O assassino da atriz Daniella Perez e hoje pastor da Igreja "Batista" da Lagoinha (seita neopentecostal elitista e reacionária), Guilherme de Pádua, saiu da toca e resolveu sair de Belo Horizonte para comparecer, com sua esposa Janaína Lacerda, a uma manifestação a favor de Jair Bolsonaro, pedindo o fim do isolamento social, a oficialização da cloroquina como "remédio para a cura definitiva da Covid-19" (como acreditam os bolsonaristas) e o fim dos poderes Legislativo e Judiciário. Eles também protestavam contra a "imprensa comunista", representada pelas nada esquerdistas Rede Globo e Folha de São Paulo.
Disse Guilherme num vídeo publicado nas redes sociais, com a típica demagogia bolsonarista:
"Estamos aqui no Congresso Nacional, agora estamos indo ali pra manifestação, né, em prol do Brasil. É isso mesmo, gente, o Brasil precisa mudar. Esses políticos corruptos, esses esquemas de tetas públicas, que o pessoal só fica explorando o povo brasileiro e o dinheiro, e as melhorias não chegam nas mãos do povo, não chegam na vida do povo. Se Deus quiser o Brasil vai mudar, não é meu amor? Sabe o que mais me impressiona neste momento político que o Brasil está passando? O que mais me impressiona é que tem pessoas que estão torcendo para tudo dar errado, torcendo para o Brasil se afundar em uma crise, torcendo até para o vírus, para que ele mate mais pessoas ou para que ele cause mais danos ao país em geral".
Conhecido por sua arrogância e pelo semblante agressivo - ao que parece, se orgulhando de como deu a volta por cima depois de ter cometido um crime de morte - , Guilherme de Pádua, ironicamente nascido em 02 de novembro, em 1969 - por muito pouco, ele nasceu dez dias antes de outro "homem de bem", Charles Manson, ter completado, já com as mãos molhadas de sangue e preso, 35 anos de idade - , é um dos principais nomes do obscurantismo religioso que se empoderou no Brasil através dos ditos "evangélicos" de tendência bolsonarista.
Mas imaginemos se Guilherme de Pádua, em vez de ter se tornado evangélico neopentecostal, ele tenha se transformado em "espírita" e se tornado "médium", para vermos como seria a reação dessa religião ambígua e confusa, o "espiritismo" brasileiro, cujas posições, pretensões e procedimentos vivem se chocando uns contra os outros, e, antes de mais nada, sempre se chocando com os ensinamentos originais da Codificação.
Imaginemos que Guilherme de Pádua passe a publicar obras "psicográficas" sob o crédito de sua própria vítima, e ele tenha se justificado com um suposto sonho: "Sonhei com a Dani e ela aceitou meu pedido de desculpas, desde que eu pudesse fazer livros de mensagens religiosas com mensagens ditadas por ela". Claro que tudo sai da imaginação do Guilherme, mas digamos que muitos acreditem que o espírito da jovem atriz tenha se manifestado na mente de seu "arrependido" assassino.
Claro que setores do "espiritismo" brasileiro iriam acolher positivamente a ideia, sob aquela desculpa da "fraternidade", aquele discurso macio e falsamente bondoso típico dos "espíritas". "Entendemos que um irmão que fez mal a alguém queira reparar isso e representasse a própria vítima ao transmitir mensagens de consolação e esperança, o que aprovamos muito, por estar de acordo com os ensinamentos do Cristo", diriam os "espíritas".
Guilherme também teria o oportunismo para dizer que Daniella foi morta "porque tinha uma dívida moral em outra encarnação", e talvez até inventasse uma encarnação antiga, como, suponhamos, a aristocrática Lídia, que havia dado golpes de tesoura a um empregado de fazenda, no século XIX, que costurou errado um vestido de gala. Guilherme poderia se apegar ao nome de Daniella e supor que ela tornou-se sua "BFF do além-túmulo", e ela se vincular a ele como vemos o nome de Humberto de Campos vinculado, tendenciosamente, a Chico Xavier.
Glória Perez iria protestar e ela mesma iria identificar problemas nas "psicografias", que apresentariam mais o estilo masculino de Guilherme de Pádua, com uma narrativa muito diferente do que a dramaturga conheceu do convívio com a falecida filha.
A novelista então entra em processo judicial, pondo em dúvida as "psicografias". Mas como o lobby do "espiritismo" faz com que a Justiça aceite mensagens fake quando estas envolvem mensagens "cristãs" - uma condição que não é determinada declaradamente, mas é levada em prática - , o jurista de plantão irá considerar o processo de Glória Perez "improcedente" e cobraria da autora o pagamento dos custos advocatícios, depois que sua ação judicial sofreu derrota através de um empate técnico (a Justiça não admitiu veracidade das "psicografias", mas as aceitou por omissão).
Imagine Guilherme de Pádua se apropriando do prestígio e do nome de sua vítima, falando de sua suposta convivência com o espírito, dando depoimentos à imprensa sobre supostos conselhos da "nova amiga", e usando o nome dela até para supostas profecias sobre um Brasil futuro. E Guilherme usando uma "caridade de fachada", à maneira de Luciano Huck, como escudo para abafar as críticas e obstáculos à sua trajetória.
Imaginemos, também, se o bolsonarismo de Guilherme de Pádua fosse mais enrustido, um direitismo convicto mas que, de tão dissimulado, ganha a aceitação imediata das esquerdas que, na sua boa-fé, reproduzem os textos atribuídos ao "espírito Daniella Perez" nos blogs de esquerda.
Como a sociedade brasileira reagirá, nessas condições? O Brasil caminha para um surrealismo catastrófico, por culpa não só dos fascistas que se ascenderam no cenário sócio-político atual, mas também das próprias esquerdas (complacentes com Chico Xavier, colaborador da ditadura militar) que permitirem que o Brasil seguisse esse caminho para o abismo. A hipotética narrativa acima põe para pensar diante de um caso extremo de surrealismo, num contexto em que as pessoas, presas no seu solipsismo, deixam ocorrer retrocessos e absurdos, só porque "não mexem com suas vidas".
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