espírito teria sido um médico famoso ou um médico que foi dirigente esportivo), é inspirado em A Vida Além do Véu (The Life Beyond The Veil), do reverendo inglês George Vale Owen (que dizia que a obra era "mediúnica", atribuída ao espírito Ariel).

Nela havia uma suposta cidade espiritual o que indaga sobre alguma outra alusão "futurista" a Londres, talvez "protegida" por esse suposto paraíso do além-túmulo. Nosso Lar é uma suposta cidade espiritual, que na verdade é apenas imaginária, mas com seu caráter fictício compartilhado por vários "espíritas" a partir de Chico Xavier, que ganhou da amiga Heigorina Cunha um suposto mapa da "cidade".

O mais curioso é que Heigorina Cunha, já falecida, fez o seu livro Cidade do Além, de 1983, sob o crédito do suposto espírito Lucius, o mesmo nome do suposto mentor de outra "médium", esta falecida mais recentemente, Zíbia Gasparetto. O suposto mapa, que credita Nosso Lar como uma "cidade" situada sobre o Rio de Janeiro, teria sido creditado às orientações do "espírito" Lucius.

E como falamos no Rio de Janeiro, o que pode derrubar o mito de que Nosso Lar seria uma "sociedade socialista" era que a dicotomia Nosso Lar e Umbral podem se referir a uma dicotomia entre um país desenvolvido e um país pobre. Digamos, entre Londres e Soweto, por exemplo. No microcosmo da cidade do Rio de Janeiro, podemos definir o Nosso Lar como a Barra da Tijuca e o Umbral, como a Cidade de Deus.

Evidentemente, não é uma abordagem como no livro de Huxley, em que a sociedade "próspera" é considerada vilã do enredo. Motivado por um religiosismo conservador e moralista, Nosso Lar descreve a "sociedade próspera" de maneira positiva, dentro de um padrão ao mesmo tempo luxuoso, elitista e com um certo instinto paternalista, como no final do enredo, em que os moradores da "colônia espiritual", incluindo o personagem André Luiz, se dirigem à Europa, prestar "assistência espiritual" aos sofredores da Segunda Guerra Mundial.

Mesmo a ideia de solidariedade, relativa justiça social e erudição cultural em nada lembram uma sociedade socialista. Nosso Lar teria uma analogia exata do que seria a Barra da Tijuca, antes da situação caótica dos últimos 25 anos, enquanto o Umbral se referia à Cidade de Deus, um nome bastante irônico.

Seriam zonas diferentes, às quais até o mundo animal era distribuído de maneira seletiva. Em Nosso Lar, vão cachorrinhos, passarinhos, gatinhos, num suposto mundo espiritual onde, estranhamente, existem até crianças. Já o Umbral se reserva lugar a vermes, animais selvagens, pessoas grosseiras que parecem mendigos e se torna, aos olhos dos moralistas, o "lixo da sociedade".

Portanto, não tem o menor fundamento, seja científico e muito menos de opinião informativa, a associação entre Nosso Lar e uma sociedade socialista. As pessoas que acreditam nessa associação se baseiam num falso esquerdismo do "espiritismo" de Chico Xavier, sustentado por ideias soltas, sem um pingo de lógica e baseada apenas em devaneios emocionais, uns associados a ideias religiosas e conservadoras de humildade e caridade, outros vinculados a conceitos pedantes de socialismo e progresso humano. Essa associação entre Nosso Lar e socialismo se revela um grande e grotesco erro de visão e não condiz à realidade.

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