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O ingênuo e confuso movimento dos "espíritas à esquerda"


(Autor: Senhor dos Anéis)

Embora, à primeira vista, pareça bem intencionado um movimento de espíritas progressistas, a organização chamada "Espíritas à Esquerda" é fundamentada em uma grande confusão de ideias, na medida em que acolhe o "espiritismo" deturpado brasileiro, causando problemas na expressão de suas ideias.

Em 26 de outubro de 2019, portanto, há poucos dias, houve em Salvador, Bahia, o I Encontro Espíritas à Esquerda, com vários convidados, entre eles um dos líderes desse movimento, o psicólogo e educador Franklin Félix, e, por ironia, um ex-diretor da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, também economista baiano.

O encontro impulsiona o movimento, que, em tese, procura associar Espiritismo e Esquerdismo, com base nas teóricas hipóteses de auxílio ao próximo e combate às desigualdades sociais. O movimento tem até gente correta, como Sérgio Aleixo e Dora Incontri - os únicos a manifestarem maior proximidade com o Espiritismo francês - , mas a linha geral apela para aceitar as distorções trazidas pelo catolicizado "espiritismo" brasileiro.

Em primeiro lugar, porque os "espíritas à esquerda", embora estivessem bastante decepcionados com o "médium" Divaldo Franco, pelos comentários reacionários que expressou nos últimos anos e pela associação a políticos como João Dória Jr. - que teve sua farinata (composto feito por restos de comida de origem duvidosa) divulgada na edição paulista do evento Você e a Paz, em 2017 - , ainda manifestam apreço por Francisco Cândido Xavier.

Esquecem os "espíritas à esquerda" que Chico Xavier manifestou um reacionarismo ainda mais contundente do que o de Divaldo Franco. São provas robustas como a origem social ultraconservadora, a formação católica ortodoxa e os comentários no programa Pinga Fogo da TV Tupi, expressos para um gigantesco público que o via na plateia, pela televisão nos seus lares e, na posteridade, pelos internautas através de vídeos em plataformas como o YouTube.

Alguns "espíritas" tentam creditar o direitismo dos "médiuns" como se fossem meras opiniões pessoais sem efeito doutrinário. Sem poder mais relativizar esse direitismo, apelam agora para separar os "médiuns" dos indivíduos, deixando as opiniões reacionárias para um foro privado, evitando que eles sejam reconhecidos como "formadores de opinião" neste sentido.

No entanto, é só ver os livros e ideias de Chico Xavier para perceber o que lhe há de mais gritante no seu reacionarismo: ele tem, sim, efeito doutrinário. São ideias que, embora fossem creditadas a autorias alheias (como Emmanuel, por exemplo), elas são corroboradas pelo "médium", que em nenhum momento se opôs a elas, muito pelo contrário.

São ideias calcadas na Teologia do Sofrimento e que, pasmem os "espíritas à esquerda", se encaixam perfeitamente em pautas políticas reacionárias, como o trabalho exaustivo, a "livre negociação" entre patrões e empregados e mesmo a "cura gay", que ninguém imaginaria estar presente em Chico Xavier, mas está, e de maneira bastante surpreendente.

Expliquemos. Chico Xavier defendia que a pessoa encarnada tivesse que se submeter aos desígnios de Deus. Se a pessoa foi uma mulher que reencarnou em um homem, a ideia é se submeter à nova condição sexual, que segundo Chico Xavier foi uma determinação de Deus dada ao nascimento. Para Chico Xavier, o homossexualismo é resultante de tormentos emocionais e cabe ao indivíduo superar isso, sendo a ele aconselhado a seguir os condicionamentos da atual condição sexual.

Não dá para forjar o pensamento desejoso e pegar uma palavra solta como "livre arbítrio" e, associado com a fala mole e efeminada do "médium", ficar gritando arrogantemente que "Chico Xavier nunca defendeu a cura gay". A lógica mostra que ele defendeu a "cura gay", sim, e o próprio "médium" aconselhava as pessoas a aceitar as imposições naturais de Deus, e não se rebelar contra elas.

O direitismo de Chico Xavier não foi acidental. Ele tornou-se colaborador da ditadura militar - afinal, se ele foi homenageado pela Escola Superior de Guerra, mentora da ditadura, é porque deu uma contribuição muito valiosa a ela, sobretudo no anestesiamento das mentes humanas - e foi um dos poucos que apoiaram a ditadura até o fim e nunca se manifestaram pela redemocratização, que o "médium" preferia botar "na conta de Deus".

Não dá para usar o pensamento desejoso e dizer que Chico Xavier foi obsediado, foi tomado pelo impulso do momento ou coisa parecida, e conceber nele uma imagem progressista que nunca lhe existiu, mesmo em momentos de aparente generosidade. É necessário reconhecer que o conservadorismo do "médium" é fato consumado e não há como discutir o óbvio, criando metáforas onde não existe e forjando relativismos inúteis.

Esse é o problema dos "espíritas à esquerda", que, além disso, parecem mais confusos no cruzamento de paradigmas socialistas com os do conservador "espiritismo" brasileiro. Se eles se limitassem ao Espiritismo francês, original, de Allan Kardec, esse sim progressista e iluminista, tudo bem, mas do jeito que atuam na "conduta espírita", os "espíritas à esquerda" soam muito contraditórios.

E isso traz até azar. Porque um "espiritismo à esquerda" com Chico Xavier é, sem dúvida alguma, um tiro no pé. Exaltar um reacionário num movimento esquerdista, ainda mais num contexto misticamente perigoso, só traz azar. Foram as esquerdas exaltarem Chico Xavier para o golpe político de 2016 ser facilmente implantado. Foi Dilma Rousseff ler Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho para perder seu poder e não poder recuperá-lo, mesmo usando os recursos da lei.

E quando um ex-diretor da Petrobras participa de um evento como o I Encontro Espíritas à Esquerda, ficamos vendo como o pré-sal irá escapar de nossas mãos, feito água escorrendo. Os golpistas no poder continuarão se empenhando para entregar nossas riquezas para empresas estrangeiras, enquanto os esquerdistas rezam para Chico Xavier trazer um país próspero. Só que, em vez do Lula Livre, o futuro dos brasileiros tende a ser um gigantesco caldeirão.

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