(Autor: Senhor dos Anéis)
Os chiquistas são um tipo de fanáticos que está de acordo com muitos paradigmas do imaginário brasileiro.
Muitos se apressam em dizer que "não são espíritas". Outros, que "não são fanáticos". Outros, que não estão idolatram Chico Xavier nem o consideram semi-deus, mas "apenas admiram um homem simples e imperfeito". E por aí vai.
É tanta dissimulação, de um lado, e tanto pretensiosismo, de outro, havendo gente que ainda diz que as "mensagens de e sobre (e a favor de) Chico Xavier não fazem mal algum". Claro, falar que "sofrer é bonito, que precisa aguentar desgraça porque tudo passa" não faz mal para quem está remediado de vida. Para os remediados, a doença alheia é apenas um "vestibular para abençoados".
Desde os anos 1970 ficamos acostumados, e muito mal acostumados, com uma narrativa oficial, que nem sempre é realista, sobre Chico Xavier, que é um dos dois únicos brasileiros que são abordados através da fantasia, pois o outro é Adolfo Bezerra de Menezes, o "Kardec brasileiro" que introduziu o Roustanguismo no Brasil. Estes o jornalismo investigativo não mexe.
Contra Chico Xavier, então, nem se fala. Os chiquistas cobram dos contestadores um rigor científico tão rigoroso que deixa de ser científico para ser apenas o rigor dos rigores. E não adianta vir com provas e evidências nem com fatos obviamente realistas. Os chiquistas de hoje, sobretudo, que são "isentões", "senhores da última palavra" (eufemismo para "donos" da verdade), como tais eles desconfiam do óbvio.
"Não acredito no óbvio, que é óbvio demais para ser verdade", diz o "isentão" na Internet, com peito estufado, como um Carluxo politicamente correto que se acha "mais realista que o rei". Há tantos pseudo-intelectuais com seu apetite cosmético de maquiar seus argumentos sem lógica com um exército de palavras bem arrumadas, como se um neurolinguista fosse um general da linguagem.
Daí que tudo é feito para blindar Chico Xavier, e não raro pessoas que se dizem dotadas de abordagens "imparciais" e "objetivas" vêm com teses sem pé nem cabeça, como dizer, por exemplo, que os fakes literários eram uma forma "acessível" de "divulgar a palavra de Deus". Ah, quantos bolsomínions se escondem sob a capa do Espiritismo, incluindo os "isentos" ou os "de esquerda".
E o bordão dessa comédia discursiva é que "Chico Xavier fez caridade", um refrão que é repetido como um disco riscado e com a convicção de um papagaio. Afinal, que "caridade" ele fez? Antes que os chiquistas pulem da cadeira e reajam feito cães raivosos, esclareçamos o seguinte:
1) Doar cachê qualquer celebridade faz; doar lucros de determinada atividade não traz luz a pessoa alguma. É apenas uma questão de não receber dinheiro. Além disso, Chico Xavier renunciou formalmente o dinheiro, doando-o para a Federação "Espírita" Brasileira. Mesmo assim, ele continuou sendo sustentado por ela, além dos salários que ele recebia de outros empregos. E vivia em conforto, apesar do aparato de simplicidade;
2) "Cartas mediúnicas" foram uma "cortina de fumaça" para abafar a revolta popular contra a ditadura militar; além disso, glamourizava a morte - ótimo gancho para ficarmos felizes com as mortes dos presos políticos pela repressão militar, afinal só morria "romano" (os "petistas" do "espiritismo" brasileiro) e "comunista" - , representada por um "mundo espiritual" concebido sem a menor fundamentação científica, a partir da narrativa fantasiosa de Nosso Lar;
3) Nas "casas espíritas", Chico Xavier pedia para seus seguidores contribuírem com donativos; é a cigarra dizendo para as formigas colaborarem com doações. A "cigarra" pedia às "formigas" para praticar Assistencialismo, doando bens ou cozinhando sopinhas, e se promovia às custas delas;
4) Percorrer as ruas assistindo precariamente moradores de ruas, favelados etc, dentro daquela "peregrinação religiosa" conservadora, não é necessariamente um ato de generosidade humana. Quando se almeja protagonismo - notou que, dentro daquele clima do "quem muito diz ser, no fundo não é", Chico Xavier sempre alardeava a "caridade sem querer algo em troca"? - , é fácil até escrever cartas para presidiários, dar sopinhas e roupa velha para pobres etc.
Não é preciso saber por que os seguidores de Chico Xavier são pessoas com situação confortável de vida. Pessoas que não sentiram na carne, nem mesmo pela solidariedade distanciada, o sofrimento dos mais pobres. Elas estão mais próximas da classe média amiga da burguesia, que chora lágrimas de crocodilo quando vê pobres sofrendo, mas depois vão dizendo que "sofrer é tão bonito".
CHICO XAVIER DEFENDEU RETROCESSOS PREVISTOS NA "REFORMA TRABALHISTA"
As ideias de Chico Xavier são voltadas para a defesa do sofrimento humano, enfatizando a servidão humana. Seu conservadorismo era tão evidente que é difícil desmentir. Ele atinge apetites bolsonaristas, no pior momento, mas, em momentos melhores, não vai além do horizonte filantrópico limitado e tendencioso de Luciano Huck.
A defesa de Chico Xavier ao trabalho servil é tanto que só faltou os autores da Lei Nº 13.467, de 13 de julho de 2017, a chamada "reforma trabalhista", evocar o legado da "luminosa pessoa", porque os brasileiros estão dispensados em ler essa lei, bastando recorrer aos livros do "médium" se quiserem estudar essa "reforma" para concurso público. Apenas se pescam os artigos da referida lei, o resto fica por conta da obra de Chico Xavier.
Sobre a "reforma trabalhista", está tudo em Chico Xavier: o trabalho exaustivo, a pejotização (a desculpa de que o trabalho opressivo "enobrece" as pessoas), a perda de encargos trabalhistas (sob a desculpa de "desapego à matéria"), a "livre" negociação entre patrões e empregados que privilegia mais o patronato (sob o pretexto de que os patrões "também são filhos de Deus" e o "livre acordo" segue os "princípios de fraternidade cristã") e a servidão humana.
Pois bem, citamos Luciano Huck e ele, que, não custa repetir, é adepto "isento" - bem ao agrado dos "isentões espíritas" e "não-espíritas" - de Chico Xavier, se promove pelas mesmas "ações filantrópicas" que consagraram o "médium" que, devemos lembrar, era blindado pela mesma Rede Globo que formatou o "lado caridoso" do "fazendeiro de bundas".
Aparecer ao lado de pobres é fácil. Até o sanguinário Jim Jones, que passou uns dias em Belo Horizonte - é a BH de Chico Xavier, que também acolhe o "pregador" Guilherme de Pádua, que matou friamente a golpes de tesoura Daniella Perez - , apareceu ao lado de pobrezinhos. E também é muito fácil obter protagonismo se ficar dizendo o tempo todo que nunca deseja esse privilégio.
Antes que os chiquistas saltem da cadeira, como rottweilers em fúria, devemos lembrar das recomendações do mestre lionês Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns (obra que é uma coleção de puxões de orelha contra Chico Xavier), no Capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, que disse, na questão 226, item 6, o seguinte, com grifos nossos:
6. Se as qualidades morais do médium afastam os Espíritos imperfeitos, porque um médium dotado de boas qualidades transmite respostas falsas ou grosseiras?
— Conheces todos os segredos da sua alma? Além disso, sem ser vicioso ele pode ser leviano e frívolo. E pode também necessitar de uma lição, para que se mantenha vigilante.
Chico Xavier é uma espécie de Jair Bolsonaro com maracugina, sem a combinação Cloroquina e Rivotril dos "bolsomínions do bem" que são os chiquistas. Em todo caso, Chico Xavier era um arrivista, porque aquela literatura "mediúnica" confirmadamente era uma fraude, que contava com a participação dos dirigentes da FEB - que inseriram os tais "diversos estilos literários" nos pastiches - , e apresentava, também comprovadamente, problemas diversos.
Afinal, os "variados estilos" em Parnaso de Além-Túmulo, que sofreu remendos editoriais cinco vezes (!), portanto, depois de cinco edições lançadas (!!), apresentavam problemas como o fato dos estilos particulares de Olavo Bilac e Auta de Souza "desapareceram" nas "psicografias", enquanto Casimiro de Abreu "passou a gostar de sofrer" e Augusto dos Anjos apareceu "imitando Antero de Quental".
Isso sem falar de Humberto de Campos, que "perdeu" a narrativa ágil, laica e descontraída para "escrever" de maneira pachorrenta, com a monotemática moralista-religiosa, e que, de maneira surpreendentemente confirmada, mostrou uma "assinatura", em carta enviada para a iludida mãe do escritor, Ana de Campos, que difere aquela que está registrada na Academia Brasileira de Letras.
Apelos como "caridade" e "fraternidade" podem ser traiçoeiros, e pode-se forjar protagonismo e promoção pessoal às custas dessas palavras. A profunda desinformação das pessoas em tudo as faz recusar a compreensão da realidade, muito pior do que sonham as vãs fantasias em torno de gente como Chico Xavier, um sujeito deplorável que já merecia o repúdio total quando usurpou o nome de Humberto de Campos para promover sensacionalismo e enganar os leitores brasileiros.
Deixemos as paixões religiosas de lado e passemos a ver Chico Xavier de outro lado, um "Jair Bolsonaro do bem" que produziu literatura fake ao lado de uma equipe "da pesada" de consultores literários, e defendeu a ditadura militar a ponto de ser condecorado pela Escola Superior de Guerra, em 1972. Alguma pessoa, em sã consciência, acharia que a ESG, naqueles anos de chumbo, iria homenagear quem não tivesse colaborado com o regime ditatorial? Pensemos nisso.
Comentários
Postar um comentário