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Conviver com Chico Xavier não é garantia de testemunho autêntico e relevante

(Autor: Professor Caviar)

A fascinação obsessiva que leva muitos à adoração cega por Francisco Cândido Xavier, a ponto de investir na carteirada "isenta" - do tipo "olha que eu não sou espírita" - alardeia demais sobre a "assepsia" ideológica e moral dos seus seguidores e admiradores, de forma a muita gente ficar o tempo todo dizendo que Chico Xavier era "apartidário", "iluminado mas imperfeito" (talvez sua "luz" pifasse constantemente), "endividado" etc etc.

E aí vem pessoas de expressão social mediana, sem uma repercussão que os colocasse em admirável destaque na sociedade brasileira em geral, se gabando do "convívio" com Chico Xavier para se proclamarem "íntimos da figura humana do médium", como se tivessem "autoridade" para afirmar as supostas grandezas de seu ídolo.

É a mesma coisa que ocorre com Madre Teresa de Calcutá. É a tática do "convívio íntimo", o que, na verdade, não passa de propaganda enganosa. Afinal, o que muitos acreditam ser o "testemunho da figura humana por trás do mito" é, na verdade, uma dupla estratégia de manipulação. Afinal, não é o ser humano que se revela por trás de um ídolo religioso, mas é um mito que se desenha por trás de um mito, como se fosse uma máscara que está oculta sob outra, mais explícita.

Aqueles que "conviveram" com Chico Xavier não são pessoas de grande expressividade. Não foram grandes intelectuais, pessoas ilibadas ou de grande destaque - e falamos em contribuição de ideias e valores, não estamos citando o critério da "fama" ou da "visibilidade" - , mas pessoas de perfil mediano e até mesmo inexpressivas, que usam a figura do "médium" para obter visibilidade e emprestam suas pessoas para servir a essa propaganda enganosa que alega um pretenso humanismo a alguém que é alvo apenas de uma cega idolatria religiosa, seja esta escancarada ou dissimulada.

Mesmo assim, os adeptos de Chico Xavier, mesmo os "mais distanciados" (os tais "não-espíritas"), se sentem tentados a ouvir e ler qualquer um que falasse e escrevesse em favor do "médium". Se a "vovó do bolo de fubá" que são as igrejistas idosas que atuam em "centros espíritas" falam que Chico Xavier "apoiava abertamente a Ciência", acredita-se nelas piamente, sem que qualquer fundamento fosse apresentado. Basta falar ou escrever a favor do "médium" e pronto: até se Chico Xavier voasse como um Super-Homem para salvar criancinhas pobres caindo num penhasco se torna "verdade indiscutível".

Só que tudo isso, residindo no terreno do puramente emocional, não é confiável. Afinal, mitos religiosos se reforçam ainda mais, como mitos, como alvos de visões fantasiosas, justamente quando surgem pretensas testemunhas, gente que fala do "convívio íntimo" com o ídolo religioso e investe em clichês do tipo: "Eu que via o ídolo religioso fulano de tal, ao conhecê-lo intimamente tive o privilégio de entrar em contato com a figura humana e sincera por trás do mito". E blablablá.

Não há fundamento lógico, não há embasamento teórico. Afinal, exibir fundamentação e embasamento só serve para os opositores. Para os partidários, qualquer boato a favor de um ídolo religioso vira "verdade indiscutível". Até certos exageros são reprovados, mas dentro daquela risada paternal do tipo: "Eh, eh, não, não é bem assim, mas entendo suas licenças poéticas da fé, compreendo suas crenças". Não há uma crítica severa a alguém que acha que, desencarnado, Chico Xavier seria capaz de voar e parar um trem que dispara em direção a uma favela armada diante de uma ferrovia.

O que vemos nesses depoimentos sobre o "convívio íntimo" com Chico Xavier - como também em Madre Teresa de Calcutá - são o recurso da "campanha intimista", tipo de propaganda na qual pessoas simpatizantes de um ídolo religioso se presumem "conhecedoras da intimidade da brilhante figura humana" que conheceram nos bastidores de um evento religioso ou em eventuais visitas à residência ou ambiente de trabalho do referido ídolo.

Que garantia têm essas pessoas de que a "verdadeira pessoa" é manifesta por esses contatos? E o testemunho, em si, é autêntico? E que perfil têm essas pessoas, para terem legitimidade para trazer a "verdadeira imagem" do ídolo religioso?

Com base nas idades em que as pessoas entraram em contato com Chico Xavier, constatamos que a maioria dessas pessoas têm um perfil conservador, são idosas e tiveram pouco destaque em suas tarefas pessoais. Além disso, mesmo com todo o alarde do bordão "e olha que eu não sou espírita", o que elas fazem não é senão promover a idolatria religiosa, manifestar beatitude igrejista e tudo isso ao arrepio da lógica dos fatos, apesar de todo um aparato de seriedade e transparência, bastante duvidosos.

Até podemos considerar mesmo o bordão "não sou espírita". Afinal, quem é realmente espírita no Brasil? Umas duas ou três pessoas? O que menos se entende é a obra original de Allan Kardec, que, com seu rigor científico rejeitava muitas atitudes e procedimentos que, mais tarde, foram feitos pelo próprio Chico Xavier. Lendo O Livro dos Médiuns, se terá a constatação de que o pedagogo francês daria um violento puxão de orelha no suposto médium mineiro e o reprovaria imediatamente.

Esses testemunhos chapa-branca, de gente "isenta" e "ilibada", de inexpressivos ou medianos jornalistas, parlamentares, pedagogos etc, em prol de Chico Xavier, são apenas relatos emotivos de qualquer espécie, coisa que existe até em personalidades como Antônio Carlos Magalhães ou Emílio Garrastazu Médici. Personalidades conservadoras que têm seu círculo de amigos e seguidores, que ficam rasgando seda para aqueles que juram terem tido "convívio íntimo".

A própria falácia do "convívio íntimo" é discutível. Afinal, essas pessoas viram o sujeito na cama, o observaram acordando e escovando os dentes? Acompanharam a pessoa no dia a dia, mesmo, não só pelo convívio relativo equiparado ao de primos, colegas de trabalho ou vizinhos de uma residência um pouquinho distante da casa do tal ídolo?

São coisas que merecem ser pensadas com cuidado. Nem se tem ideia quem fala a favor de Chico Xavier, por exemplo. Que "isentos" são esses? Com que embasamento eles afirmam isso, é só o "amor"? Ou o embasamento é o prestígio de Chico Xavier, única pessoa na qual se mede o valor da "caridade" não pelos resultados (em verdade, abaixo dos medíocres), mas pelo prestígio do suposto benfeitor.
Esquecem as pessoas de tanta mistificação que entra em contradição o tempo todo. Não se trata de uma apreciação como a que teve Allan Kardec em sua vida, porque ele teve uma trajetória íntegra e elegante, e era marcado por sua simplicidade. O que vemos no caso de Chico Xavier, em contrapartida, é um sujeito que aprontou confusões diversas, com aquela literatura fake que já se confirma fraudulenta - ainda mais com a participação, apoiada pelo "médium", de dirigentes da FEB que "mexiam" nas supostas psicografias, muitas vezes após o lançamento da primeira ediçao - , e passou a ser blindado como uma "personalidade séria", a partir dos anos 1970, quando se tentou dissimular o lado pitoresco da figura do "médium".

Mas pessoas consideradas "ingratas" do "meio espírita", como os "médiuns" José Pedro de Freitas, o Zé Arigó, acusado de cobranças financeiras, e João Teixeira de Faria, o João de Deus, acusado de assédio sexual, estupro, charlatanismo, exercício irregular da medicina e enriquecimento ilícito, entre outros crimes, se revelaram também blindados e apoiados por Chico Xavier. Eles também "conviveram" com ele, com igual entusiasmo com seus seguidores e com o apreço do próprio "médium".

Aliás, Chico Xavier passava pano nas fraudes de materialização, assinando atestados de falsa legitimação, emprestando seu nome para tentar autenticar farsas. Ele consentiu e apoiou as modificações editoriais dos livros "mediúnicos", que incluíram verdadeiras bobagens da grossa como o verso "Sorrindo... Sorrindo...", que o "médium" queria, por opinião pessoal, modificar, porque o verso original lhe incomodava muito.

Além disso, se João de Deus virou "vidraça", devemos "agradecer" a Chico Xavier, porque foi ele que arrumou um "centro espírita" como "escudo" para o pupilo charlatão, assim que ele começou a ser denunciado pelos crimes. E o pior é que os aspectos sombrios de Chico Xavier são divulgados por "fogos amigos" aqui e ali, as piores denúncias vêm, pasmem, não dos opositores raivosos, mas por simpatizantes e adeptos considerados "isentos" e "idôneos".

Até O Globo fez esse "fogo amigo", denunciando, sem querer, o apoio de Chico Xavier a João de Deus. As Organizações Globo ajudaram a moldar o mito de "pessoa iluminada" que muitos conhecem do "médium". São aspectos preocupantes, que se escondem por trás da propaganda agradável que pessoas que nem conhecemos direito trazem como "testemunhas da figura humana do médium".

Afinal, não sabendo que pessoas são essas, ou mesmo entendendo que Saulo Gomes aposentou seu faro investigativo, trocado pela propaganda em torno de Chico Xavier, entendemos que essas pessoas não têm legitimidade para falar a verdade, uma vez que o que elas fazem são apenas relatos sentimentais, piegas, chapa-branca, narrativas sem um pingo de objetividade, por mais "sérias" que pareçam ser. 

Elas não têm legitimidade sequer para falar em nome do Espiritismo, independente de seguirem ou não um "espiritismo" bastardo ou se procuram "entender" o legado kardeciano. Daí que dar crédito àqueles que dizem ter "convivido intimamente" com Chico Xavier é um ato que em nada compensa em termos de ignorância, fanatismo religioso e mistificação de toda espécie. A verdade continua sendo jogada na lata de lixo.

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