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A "indiscutível caridade" de Chico Xavier não passou de 'marketing'

(Autor: Professor Caviar)

A esperteza humana tem suas sutilezas que muita gente não consegue perceber. A humanidade é complexa e mesmo atos aparentemente agradáveis podem esconder alguma coisa de profundamente desagradável.

O "bombardeio de amor", por exemplo, parece uma demonstração de profunda afetividade humana e de supostos apelos de grande beleza e ternura. Desconhecidos lhe dirigem parecendo demonstrar o carinho de amigos de infância. Frases são ilustradas por paisagens naturais muito agradáveis, o "benfeitor" aparece com seu rosto fundido num céu azul, dando a crer que as frases que ele diz são ditadas por Deus.

Só que tudo isso é armadilha, conforme os mais conceituados analistas da linguagem no Velho Mundo tanto alertam. A própria Natureza aponta que animais que parecem simpáticos, como certas espécies de sapos, são venenosos. Hienas e ariranhas são extremamente violentos. A cicuta é um veneno com um sabor doce e delicioso. Mancenilheiras são mortais até na sombra de suas folhas e no encosto dos seus troncos, e também oferecem frutas deliciosas, mas que podem matar por asfixia e parada cardiorrespiratória.

O Brasil ainda é educado por paradigmas religiosos medievais, que mal estabeleceram a concessão de tolerar religiões estranhas ao legado católico-protestante, como o candomblé e o islamismo. Além disso, a ilusão de que esse medievalismo religioso católico-protestante compõe as "tradições populares" faz com que se aceite a "catolicização do espiritismo" como algo positivo, minimizando as traições doutrinárias atribuindo as ideias cientificistas da Codificação como "valores próprios europeus".

Ficamos no círculo vicioso de falar que Francisco Cândido Xavier "viveu para a caridade". Algo que se repete feito papagaio alucinado, sem que houvesse alguma motivação para tanto. Esquecemos que essa suposta filantropia nunca passou de pantomima para blindar Chico Xavier e isentá-lo dos efeitos negativos de seus erros, gravíssimos, que foram três:

1) Deturpar a Doutrina Espírita, inserindo nelas conceitos opostos ao dos trazidos por Allan Kardec;

2) Criar fraudes literárias, com a ajuda de editores da Federação "Espírita" Brasileira, mas com o consentimento e apoio aberto do "médium", que claramente mostravam problemas diversos em relação a aspectos pessoais dos supostos autores espirituais;

3) Era tão reacionário que apoiou a ditadura militar a ponto de ser homenageado pela Escola Superior de Guerra, que não iria perder tempo homenageando quem não colaborasse com o poder ditatorial, porque homenagem requer tempo e dinheiro.

Como as fronteiras entre realidade e fantasia, nesses tempos de fake news e construção midiática da realidade, não são devidamente delimitadas, então acredita-se em tudo em favor de Chico Xavier, ainda que fossem coisas imaginárias, no âmbito da fantasia.

"CARIDADE" PALIATIVA E SEM MUITA EFICIÊNCIA

Em primeiro lugar, devemos dizer que a suposta caridade de Chico Xavier se baseou em ações meramente paliativas, "intensificadas" quando o "médium" passou a adotar o método publicitário de Malcolm Muggeridge, que moldou a imagem "santificada" de Madre Teresa de Calcutá, para esse consumismo das emoções que é o fanatismo religioso.

São ações fajutas, que qualquer Luciano Huck faz e nem por isso se torna "mais iluminado". São ações que visam mais o protagonismo do suposto benfeitor, que "ajuda" dentro dos limites conservadores, sem "dar demais" aos pobres ("dar demais" é eufemismo para a concessão de benefícios que ameacem os privilégios das classes ricas, forçadas a ceder muito de seus bens), mas o suficiente para gerar multidões de beatos que louvam o "caridoso" nas redes sociais.

Chico Xavier pedia a outras pessoas a arrumarem donativos. Enquanto isso, ele "peregrinava" para fazer Assistencialismo para favelados, moradores de rua e, por meio de cartas, a presidiários. Ações que nada fazem para mudar profundamente a situação, e servem mais para executar a Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo, que o "médium" sempre defendeu.

Em outras palavras: o "médium" quase nada fazia pelos pobres. Apenas fazia para "aliviar a dor" da miséria. Mas "aliviar a dor" não é curar. Para quem é remediado, como são os chiquistas, isso tanto faz, para eles "Y" é um "V com pezinho", não estão aí para saber se a pobreza é combatida totalmente ou é apenas diminuída para evitar consequências extremas.

Como afirma nosso amigo Groucho Lênin, do blog Charlatães do Espiritismo, Chico Xavier é um paiol de bombas semióticas, uma perigosa bomba-relógio que precisa ser desmontada com muito cuidado. O "pacifista" Chico Xavier executa, mesmo postumamente, uma guerra criptografada na qual o "médium" tornou-se, informalmente e de forma não declarada, o "dono da verdade", forçando seus seguidores a desqualificarem a realidade dos fatos, quando elas apontam para um dado desagradável ou negativo sobre o "médium".

Num contexto de informações embaralhadas e manipulação do inconsciente coletivo, a confusão mental das pessoas mistura realidade com ficção, o que permite que um exército de "isentões espíritas" fiquem arrotando argumentação para defender ideias sem pé nem cabeça sob o verniz da "imparcialidade".

Por isso é que o "isentão" que vive no seu conforto expressivo - supostamente sem privilégios nababescos - pouco se liga se os pobres melhoraram realmente de vida. Ele fala tanto na "caridade" de Chico Xavier, mas tudo o que ele quer é blindar o "médium", pouco importando se ele ajudou ou não os mais necessitados.

TRUQUE PUBLICITÁRIO COM ROTEIRO DE MALCOLM MUGGERIDGE

O que devemos chamar a atenção é que a imagem que hoje se tem de Chico Xavier como "pessoa iluminada" - mesmo sob o rasteiro eufemismo do "homem imperfeito e simples", carteirada por baixo bem ao gosto "gente como a gente" do "complexo de vira-lata" brasileiro - foi uma construção da ditadura militar, sob a ajuda da Rede Globo, para criar um suposto "líder ecumênico" que, alegadamente, fosse um "colecionador de virtudes humanas".

Esse truque publicitário teve o roteiro de Malcolm Muggeridge, através do documentário Algo Bonito Para Deus (Something Beautiful For God), de 1969, que foi a fonte usada para se trabalhar o mito de Chico Xavier como hoje conhecemos e que foi propagado por um poderoso lobby que o "movimento espírita" arranjou de jornalistas, acadêmicos, juristas e intelectuais "laicos".

Antes disso, havia até ações "filantrópicas" de Chico Xavier, como formas de blindagem orientadas pelo tutor Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB na época, que atuava como se fosse "empresário" do "médium". Mas eram coisas de projeção meramente regional, e quem pesquisa as coisas vai perceber que a imagem glorificada do "médium" só foi forjada de 1974 em diante, de forma sistematizada, embora a revista O Cruzeiro tivesse feito um ensaio em 1971 ao mostrar Chico Xavier carregando uma criancinha no colo, imitando a tática marqueteira de Madre Teresa de Calcutá para forçar a comoção popular.

No entanto, Chico Xavier era visto como um "pitoresco paranormal", até o começo dos anos 1970. Sua figura "glorificada" praticamente não existia ou, se havia, era apenas um fenômeno local, das cidades mineiras de Pedro Leopoldo e Uberaba. Nada que fizesse o "médium" ter repercussão suficiente nem reputação bastante para ser incluído na lista de personalidades famosas nos verbetes das respectivas cidades nos respeitáveis volumes da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O mito do "bondoso médium", tal como hoje se conhece, foi inspirado no "método Malcolm Muggeridge". Daí todo um teatrinho "filantrópico": a ênfase na suposta humildade, as ações paliativas do Assistencialismo (tendenciosamente creditado como "Assistência Social"), o tratamento paternalista com o povo pobre, as frases de auto-ajuda e "aceitação do sofrimento" etc.

Aliás, existe uma grande contradição que joga Chico Xavier contra sua própria imagem de "caridoso": ele sempre pregou que os sofredores deveriam suportar as desgraças em silêncio, esperando que "Deus lhes socorresse no momeno oportuno (sic)". A própria Teologia do Sofrimento é um "holocausto do bem", com os mesmos flagelos justificados por uma retórica mansa, conversas para boi e para desgraçado dormir.

A "indiscutível caridade" de Chico Xavier, não bastasse ter sido feita nos padrões oportunistas de Luciano Huck, era apenas uma estratégia de marketing para tentar influenciar a opinião pública e evitar que se questionasse o mito de um deturpador doutrinário envolvido em literatura fake. Como inimigo interno do Espiritismo, o esperto Chico Xavier conseguiu manipular as pessoas através de um variado repertório de apelos que podem ter partido de influências terceiras - como Antônio Wantuil de Freitas e, de forma indireta, de Malcolm Muggeridge - , mas que foram feitos com a vontade e o interesse próprios do "médium" em enganar multidões inteiras.

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