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Mais documentário chapa-branca sobre Chico Xavier


(Autor: Professor Caviar)

Mais um documentário chapa-branca, por sinal dotado da mais absoluta pieguice, produzido pela Pozati Filmes, de Juliano Pozati - daquela turminha da "data-limite", que inclui Geraldo Lemos Neto e companhia - , o que é garantia de muita mistificação e muita mitificação.

O documentário, intitulado Quando Lembro de Chico, apela pelo sentimentalismo cafona e diabético com seu propósito de entrevistar amigos íntimos de Francisco Cândido Xavier, um recurso que lembra muito as "lindas campanhas" iniciadas por Malcolm Muggeridge em prol de Madre Teresa de Calcutá.

É aquele truque que realimenta a devoção movida pelas paixões religiosas. Sob o pretexto de evocar a "figura humana" por trás do mito religioso, o que se faz é construir um outro mito acima do mito. Diante da fácil tentação das paixões religiosas e seus apelos sedutores, porém traiçoeiros, de aparente beleza e simplicidade, tem-se a ilusão de que se "conhece a fundo" uma figura supostamente humanista por trás do ídolo religioso, quando o que se conhece é apenas o mito do mito.

Isso é terrível, porque, para quem tem a coragem de sair da zona de conforto da memória curta, verá que Chico Xavier nunca foi essa maravilha dócil que se alardeia e se insiste, com preocupante obstinação, em continuar alardeando. Aquele mito de "fada-madrinha da vida real" pode ser facilmente dissolvido, feito castelo de areia sob a onda do mar, se percebermos que Chico Xavier veio a ser o que é aprontando muita confusão e revolta com literatura fake e desfigurando o Espiritismo rebaixando o legado kardeciano a uma repaginação do Catolicismo medieval.

DOCUMENTÁRIO CHAPA-BRANCA: NO BRASIL NÃO SE PODE EXERCER O SENSO CRÍTICO

O "beato que melhor traduziu Roustaing", Chico Xavier, é beneficiado por um mercado de documentários que, no Brasil, sofrem a supremacia da abordagem chapa-branca. É terrível fazer monografias e documentários no Brasil, porque você não pode exercer o senso crítico. Quando se chega próximo dessa possibilidade, ela é filtrada por um discurso mais expositivo do que questionador, usando como desculpa a "abordagem objetiva ou científica" para podar trabalhos acadêmicos ou documentais.

A política de patrocínio é rigorosa. Temos o problema da Lei Rouanet, como também dos patrocínios públicos e privados. Se proíbe o senso crítico nas monografias por causa das verbas de pesquisa que no Brasil não acolhem trabalhos "incômodos". Nos filmes, o patrocínio é cancelado para produções "controversas" e o que vemos é que tudo acaba afundando na areia movediça do chapa-branquismo, o que se produz são obras meramente decorativas, bajulatórias e mitificadoras.

A agenda é inflexível e isso difere muito do que acontece nos EUA, onde a indústria cinematográfica e televisiva podem ser cruéis, capazes de ceifar seriados promissores de TV na primeira temporada porque perdeu audiência ao concorrer com transmissões esportivas de basquete e futebol americano. Mas lá, ao menos, existem possibilidades de inserir visões críticas, até mesmo anti-mercadológicas e anti-corporações, além de produzir documentários "incômodos" para o status quo.

Na Europa, também se investem em pesquisas que contrariam o status quo e desafiam "vacas sagradas" do establishment político, econômico, cultural e até religioso. Nos EUA, isso pode não ser tão típico, mas também ocorre. No âmbito da religião, a Cientologia e o NXIVM estão entre as crenças que recentemente foram alvo de investigações e questionamentos, e ninguém apela para a choradeira da "intolerância religiosa" para proteger seitas mistificadoras e irregulares.

Aqui é que a coisa é inflexível, cerrada, reprimida. Enquanto esperamos para uma alma generosa trazer, pelo menos em arquivos PDF na Internet, o livro investigativo O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, importante documento de 1944 produzido por Attila Paes Barreto, e enquanto aguardamos equivalentes brasileiros de Leah Remini e do saudoso Christopher Hitchens para investigar os "podres" de Chico Xavier, uma sucessão de documentários e monografias chapa-branca se produzem, embora, no âmbito das teses acadêmicas, já surjam, aos poucos, alguns trabalhos com um conteúdo mais crítico.

No caso da Pozati Filmes, há muita mentira e dissimulação. Juliano Pozati é um igrejeiro que se diz espírita, mas dentro da linha deturpada que conhecemos. Ele finge gostar de filosofia e ciência, num país em que "filósofo" é Olavo de Carvalho e "ciência" é um engodo que mistura ideias científicas com outras mais esotéricas.

Ele trouxe para as telas o grande desperdício em termos de documentários que é o tal de Data-Limite Segundo Chico Xavier, uma masturbação narrativa que superestima um sonho banal, desses que qualquer um tem enquanto dorme, e que se baseia em "profecias" sem pé e nem cabeça e cheias de erros sociológicos e geológicos, como a ideia do Chile não ser atingido por catástrofes vulcânicas e sísmicas (ele faz parte do mesmo Círculo de Fogo do Pacífico que tem o Japão, o Havaí e a Califórnia) e a falácia de que os estadunidenses iriam migrar para a floresta amazônica, morar junto com os animais da selva, no caso da destruição do Hemisfério Norte.

São ideias ridículas, respaldadas por um discurso pseudo-científico feito para boi dormir, porque o conteúdo mesmo é igrejeiro, piegas, cafona, sustentado naquela imagem de Chico Xavier produzida pela Rede Globo a partir do roteiro de Malcolm Muggeridge. Aquela imagem adocicada que faz com que Chico Xavier seja a única pessoa cuja imagem fantasiosa tenta prevalecer, a todo custo, à imagem realista que se revelou no Pinga Fogo de 1971, com um "médium" ranzinza disparando comentários contra os movimentos sociais e apoiando a ditadura militar. Como tem gente grande querendo se apegar a um conto de fadas.

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