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Escândalo de João de Deus abre precedentes para novas denúncias sobre o "espiritismo" brasileiro

(Autor: Professor Caviar)

O mundo de cor e fantasia marcado pela associação dos "médiuns espíritas" a cenários floridos e celestiais, a passarinhos voando sobre as flores e crianças sorridentes brincando no parquinho pode estar chegando ao fim.

O recente escândalo do "médium" de Abadiânia, o também latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, abre precedentes para novas denúncias que podem atingir até mesmo Francisco Cândido Xavier, mesmo postumamente. Hoje ainda prevalece a imagem dócil e idealizada do Chico Xavier como um pretenso colecionador de virtudes humanas, aceito, com crédula complacência, até pelos ateus e por esquerdistas.

Vamos contar o escândalo de João de Deus. Ele veio por acaso. A produção do programa Conversa com Bial, apresentado pelo jornalista Pedro Bial e transmitido pela Rede Globo, preparava uma edição com o "médium" goiano. Ele seria convidado para mais uma daquelas entrevistas nas quais ele "explica" suas atividades "mediúnicas" e seus "trabalhos de caridade".

No entanto, a roteirista e co-produtora Camila Appel, quando estava em Abadiânia, ouviu queixas de várias mulheres que acusavam João de Deus de fazer assédio sexual. Ela ouviu dez mulheres e gravou os depoimentos, mas por questões de tempo convidou apenas quatro para o programa. Destas quatro, apenas uma, a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus, decidiu mostrar o rosto.

Alguns depoimentos divulgados são chocantes:

ZAHIRA LEENEKE MAUS:

"Eu tinha medo deles me mandarem espíritos ruins. Eu estava com muito medo. Agora me sinto protegida e sinto que a verdade tem de vir à tona".

(...) "“existe um sistema. A primeira coisa é 'vire de costas, eu vou te curar'. Existe um padrão (...) Você é manipulada a acreditar na cura”.

OUTRAS DEPOENTES:

"'Levanta aqui que vou limpar seus chacras' [ele disse]. Nisso ele ficou em pé, eu fiquei na frente dele, e ele já começou a fazer movimento, passando a mão no meu peito. Nisso ele me virou e pediu pra fazer massagem na barriga dele. Eu fazendo essa massagem, ele pedia pra eu fazer com força, pedia pra eu ficar de olho aberto, e eu não conseguia porque eu já tava incomodada. Aí ele me afastou um pouco e já tirou o pênis pra fora. E pegava na minha mão pra pegar no pênis dele, eu tirava a mão e ele falava: 'Você é forte, você é corajosa. O que você tá fazendo tem um valor enorme'. Eu não tava fazendo nada. Eu tava ali sendo abusada. Eu não tava fazendo nada".

(DE UMA DEPOENTE QUE SOFRIA DE SÍNDROME DE PÂNICO E DEPRESSÃO)

“O que eu fizer aqui dentro, você não vai falar pra ninguém". "E ele falou assim: 'você levante que vou te curar'. E você vai ter que se entregar. Aí pediu pra ficar de costas e nisso ele começou a passar a mão no meu corpo, no meu abdômen, no meu seio, pela minha nádega, que até então, ele ja tava comprimindo meu corpo. Aí eu comecei a chorar, comecei a ficar desesperada e eu só pensava assim: 'Como eu vou sair daqui'. Eu olhava pra uma porta, olhava pra outra, e eu pensava: 'Se eu gritar, tem milhares de pessoas aí fora que endeusam ele, chamam ele de João de Deus'".

(DE UMA DEPOENTE QUE FEZ TRATAMENTO "MEDIÚNICO" CONTRA O CÂNCER DE MAMA)

"Ele ficou muito próximo, colocou minha mão pra trás, isso ele já estava com o pênis pra fora, ele falou: 'Põe a mão aí, isso é limpeza, você precisa da minha energia, que só vem dessa maneira pra fazer a limpeza em você'. (A depoente disse que o médium pediu pra voltar outras vezes) Às 7h da manhã, ele fez a mesma coisa, só que dessa vez ele sentou numa cadeira e pediu para eu fazer sexo oral nele".

Uma outra depoente além das outras quatro, a treinadora espiritual Amy Biank, também escritora estadunidense que preparava, desde 2002, as peregrinações à Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus atuava na cidade de Abadiânia, Goiás, afirmou que, ao ver João de Deus assediando uma jovem, forçando-a a fazer sexo oral com ele, o "médium" ordenou a treinadora a fechar os olhos, sentar e ficar calada.

"Eu vi que ele estava com a calça aberta, ela estava ajoelhada e com uma toalha no ombro. Ela não estava querendo fazer sexo oral nele, foi por isso que ela gritou. Mas eu sentei no sofá e fechei meus olhos, porque eu estava tão doutrinada a achar que aquilo tudo era divino e especial", disse Amy, que afirmou ter recebido ameaça de morte e, por isso, deixou de trabalhar na casa por medo de represálias.

O jovem Leandro Cruvinel Miranda também relatou a violência sofrida pela falecida mãe, Simone, quando esta procurou João de Deus para um tratamento "mediúnico" contra um câncer. João de Deus teria aberto a calça e obrigado a mulher a fazer o mesmo, e ele tocou a mão na calcinha dela. Simone teria se desesperado e João desistiu de ir adiante, assustado com a reação. Simone revelou o caso poucos dias antes de morrer.

A princípio, doze denúncias foram divulgadas até o último fim de semana. Uma carta anônima foi enviada para a produção de Conversa com Bial. Novos casos surgiram, com as vítimas sendo chantageadas, recebendo promessas de mesadas e até de barra de cristal. O mais grave é que esses abusos teriam ocorrido desde 1983. O caso está sob investigação.

João de Deus, através de sua assessoria e seus advogados, nega tais acusações. Uma das vítimas que falaram com Pedro Bial, porém, disse que teve medo de denunciá-lo antes porque "ele era muito poderoso". João de Deus tem, contra si, vários problemas.

Ele é acusado também de atentado ao pudor, contrabando de minério e de ter sido mandante do assassinato de um taxista. Não se conseguiu provas de tais hipóteses. Mas João de Deus é também latifundiário, com uma fazenda com a extensão de 18 Parques do Ibirapuera, um acinte se percebermos a extensão do atual Estado de Goiás, que perdeu metade de sua área para o atual Estado do Tocantins.

A denúncia foi o primeiro caso de grande repercussão envolvendo os ditos "médiuns". Entre 2016 e 2017, o "médium" baiano Divaldo Franco se envolveu em vários incidentes sombrios: acusou levianamente e sem fundamento os refugiados do Oriente Médio de terem sido "colonizadores sanguinários" em outras encarnações. Usou seu Você e a Paz para acolher o medíocre político João Dória Jr. e sua estranha farinata (um alimento perigoso, feito de restos de comida), além do farsante mistificador Sri Prem Baba.

Divaldo também deu várias entrevistas exaltando o juiz irregular Sérgio Moro, futuro ministro de Jair Bolsonaro e líder da Operação Lava Jato, nos mesmos termos que João de Deus, considerando-o "herói do Brasil" e desejando ver nele um futuro presidente da República.

Esses escândalos não tiveram repercussão, e foi preciso que Divaldo Franco não só repetisse sua tietagem pelo medíocre juiz paranaense, como também fizesse comentários de profundo reacionarismo contra os movimentos de esquerda e a comunidade LGBT para que se produzisse um escândalo de repercussão morna. Divaldo Franco se arruinou e perdeu a alta reputação que antes gozava, apesar de, após o escândalo, ter ainda recebido mais uma de suas opulentas medalhas da Universidade Federal do Piauí.

Consta-se que novos escândalos atingirão outros "médiuns espíritas". Apesar da Federação "Espírita" Brasileira não aprovar os "atendimentos individuais" de João de Deus e alegar, hoje, que o "médium" não tem vínculo com a entidade, até pouco tempo antes das denúncias o "médium" era acolhido pelo "movimento espírita" como um possível sucessor de Divaldo Franco, que hoje está com 91 anos.

Novos escândalos podem vir à tona e antigos incidentes negativos de Chico Xavier podem voltar a serem denunciados, criando escândalos ainda maiores que atingirão fatalmente o "espiritismo" brasileiro, doutrina marcada pela desonestidade e pelas traições cometidas aos ensinamentos originais de Allan Kardec, que teria se envergonhado com o "trabalho" feito pelos seus pretensos seguidores brasileiros. Muita coisa ainda está por vir.

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