(Autor: Professor Caviar)
O "espiritismo" brasileiro é mais materialista do que seus membros podem pensar ou admitir. Seu materialismo chega a ser neurótico e surreal, mas de fato essa visão materialista existe e é comprovada por muitas de suas práticas.
Para começar, a atribuição de vida espiritual, feita ao arrepio da Ciência Espírita. Allan Kardec afirmava que não havia qualquer concepção plausível de mundo espiritual que pudesse ser considerada, e os fatos mostram que sua tese continua insuperável. O mundo espiritual provavelmente existe, mas não se sabe como ele é.
Contrariando os ensinamentos kardecianos, os "espíritas" brasileiros, a partir da atuação, desastrosa para a doutrina, do "médium" Francisco Cândido Xavier, inventaram um mundo espiritual feito de acordo com suas paixões materialistas. A obra Nosso Lar, atribuída ao fictício autor André Luiz, plágio do livro britânico A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), de George Vale Owen e com prováveis sugestões do menino-prodígio Waldo Vieira, abriu precedente para tais fantasias.
Com isso, criou-se uma "visão espírita" que parece correta, mas não é. A da desvalorização da vida material, incluindo a criminalização do prazer, a resignação com as perdas, a aceitação do sofrimento e outras barbaridades, que os brasileiros, desinformados das coisas e complacentes com qualquer arbitrariedade feita sob o rótulo da religião, faz com que se crie um "espiritualismo" masoquista, que reduz a encarnação humana a uma triste gincana de torturas e humilhações.
VISÃO ROUSTANGUISTA
O que muita gente desconhece é que essa visão de que a vida material tem que ser pautada na aceitação do sofrimento, difundida a partir das obras de Chico Xavier, é herdada do punitivismo de Jean-Baptiste Roustaing, portanto não é um conceito originalmente próprio da Doutrina Espírita.
Roustaing falava que a vida material era uma punição, e isso foi a herança que o roustanguismo trouxe para o "espiritismo" brasileiro que, hipócrita, renega hoje o seu nome. Mais voltado à Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo, do que aos próprios postulados espíritas originais, o "espiritismo" brasileiro deu até um jeito para justificar sua defesa extremada do sofrimento alheio, usando essa corrente católica que equivale ao "holocausto do bem".
A ideia é criar um imaginário "mundo espiritual", no qual se alega haverem concepções análogas à da Terra. Chega-se a dizer que as obras artísticas "lá existentes" são "melhores" que as obras terrenas. Fala-se até mesmo na existência de um "bilhete único", no caso os bônus-hora, que serve para pagar até ingresso para o cinema, entre tantas outras coisas.
Por isso, cria-se um "prêmio", mais atraente que o "paraíso eterno" dos católicos, porque este, ao menos, não conta de uma forma determinada. O "paraíso" dos "espíritas", pelo contrário, conta até com mapa, vista aérea, perímetro urbano, localização de prédios etc. Tem até uma "favela", o chamado "umbral", onde se localizariam pessoas de baixo nível moral.
Ficamos imaginando se essa dicotomia "Nosso Lar" X "umbral" não seria também um plágio de Admirável Mundo Novo (Brave New World), obra de Aldous Huxley que dividia entre um mundo "civilizado" e uma "zona marginal". O clássico da literatura foi lançado em 1932, mesmo ano do embuste poético Parnaso de Além-Túmulo.
Os "espíritas" ficam apelando para a aceitação do sofrimento, de parte dos outros, porque eles, os "espíritas", não sofrem. Estes ficam fazendo turismo, comercializando palavrinhas dóceis através de livros ou palestras, e acham que já "sofrem demais" quando são duramente criticados. Até quando se constata que eles são deturpadores do Espiritismo eles reagem chorando, fazendo drama, dizendo "ah, que julgamento severo! Os inquisidores! A overdose de raciocínio, o tóxico do intelectualismo!".
Pimenta nos olhos dos outros é refresco, e se observa que, para os "espíritas", pouco importa se a pimenta vai arder nos olhos dos outros durante décadas, pelo resto da vida, com os sofredores sendo proibidos de gemer de dor, sendo obrigados a ficarem calados até durante a prece, sufocando a dor extrema pela mordaça, para que assim não se perturbe a paz dos privilegiados. Isso é uma crueldade, e quem defende esse martírio são, pasmem, pessoas associadas à "bondade" e à "caridade".
A desvalorização da vida material, a criminalização do prazer, o desprezo à individualidade e aos desejos e vontades pessoais, tudo isso faz dos "espíritas", que são perversos apologistas do sofrimento alheio, grandes materialistas. Eles rejeitam a intervenção do espírito na matéria, preferindo que as pessoas sejam marionetes das adversidades da vida, a título de prêmios imaginários no além-túmulo, o que significa uma visão que nada tem de espiritualista, mas de um materialismo bastante doentio.
Afinal, o materialismo doentio não está na preocupação da pessoa em realizar-se na encarnação presente, mas na atribuição que os "espíritas" brasileiros fazem do mundo espiritual, que, sem estudos sérios da Ciência Espírita são concebidos de acordo com as paixões materiais. Assim, renegar a vida material em nome de um "paraíso espiritual" revela um gritante materialismo dos "espíritas", que apenas transferem suas paixões materiais para o "outro lado", com o agravante de desconhecermos o que realmente está no além-túmulo.
Periga a desilusão ser muito dolorosa assim que os "espíritas" regressarem á chamada "pátria espiritual", mais dolorosa do que os ditos "apegos da matéria" na vida terrena...
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