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Diante do caso João de Deus, mídia tenta blindar Chico Xavier


(Autor: Professor Caviar)

Diante da crise causada pelo caso João de Deus, a mídia hegemônica se esforça para tentar salvar a reputação de Francisco Cândido Xavier. Conhecido como Chico Xavier, o "médium" sempre combinou, em si, a esperteza de Aécio Neves, o reacionarismo de Jair Bolsonaro e a suposta filantropia de Luciano Huck, os três numa só pessoa. 

Mas Chico também tem um lobby que faz fazer prevalecer a imagem idealizada e fantasiosa do "médium", pois a imagem que predomina de sua pessoa é aquela montada pela narrativa importada do inglês Malcolm Muggeridge, capaz de transformar religiosos reacionários em supostos símbolos de amor e bondade, praticamente privatizando as virtudes humanas nas pessoas de uns poucos ídolos religiosos, falsos cristos feitos para o consumo beato da fascinação obsessiva e do fanatismo religioso.

Isso é muito perigoso. Manipula-se o discurso, se aproveitando da memória curta, dos relativismos mil, de tanta retórica que falseia a verdade para vender a ilusão como "realismo" e a mentira como "verdade indiscutível". Graças a essa mitificação em torno de Chico Xavier, os brasileiros se tornaram reféns da deturpação do Espiritismo, que nunca conseguiu fazer valer plenamente a essência da doutrina original francesa para o Brasil.

Imagine se manipulamos o discurso e, com uma narrativa engenhosa, passemos a endeusar também José Sarney, Paulo Maluf, o já citado Aécio Neves? É fácil apostar na memória curta e manipular o discurso com o tempo, de forma a colocar aspectos negativos debaixo do tapete, fazendo sobreviver apenas a imagem positiva, embora muitas vezes irreal, do ídolo pretendido na ocasião?

No último fim de semana, o caderno Ela, de O Globo, comemorativa dos 55 anos do suplemento feminino do periódico carioca, veio com uma reportagem sobre o livro Nosso Chico, do jornalista Saulo Gomes - que trabalhou nos Diários Associados e participou da equipe do Pinga Fogo da TV Tupi - , possivelmente um dos primeiros a contribuir para a mitificação de Chico Xavier, transformando-o praticamente numa "fada-madrinha" do mundo real, feito para o consumo deslumbrado de seus beatos seguidores ou simpatizantes.

A reportagem, intitulada "Admirável Amizade", feita por Eduardo Vanini, tem a ilustração de André Mello, que é a imagem que aparece nesta postagem, com a foto do "médium" tendo ao lado dele uma flor com seus ramos. É um apelo da mais gosmenta pieguice, e fizemos questão de mostrar essa aberração a título de informação, sobre os apelos sentimentaloides e cafonas que envolvem o "espiritismo" brasileiro.

A reportagem tenta parecer objetiva, ao entrevistar Saulo Gomes, que admite que Chico Xavier e João de Deus se encontraram "algumas vezes", mas ele ignora que a relação tenha sido intensa. Mas Saulo revelou que Chico Xavier recebeu de uma família rica de Goiás um terreno que, depois, se tornou o Lar Fraternidade, uma das "casas espíritas" que praticam o Assistencialismo, que é aquela caridade de baixos resultados sociais que só serve para adoração religiosa aos supostos benfeitores. Afinal, os pobres e necessitados são só um detalhe, são como vacas no presépio, não é mesmo?

É sempre aquela mitificação religiosa, que, embora seja focalizada em torno de Saulo, um jornalista que acompanhou Chico Xavier desde, pelo menos, a década de 1940 - quando o arrivista de Pedro Leopoldo solicitou uma entrevista com o repórter (claro, Chico queria aparecer) - , oculta justamente os aspectos sombrios e negativos do "médium", que precisa manter uma "imagem limpa", adocicada, rodeada de flores, no esforço de colocar a fantasia acima da realidade.

CHICO XAVIER ERA RANZINZA, TEMPERAMENTAL E REACIONÁRIO

A glorificação de Chico Xavier é, na verdade, um tipo de obsessão espiritual das mais perigosas. No exterior, as pessoas não se deixam iludir pelas armadilhas do discurso. Lá fora, o fenômeno do "bombardeio de amor", que inclui pretensa afetividade e apelos de beleza "mais profundos", é considerado um meio traiçoeiro de manipulação das mentes das pessoas. Allan Kardec havia prevenido de um tipo de obsessão chamado "fascinação", ou "fascinação obsessiva", que faz as pessoas se renderem a um espírito traiçoeiro, encarnado ou desencarnado, que esteja associado a ideias supostamente positivas e aos mais belos e tenros apelos de aparente beleza.

A fascinação obsessiva em torno de Chico Xavier é um fato. Afinal, os seguidores de Chico Xavier, sempre que são contrariados, reagem com muita fúria e irritação, o que contraria a tese de que tais devotos ou simpatizantes estejam com energias positivas. O que elas sentem é, na verdade, um misto de transe com êxtase religioso, e o menor questionamento faz quebrar essa ilusão de energias falsamente elevadas, uma "força espiritual" que mostra sua fragilidade diante de uma pequena contestação.

Casos diversos ocorrem. Uma senhora se sentiu irritada quando se revelou que Chico apoiava a ditadura militar, um fato verídico que está registrado no Pinga Fogo, para todo mundo ver. Outra senhora, no Facebook, apelou para a carteirada religiosa do "médium" e, diante de uma contestação de outro internauta sobre o religioso, a madame respondeu, com muita fúria: "Quem é você para falar de Chico Xavier"? O falecido Jorge Murta, um dos críticos da deturpação espírita, também recebia ameaças de seguidores de Chico Xavier por conta de vários textos sobre o "médium".

Por trás de toda essa aura de cenários celestiais, paisagens floridas, passarinhos voando e crianças sorridentes, além de coraçõezinhos vermelhos e fofinhos, tudo para promover a imagem dócil de Chico Xavier, a verdade é que esse aparato de "beleza infinita" não passa de pura ilusão. É chocante, no Brasil, que a religião seja um repositório de paixões ainda mais perigosas e perniciosas do que as paixões do sexo e do dinheiro, chegando ao nível das drogas, mesmo.

As frases de Chico Xavier não têm a beleza que se fala, sendo apenas um jogo barato e medíocre de trocadilhos relacionados a um moralismo retrógrado que o "médium" sempre defendeu. Ele era uma figura ranzinza, era um oportunista, um temperamental e nem de longe era a figura que inspira meiguice em seus iludidos seguidores.

Isso choca as pessoas e mostra o quanto as paixões religiosas são muito mais perigosas que as do sexo, do dinheiro e até das drogas. Sobretudo se imaginarmos que, muitas vezes, a aparente opulência do dinheiro pode ser uma oportunidade melhor para ajudar o próximo do que a capa da religiosidade, e que o sexo, de maneira moderada, pode ser um gancho para relações afetivas mais sinceras e edificantes do que o verniz da fé e de um padrão religioso de fraternidade humana.

É necessário desmontar o mito de Chico Xavier, e não alimentá-lo. Esquecemos que o mito de "amor e bondade" associado a ele foi um discurso fraudulento montado pela mídia hegemônica - principalmente a Rede Globo - , a partir do roteiro de Malcolm Muggeridge (que fez o mesmo com a megera Madre Teresa de Calcutá, que virou "santa" por conta de um caso de intoxicação alimentar que foi creditado como "câncer terminal") e que isso só serviu para distrair o povo diante da beatitude religiosa.

O "endeusamento" de Chico Xavier - mesmo pelo verniz invertido da "admiração saudável de um homem simples e bom" - é uma forma das elites dominantes fazerem o povo em geral se entreter com o fanatismo religioso e a fascinação obsessiva de um suposto símbolo de caridade e paz, um mito fabricado pela mídia hegemônica para evitar que verdadeiros ativistas sociais se ascendam e ameacem os privilégios abusivos das elites.

Chico Xavier nunca representou ameaça às elites. Sua pretensa caridade nunca significou perigo para os privilégios abusivos dos ricos. A ideologia de Chico Xavier sempre foi reacionária, do começo ao fim de sua vida, e a "beleza" de sua pessoa seguia o "padrão Regina Duarte", escondendo um ultraconservadorismo doentio por trás de tanto encanto. Cabe desmontar Chico Xavier e não renovar seu mito, que transforma os brasileiros em reféns de tanta ilusão.

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