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Chico Xavier, os esquerdistas iludidos e os espíritas calvinistas

(Autor: Kardec McGuiver)

Falamos várias vezes da mania de embutir qualidades a Chico Xavier para tentar justificar a sua suposta "perfeição". O objetivo é transformar o médium em um ser sobre-humano, que servisse para "mil e uma utilidades" na hora de "ajudar" a humanidade.

E uma dessas qualidades inventadas é a de "Cientista Político". A suposta profecia atribuída a ele graças a uma interpretação tola de um sonho surreal permitia que o médium ingenuo que não entendeu nada e só andava com espíritos mal intencionados "analisasse" o mundo politicamente.

Mas na verdade estamos citando esse aspecto não para analisar a posição politica de Xavier, mas sim a de seus admiradores e detratores. E o que é mais estranho é que há uma inversão entre eles pois politicamente, os detratores de Xavier se afinam com o médium enquanto há admiradores defendendo posições opostas a que Xavier assumiu publicamente em várias situações, mas de forma definitiva na famosa entrevista em 1971 para o programa de talk show Pinga Fogo.

Mas vamos analisar os dois lados da posição política dos brasileiros em relação a Chico Xavier e a posição política do médium e ao que a doutrina deturpada por ele afirma.

ESPIRITISMO CALVINISTA

Com a chegada do PT ao poder, em 2003, a elite detestou o resultado. Ricos e outros um tanto abastados nunca gostaram de ver um proletário no poder. Inventaram um monte de lendas urbanas sobre o ex-sindicalista na tentativa de enfraquecê-lo e desmoralizá-lo.

Com o envolvimento de alguns integrantes do PT e outros de partidos aliados e instituições colaboradoras em casos de corrupção, apareceu o motivo que a elite queria para derrubar de vez o proletário que eles nunca queriam ver no poder. E uma onda de ódio humano acabou surgindo diante disso, fortalecendo ideologias anti-humanistas como o fascismo, fazendo com que pessoas desejassem a morte alheia com a desculpa de "moralizar" o país.

Porque estamos falando nisso? Estamos na verdade abrindo as cortinas e mostrando o cenário por onde ocorre a peça do "Espiritismo" de direita, que podemos tranquilamente chamar de "Espiritismo" Calvinista, pelas afinidades com a seita protestante que criou as bases "morais" para o Capitalismo.

O "Espiritismo" é considerado uma religião de elite. Iludidos com a suposta racionalidade da seita, muitas pessoas de posses e portadoras de diplomas de nível superior aderem a seita, por achar que ela é mais verdadeira que as outras por ser "mais racional". Mas os mesmos seguidores se esquecem que "raciocinar" não é tarefa apenas das lideranças e também responsabilidade dos próprios seguidores, que acabam não verificando a veracidade de vários dogmas, muitos sem sentido.

O "Espiritismo" brasileiro sempre foi questionado por pessoas realmente mais racionais, que não aceitavam os enxertos não-espíritas colocados pelas lideranças brasileiras como Bezerra de Menezes, Chico Xavier e Divaldo Franco. Com a internet, as críticas ganharam força, pois deu voz a aqueles que clamavam por uma fidelidade doutrinária a Allan Kardec, algo que nunca aconteceu na prática.

Muitas comunidades nas redes sociais foram criadas no sentido de tentar devolver a racionalidade científica a doutrina, mas em algumas delas, até porque mesmo entre os contestadores há o predomínio de pessoas da elite, começou a aparecer estranhos pontos e vista muito mais interessados em defender os interesses dos poderosos e o bem estar da economia, descartando de vez a proposta de caridade sugerida por Allan Kardec.

Surge o que podemos chamar de "Espiritismo" (entre aspas também) Calvinista, um rótulo que não é assumido pelos seus seguidores, combinando poucos pontos da doutrina com ideais de direita. Apesar de haver direitistas no "Espiritismo" chiquista (há um direitista famoso, o ator Carlos Vereza, que é chiquista de direita, o que mais tarde veremos que é uma exceção), há muitos direitistas questionando a mitologia do "Espiritismo" brasileiro, mas trocando uma interpretação errada por outra, ainda se mantendo longe do Espiritismo original de Allan Kardec.

DIREITISTAS QUE CONTESTAM O DIREITISTA CHICO XAVIER

O "Espiritismo" Calvinista praticamente se sustenta com um único capítulo de toda a obra kardeciana: o que fala da Desigualdade das Riquezas, no Evangelho Segundo o Espiritismo, que é uma análise crítica ao Novo Testamento, mas entendida pelos chiquistas como uma adaptação "espírita".

Claro que é uma má interpretação, pois o que Kardec se refere como problema, os "espíritas" de direita entendem como um axioma. Apesar dos "espíritas" de direita viverem contestando o "Espiritismo" praticado no Brasil, eles repetem um dos maiores defeitos da versão deturpada da doutrina que é a crença na teoria da "recompensa vs punição". 

Há também a adaptação da mesma Teologia do Sofrimento defendida por Xavier, misturada com a teoria da Meritocracia, ponto básico do neoconservadorismo direitista dos últimos anos, que casa muito bem com a afirmação calvinista de que os mais ricos e poderoso são na verdade "vencedores de uma competição pela sobrevivência" ao mesmo tempo que são os "premiados pela espiritualidade superior", confirmando o caráter excludente desse novo e mais estranho "Espiritismo" que descarta de uma vez por todas o lema kardeciano "fora da caridade não ha salvação"

Trocando em miúdos: mesmo discordando das distorções da FEB, os "espíritas" de direita acabam propondo outra forma de deturpação, se mantendo ainda longe da proposta original kardeciana, mantendo a doutrina original ainda fora do alcance dos brasileiros.

ESQUERDISTAS QUE ADMIRAM O DIREITISTA CHICO XAVIER

Do outro lado há o predomínio, no "Espiritismo" chiquista com os ideais de esquerda. Vários sites e personalidades de esquerda já declararam explicitamente a sua admiração ao médium mineiro, num claro sinal de desinformação sobre o que ele realmente foi, tomando em base a falsa mitologia associada a ele.

Mesmo havendo casos de chiquistas de direita, como o citado ator Carlos Vereza, a regra é que os "espíritas" da FEB, que admiram a santíssima trindade Bezerra/Chico/Divaldo sigam ideias e a política de esquerda.

Suspeita-se que a origem disso tudo esteja na obra "Socialismo e Espiritismo" de Leon Denis, que não chega a ser considerado um deturpador da doutrina (ela já foi deturpada na França, por J.B. Roustaing), mas entendeu mal a doutrina e se permitiu inserir alguns enxertos estranhos como a crença em "almas gêmeas". Denis era simpatizante do Socialismo e tentou relacionar pontos da doutrina politica com a doutrina espiritual.

Denis é mais admirado no meio chiquista, pois a sua posição hesitante na doutrina, que chega a ser dúbia, é tratada com cautela pelos que querem a volta das bases kardecianas. Talvez seja esta a explicação da existência de muitos chiquistas de esquerda espalhados pelos centros "espíritas" pelo Brasil.

Claro que há esquerdistas em prol do Espiritismo original, como Sérgio Aleixo, hoje o melhor intelectual espírita da atualidade e esquerdista assumido e além de difundir a defesa de um Espiritismo mais racional, defende ideias e personalidades do Socialismo no Brasil e no mundo.

Mas Aleixo é uma exceção (junto a amigos meus no Facebook, incluindo o notável professor de História Lair Amaro, que pensam da mesma forma). A tendência, estranhamente, é dos críticos do chiquismo seguirem ideais de direita. O outro melhor intelectual espírita, Randolfo, da NEFCA, além de sua equipe, infelizmente da sinais de que seja direitista, apesar de não ser tão radical quanto os calvinistas. Mas o fato de ser direitista diminui um pouco a fidelidade doutrinária, pois direitistas não concordam com algumas formas importantes e mais ousadas de se fazer caridade.

CHICO XAVIER, O DIREITISTA ASSUMIDO

Tanto os direitistas que contestam a FEB quanto os esquerdistas que apoiam a mesma instituição estão completamente errados. Deveriam trocar de posição política ou de posição quanto à doutrina. Conhecendo Chico Xavier, o "mestre maior" do "Espiritismo" brasileiro, posições deverão ser revistas.

Chico Xavier se assumiu publicamente como um direitista. Era conservador e defensor do um moralismo retrógrado. Postura coerente com um beato que era devoto da forma medieval de Catolicismo. Apesar de pertencer a etnia parda, era racista. Era também machista e não via com bons olhos o homoafeto. Defendia a Teologia do Sofrimento, que complementa muito bem a tese da Meritocracia (os fracos devem sofrer e os fortes devem ser bem sucedidos).

E o pior: apoiou a Ditadura Militar na sua fase mais sanguinária, justificando que os envolvidos (incluindo os torturadores e censores) estavam "preparando um reino de amor", algo sem pé nem cabeça, mas que, junto ao prestigio do médium, ganhou ar de "alerta responsável".

É estranho Xavier ser admirado por esquerdistas e contestado por direitistas. Retrógrado, o médium mineiro contribuiu bastante para emperrar a evolução espiritual de seus seguidores, defendendo a Teologia do Sofrimento e se limitando a caridade paliativa, não deixando nenhum traço de transformação social no povo brasileiro e mesmo assim é definido como o "maior filantropo do Brasil", de graça, sem mover uma palha. Só porque seu mito soa simpático e comovente demais aos olhos dos incautos carentes de um filósofo a lhes orientar o caminho.

Quanto aos direitistas que renegam Chico Xavier, estão perdendo a oportunidade de usar o médium como grane propagandista de suas  convicções políticas. Pois se dependesse do velho médium, todo o governo Dilma seria deposto e um governo militar liderado por fascistas chegaria ao poder impondo ideais retrógrados e limitando drasticamente os direitos da maioria das pessoas.

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