(Autor: Senhor dos Anéis)
Ontem o ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva foi solto, às 17h40, da prisão na sede da Polícia Federal, em Curitiba. A medida foi favorecida pela votação do Supremo Tribunal Federal que, por seis votos contra cinco de seus ministros, deu fim à condenação criminal em segunda instância, voltando a garantir, ao réu, o direito de ampla defesa até o esgotamento de seus recursos jurídicos, chamado de "sentença transitada em julgado".
Não foi um ato trazido pelas vibrações religiosas do "Paz e Bem" e muito menos porque "espíritas" rezaram para Francisco Cândido Xavier pedindo para que "os homens da Justiça olhem com carinho e decidam pela soltura de um lider caridoso". Nada disso. O ato que deu fim à prisão de Lula se deu porque circunstâncias permitiram que o STF revisse suas posições e exercesse um mínimo de legalidade.
A soltura se deu, portanto, por um cenário de desgaste do governo Jair Bolsonaro e da Operação Lava Jato. Denúncias dão indício de que Jair Bolsonaro estaria ligado a milicianos acusados de matar a vereadora Marielle Franco, provavelmente tentando blindá-los de alguma forma.
Além disso, o jornal The Intercept publicou uma série de reportagens que demonstram que a Lava Jato, sobretudo através das figuras do então juiz Sérgio Moro - ministro da Justiça de Bolsonaro - e o procurador Deltan Dallagnol, praticavam atos de corrupção piores do que a corrupção que diziam combater.
Esses dois fatores, juntos, causaram uma crise institucional no Brasil que assusta até os setores conservadores da sociedade brasileira, os mesmos que pediram o golpe político contra Dilma Rousseff, em 2016, porque viram que o processo foi longe demais e a direita "democrática" viu sair de suas mãos o controle do processo, depois de admitirem que o bolsonarismo era necessário para "pôr ordem no país", em 2018.
Evidentemente, ainda há muito o que fazer para as forças progressistas voltarem a governar o país. Lula não retomou o poder, e só agora voltará a ser uma voz de oposição, mas ainda não se sabe se ele voltará a ser elegível ou se ele, se assim for, conseguir vencer as eleições presidenciais. Vale lembrar que ainda há uma forte oposição contra ele, e mesmo que as manifestações de hoje, contra a soltura de Lula, foram um fracasso, ainda assim elas expressam um ódio violento contra o petista.
O "MÉDIUM" QUE MAIS PROTEGEU A DITADURA MILITAR
Todos se esquecem que Chico Xavier foi o religioso que mais defendeu e apoiou a ditadura militar, com uma convicção que deixaria até mesmo os mais fanáticos admiradores do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra boquiabertos.
As declarações no Pinga Fogo da TV Tupi, o comparecimento às homenagens na Escola Superior de Guerra, as supostas psicografias - uma delas usando o nome de Castro Alves, que há muito não está mais aí para reclamar - elogiando a ditadura, e tudo o mais. Tudo isso Chico Xavier fez e é de um direitismo extremamente explícito, escancarado, exposto a milhões de brasileiros.
E quem imagina que esse direitismo era apenas fruto de opiniões pessoais de Chico Xavier - fracassou a tentativa da turma do pensamento desejoso de "esquerdizar o médium" - e não tiveram efeito doutrinário em sua obra, se engana.
Os livros de Chico Xavier são verdadeiros atestados de pautas direitistas, guiados pela medieval Teologia do Sofrimento: defesa da aceitação da desgraça humana ("sem queixumes", nas palavras do "médium"), defesa do trabalho exaustivo, complacência com o opressor, defesa do "livre acordo" entre patrões e empregados (com a desculpa de que "só Deus" irá regular tais negociações), além da tese do "desapego" aos bens materiais, que reflete ao âmbito salarial (defesa de baixos salários).
E para os "espíritas à esquerda" ou mesmo os "isentões espíritas" que ficam pulando com raivinhas negando que Chico Xavier defendia a "cura gay", achando que isso é um "desaforo" e "fake news sem tamanho", devemos explicar o seguinte: o "médium" apoiou, sim, a "cura gay", mas não com este nome.
É bom deixar claro que Chico Xavier defendia a submissão do homem a Deus, e isso inclui a reencarnação, feita sob seu prisma moralista e, não raro, punitivista. A moral de Xavier era punitivista, vale lembrar. E quando uma pessoa reencarna de uma condição sexual para outra e sofre confusões mentais com isso - o que Chico Xavier considera ser o homossexualismo, uma "confusão mental" - , cabe a ela rever isso e aceitar a condição sexual determinada pelo nascimento.
Soa desagradável dizer, mas Chico Xavier apoiou com gosto a ditadura militar, nunca fez campanha pela redemocratização do país - que ele acreditava que viria, tardiamente, por "decisão de Deus" - , apoiou Fernando Collor em 1989 e manifestou, até o fim da vida, seu pavor por Lula, semelhante ao que vemos em Regina Duarte, por exemplo. Chico foi o religioso que mais apoiou a ditadura militar, mesmo quando parte da direita, mesmo a católica ortodoxa, havia mudado para a oposição.
Devemos também lembrar que Chico Xavier foi promovido como um pretenso ativista social, com a imagem de suposto filantropo plantada pela Rede Globo com base no que o britânico Malcolm Muggeridge, jornalista da BBC, forjou para a megera Madre Teresa de Calcutá.
E isso foi um ato que a ditadura militar e a Rede Globo fizeram por motivos estratégicos de evitar que o povo proteste contra a ditadura militar, promovendo a adoração ao projeto anestesiante de conformação com o sofrimento.
Através da suposta filantropia - que se revela fajuta em seus resultados - , o mito de Chico Xavier era usado para desviar as atenções do público ao então sindicalista Lula. Através das "cartas mediúnicas", havia a espetacularização da morte e, com isso, as tragédias prematuras eram tidas como "positivas", o que significa, de maneira subliminar, que isso se aplicava também aos opositores da ditadura militar mortos nos porões das instituições de repressão (como DOPS e DOI-CODI).
Isso tem que se levado em conta pelos progressistas. Chico Xavier era o anti-Lula, e não o seu sinônimo. Não podemos ver a imagem do "médium" através de truques publicitários como abraçar crianças sorridentes e pobres. As ideias de Chico Xavier, inclusive aplicadas doutrinariamente - é só ver seus livros - , são de um reacionarismo preocupante, e isso não pode ser ignorado.
Pensamento desejoso traz decepção, não dá para brigar com a realidade. Diz, justamente um provérbio marxista, de que não se pode expulsar a realidade pela porta porque ela volta pela janela. Difícil conceber Chico Xavier como um "progressista", com os fatos confirmando todo seu conservadorismo: as raízes sociais, o catolicismo ortodoxo, as ideias reacionárias. São fatos contundentes que a liberdade de fé não está autorizada a desmenti-los, pois daria em desilusão.
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