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A mediunidade, a luz da Comunicação

(Autor: Ernesto Mascarenhas, via e-mail)

Realmente, os espíritas não entendem de Comunicação e vivem confundindo as coisas, quando o assunto é mediunidade. O médium, como muitas páginas que questionam a deturpação descrevem, deixa de ser o intermediário, passa a ser o centro das atenções e, no caso de fraude, são os próprios emissores de uma mensagem. O que, aliás, é muito comum.

Analisar o conteúdo da mensagem e o processo linguístico é um processo ignorado pelo espiritismo e as pessoas aceitam qualquer coisa que passe uma mensagem boa, de amor e de paz. Basta ser fraterno e pode-se mentir e enganar à vontade. Mas percebendo o processo da Comunicação, com base em conceitos teóricos específicos, dá para perceber o grande erro que é o espiritismo, quando apela para o processo de mediunidade.

Para começo de conversa, médium não é o sujeito que fala com os mortos. Quem fala com os mortos é um paranormal, um vidente ou ouvinte de coisas consideradas sobrentaurais. Em outras palavras, é o sujeito que "ouve" e "vê" o que normalmente não se ouve nem vê.

Médium é um intermediário. Vem de uma palavra latina, que quer dizer "canal de intermediação". O processo propriamente dito de falar com os espíritos falecidos não é ser médium, porque não há essa intermediação. A comunicação pura e simples com o espírito faz o encarnado ser o emissor ou o receptor da mensagem atribuída a um espírito, não o canal intermediário. Portanto, não é médium, apesar do termo ser constantemente associado a essa situação.

Ele se torna médium quando ele, entrando em contato com espíritos falecidos, transmite mensagem a outros encarnados. Ele se torna o canal de intermediação: solicitado por encarnados para entrar em contato com algum espírito do além-túmulo, o médium torna-se o "meio", o "intermediário", para se estabelecer esse contato.

Na Teoria da Comunicação, a função do médium seria, portanto, a de "canal". Ele não é um emissor nem receptor da mensagem. Ele apenas intermedeia as relações entre encarnados e desencarnados, como um ponto de encontro dos processos de emissão e recepção de mensagens que não podem ser realizadas de forma direta. Elas, portanto, são realizadas de maneira indireta, por algum especialista. Este é o médium.

Infelizmente, o espiritismo feito no Brasil criou distorções de sentido e corrompeu significados, criando até mesmo uma forma maluca de relações comunicativas. O médium passa a ser visto como o centro das atenções, ganhando fama e prestígio como um arremedo de filósofo e filantropo cuja função intermediária acaba sendo comprometida, quando não existente.

RUÍDO

Isso porque o espiritismo que conhecemos no Brasil é um procedimento irregular, em que o legado de Allan Kardec foi desprezado, até de maneira intransigente, mas os espíritas, envergonhados com isso e com a catolicização que se tornou a forma brasileira da Doutrina Espírita, pela hoje incômoda herança de Jean-Baptiste Roustaing, passaram a defender, no discurso, o pedagogo de Lyon, mesmo quando praticam igrejismos dos mais absurdos.

E aí o que vemos é uma falta de estudo, que faz com que mesmo os ditos médiuns considerados de alto conceito, como Chico Xavier e Divaldo Franco, apontem irregularidades sérias em seus trabalhos ditos mediúnicos. Trabalhos associados à psicografia e psicofonia apresentam irregularidades graves, geralmente apresentando o estilo pessoal do respectivo médium e sem nada apresentar de realmente pessoal no falecido a que se atribui autoria de cada mensagem.

E é aí que entra a desordem do processo de Comunicação. Quando há uma desordem, a Teoria da Comunicação a associa à ideia de Ruído, que é o fator de interferência num processo comunicativo. O Ruído, na Comunicação, não é ruim por si, porque essa interferência enriquece e redimensiona o processo comunicativo.

Mas no espiritismo feito no Brasil e também em países que lhe tomam de exemplo, como Portugal - onde há uma hilária psicografia simplória de um tal "Poeta Alegre", com poemas dignos de aluninho da 1ª série do ensino fundamental - o Ruído prejudica as relações naturais de Comunicação ao inverter ou corromper os papéis dos agentes envolvidos.

CENTRO DAS ATENÇÕES

O médium deixa de ser o intermediário. Como ele é o centro das atenções, ele passa a ser o emissor de uma mensagem. Se ela é atribuída a um espírito falecido, este se torna o canal. O médium, pelo prestígio que acumula, torna-se a "grife", o que reduz o espírito falecido a um canal intermediário, deixando ele de ser o emissor da mensagem, mesmo quando ele, em tese, a emita.

O receptor permanece o mesmo, o público encarnado. Com ou sem fraude, o médium se torna o emissor da mensagem, porque não é mais o contato com o morto que se torna fundamental na ocasião, o morto deixa de ser o emissor essencial, sendo apenas um canal para o prestígio e o carisma pessoal do médium, que deixa de ser médium, no sentido de intermediário. Daí que já se começa a falar de "anti-médium", devido ao caráter anti-intermediário.

O próprio médium, pela imagem de aparente filantropo que desenvolve, passa a ter destaque. Vira o centro das atenções, pela missão religiosa que desenvolve, e pelos livros e discursos que divulga. Com isso, ele se torna protagonista do processo comunicativo, as pessoas tratam o contato com o falecido como "secundário", já que a primeira ideia que lhes vêm em mente é o "médium-grife" que promete divulgar a mensagem.

Se nessa troca de papéis, em que pouco importa a mensagem do espírito falecido desde que ela venha de um "médium prestigiado", é considerada independente de fraude, a coisa se complica quando essa irregularidade é observada.

Neste caso, e se sabe que a maioria dos ditos médiuns não fala com os mortos, por não ter concentração suficiente para exercer esse contato, além da invigilância que os ignorantes da Ciência Espírita, até pelo desprezo prático aos ensinamentos de Kardec, acabam exercendo, criando mensagens imaginárias pelo animismo e pensando serem contato com o além-túmulo, é aí que o médium deixa de ser considerado realmente um médium, e isso acontece na quase totalidade do movimento espírita. Ocorreu até com Chico e Divaldo.

Isso porque existe uma manobra entre os espíritas que é produzir uma mensagem qualquer quando "dá branco" e não há uma educação paranormal para receber mensagens do além-túmulo. Além dos mecanismos de obtenção de informações pela "leitura fria" e por pesquisas bibliográficas ou documentais (no caso do acervo pessoal do morto ou de seus familiares), há uma produção de mensagem da própria mente pessoal do dito médium, que, para disfarçar o delito, costuma veicular mensagens "as mais positivas possíveis" e, de preferência, com algum apelo religioso.

Para quem não sabe o que é "leitura fria", ela é um recurso psicológico, uma técnica em que o entrevistador conversa com uma pessoa de forma intimista, de maneira que possa envolvê-la emocionalmente para que ela lhe forneça, sem saber, as informações mais sutis e engenhosas. Além disso, o entrevistador também obtém informações a partir dos gestos e da forma de dar depoimentos do entrevistado, de maneira a "ler" o significado das emoções, fazendo uma interpretação psicológica e obtendo informações, muitas delas subliminares, a partir dessas reações.

Chico Xavier foi constantemente acusado de usar seus colaboradores para fazer "leitura fria" com os parentes de falecidos que consultavam o dito médium. E essa técnica é muito utilizada nos chamados auxílios fraternos, embora os espíritas sempre aproveitem qualquer conversa, em qualquer momento, para obter informações dos entrevistados. Até mesmo no final de uma doutrinária num centro espírita.

É por coisas assim que o médium brasileiro deixa de ser intermediário. Portanto, ele deixa de ser médium. Seja porque virou um dublê de filósofo, um arremedo de filantropo, uma grife espírita, ou um inventor de mensagens. Em todos os casos, o médium deixa de assumir o caráter de canal intermediário que, no processo comunicativo, se exige através da palavra "médium".

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