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Esquerdas evocam Chico Xavier ignorando seu caráter ultraconservador

(Autor: Professor Caviar)

Os chamados "espíritas de esquerda" também criam sua "URSAL". Para quem não sabe, URSAL foi uma delirante invenção do pseudo-intelectual Olavo de Carvalho - ultimamente em moda depois que seu admirador, Jair Bolsonaro, foi eleito e acolheu duas indicações do seu guru para sua equipe ministerial - que supunha uma rede de "ditaduras comunistas" que estaria sendo montada na América do Sul. A gafe recebeu gozações nas redes sociais, a ponto de haver imagens jocosas com o mapa da América do Sul de cabeça para baixo e um ursinho de pelúcia como mascote da "ameaçadora ditadura".

No caso dos "espíritas", um texto ridiculamente associou a fictícia cidade de Nosso Lar, que mais parece um condomínio de luxo e lembra uma espécie de Barra da Tijuca do além-túmulo, a uma suposta comunidade marxista, sob o pretexto de lembrar o projeto de uma sociedade cooperativa e progressista. A manobra tenta puxar o "médium" Francisco Cândido Xavier, ícone do ultraconservadorismo religioso, para as esquerdas, o que é um grande erro, de efeitos fatais. Consta-se que Chico Xavier é uma espécie de "pé-frio" para os movimentos esquerdistas que, uma vez cortejando ele, contraem todo tipo de azar.

Não devemos nos ater à aparência das palavras. Palavras podem mentir, podem parecer dizer uma coisa quando dizem outra. O Brasil, um país ainda apegado ao atraso, vivendo um eterno complexo de vira-lata, não percebe as sutilezas de muitos discursos e o nosso país é o que mais está vulnerável aos inimigos internos, sempre vistos como "aliados incomparáveis". Não raro os inimigos internos se tornam muito atraentes para os movimentos de vanguarda do que até mesmo certos aliados mais fiéis. É como se, por exemplo, a Inconfidência Mineira desse mais ouvidos a Joaquim Silvério dos Reis do que a Tiradentes.

Dito isso, não se pode iludir com o conteúdo "positivo" de Chico Xavier. Ele nunca foi progressista e sua imagem "filantrópica" foi uma retórica muito bem construída por décadas, embora sua abordagem mais definitiva tenha sido montada nos últimos 40 anos pela Rede Globo de Televisão, a partir do que o inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá.

É aquele modelo conservador de "caridade", que não traz progressos sociais, mas adoração plena ao suposto benfeitor. Se a caridade de Chico Xavier tivesse realmente funcionado, no caso de levarmos em conta sua pretensão de grandeza e de força pessoal, nosso país teria alcançado padrões escandinavos de qualidade de vida. Mas o Brasil nunca progrediu e está até decaindo vertiginosamente.

O verniz "progressista" de Chico Xavier é atraente e agradável para muitos. Mas é uma fachada que esconde, por dentro, um conteúdo extremamente conservador. O autor do texto que comparou Nosso Lar a uma comunidade marxista não se deu conta de alguns aspectos que cercam o mito dessa suposta cidade espiritual que seus seguidores alegam ter "existência real". Vejamos:

1) O livro Nosso Lar, por trás da roupagem futurista de sua narrativa, esconde vários conceitos moralistas bastante conservadores, relacionados a uma perspectiva medieval de bondade e devoção, além de apostar na tese roustanguista da reencarnação como um processo punitivista, bem típico da obra de Chico Xavier. Não há, portanto, como levar a sério as associações com o marxismo ou com qualquer ideologia progressista;

2) A suposta cidade espiritual de Nosso Lar foi um artifício adotado por Chico Xavier para forjar um pretexto para sua Teologia do Sofrimento. O "mundo espiritual" feito conforme as paixões materiais - o "materialismo espírita" não deve ser confundido com o "materialismo histórico" dos marxistas, vale lembrar - seria um "prêmio" para as pessoas que, na encarnação presente, na vida aqui na Terra, aceitassem suas condições degradantes de vida;

3) Nosso Lar é uma concepção reprovada pela literatura kardeciana original. Sua concepção carece do mais simplista fundamento científico. A "cidade espiritual" foi feita conforme convicções fantasiosas e, além disso, por plágio. Na verdade, "Nosso Lar" seria a reprodução de um cenário ficcional trazido pelo livro A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), do reverendo inglês George Vale Owen.

As esquerdas se esquecem que Chico Xavier vivia pregando para as pessoas que sofrem limitações na vida não reclamarem e aguentarem desgraças em silêncio. É, portanto, a mais fundamental das pautas ultraconservadoras. Além disso, muitos dos valores defendidos por Chico Xavier se encaixam perfeitamente em paradigmas associados a retrocessos como a reforma trabalhista e a Escola Sem Partido.

Para quem duvida disso, é bom prestar atenção nas abordagens ideológicas de Chico Xavier. Quanto ao trabalho, ele defendia que a pessoa que trabalhasse sob carga horária abusiva e baixa remuneração devesse ficar conformada com isso, porque para o "médium" o mais importante é "servir, sob quais condições fossem", dentro da perspectiva servil da Teologia do Sofrimento.

Ele mesmo, dividido entre os livros e as aparições públicas, teve uma rotina sobrecarregada, como um popstar religioso. Chico Xavier, dizem, chegou a dizer, certa vez, que estava cansado e doente, enquanto o seu "mentor" (ou obsessor?) Emmanuel lhe negou descanso, aconselhando-o a cumprir todos os seus compromissos. Emmanuel também atuou como espírito autoritário, coisa que também foi alertada pela literatura espírita original, que desfaz o mito de que Chico seria um "espírito de luz", subordinado a tão ordinária influência espiritual.

Não tem o menor fundamento associar o "espiritismo" brasileiro e, sobretudo, Chico Xavier, a qualquer ideologia progressista ou de esquerda. Chico Xavier sempre foi um baluarte do pensamento ultraconservador brasileiro, seu único diferencial é que suas ideias eram trabalhadas de maneira polida e educada, para dar a falsa impressão de que ele havia sido um "progressista". Nem sempre a embalagem comprova o conteúdo, todavia.

O texto em questão, do blog Fronteiras do Pensamento (e da Atuação) Espírita, apenas juntou, meio que à força, tendências diferentes, "costurando" textos sem fazer um argumento que pudesse trazer uma visão minimamente coerente. Num país em que Olavo de Carvalho é considerado "intelectual", embelezar textos e costurar argumentações, dando verniz intelectual às mais delirantes convicções pessoais, é a coisa mais fácil do mundo. Basta apenas manipular as palavras e os aparatos supostamente científicos aqui e ali.

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