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Chico Xavier foi precursor do "espiritismo de direita"

(Autor: Senhor dos Anéis)

Não é muito difícil ver que os chamados "espíritas de esquerda" ou mesmo os "não-reacionários" tidos como "isentos" apresentam alguma perturbação mental quando tentam dissociar Francisco Cândido Xavier de qualquer imagem direitista.

Irritados, aflitos ou simplesmente confusos na manifestação de seus pensamentos desejosos, os chiquistas se atrapalham em argumentações, apresentam pontos de vista bastante absurdos e a própria imagem de Chico Xavier que abordam tem muito mais de fantasia e quase nada de realidade.

Essas pessoas não sabem o que é dormir tranquilo. Tentam moldar um religioso reacionário - paciência, essa espécie é muito mais comum do que se pode imaginar - à maneira de seus desejos e vontades e, não raro, caem em profunda decepção. Tentam impor suas vontades à realidade, com todo um malabarismo de palavras e, por sorte, contam com o "efeito manada", que é quando ideias sem pé nem cabeça ganham o apoio unânime de um considerável número de pessoas.

Chico Xavier sempre foi reacionário, dos seus primeiros momentos de atividade literária até o desligar dos aparelhos que o mantiveram vivo no hospital em Uberaba. E isso é verídico, o reacionarismo de Chico Xavier não é uma alegação de cunho opinativo, mas uma realidade indiscutível que se confirma pelos fatos.

Chico Xavier teve raízes sociais ultraconservadoras. O local onde nasceu, o então distrito de Santa Luzia, Pedro Leopoldo, hoje uma cidade, tinha feições interioranas e seguia o ritmo de uma Minas Gerais que, em 1910, ainda era saudosa do século XVIII ou, quando muito, do Segundo Império.

A família de Chico Xavier era conservadora. Sua formação religiosa, baseada no Catolicismo ortodoxo, medieval, com raízes no jesuitismo do século XVI, que já tinha uma raiz medieval trazida de Portugal. É falso dizer que Chico Xavier era um católico heterodoxo e reformista, porque seu Catolicismo era tão ortodoxo quanto o de Gustavo Corção, apenas houve a suposta prática de paranormalidade, irregular e duvidosa, que irritou os católicos e excomungaram o suposto médium.

Outro aspecto que deve ser considerado é que nunca foi da índole de Chico Xavier qualquer iniciativa de ruptura. Isso diz muito a respeito de sua personalidade conservadora, embora a narrativa fantasiosa que prevalece há, pelo menos, 40 anos, tente em vão desmentir, ainda que caia na contradição de reconhecer nele uma pessoa obediente e respeitosa ao rigor das hierarquias e do moralismo social.

HOMENAGENS DA DITADURA MILITAR

O que devemos prestar atenção em relação a Chico Xavier é que o apoio que ele deu à ditadura militar e a retribuição que dela recebeu não podem ser subestimados nem relativizados. Não dá para desmentir o óbvio inventando metáforas ou condicionantes do nada, porque se esse apoio houve, por parte do "médium", e que teve respaldo na ditadura militar, é porque teve motivo de sobra para isso, para desespero dos que tentam pintar a imagem de Chico Xavier sob uma aquarela "progressista".

Vejamos alguns episódios que envolvem as boas relações entre Chico Xavier e os militares:

1) PINGA-FOGO DA TV TUPI, EM 1971:

Chico Xavier esculhambou os movimentos operário, camponês e sem-teto. Rejeitou João Goulart e seu "governo abertamente esquerdista". Disse que os generais estavam "construindo um reino de amor". Declarou que o AI-5 e a repressão ditatorial eram "necessários para combater o caos". Pediu aos brasileiros terem paciência e apoiarem o governo dos militares, orando a Deus em favor dos mesmos.

Não há como relativizar isso. Ordens do "ponto eletrônico" (fone de ouvido no qual a pessoa que aparece na TV recebe mensagens da direção) estão fora de cogitação. Chico Xavier assumiu posturas reacionárias com uma convicção surpreendente e consciente da ampla repercussão de suas declarações. Se Chico Xavier não quisesse ser reacionário, alguém em sã consciência acharia que ele teria declarado seus pontos de vista da forma como declarou?

Devemos considerar que as entrevistas de Chico Xavier no Pinga Fogo da TV Tupi, além da gigantesca audiência no momento da transmissão, foram documentadas em livro e as gravações do programa sobrevivem em vídeos fartamente publicados no YouTube e que também tiveram audiência gigantesca. Se Chico Xavier mostrou seu reacionarismo no programa da TV Tupi, ele assumiu esse risco de se projetar dessa maneira, o que mostra que ele realmente foi um reacionário.

2) HOMENAGENS DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

Aparentemente, em 1972, um grupo de cadetes da Escola Superior de Guerra foi homenagear Chico Xavier. Mas, em se tratando de uma instituição que planejou e sustentava a ditadura militar, devemos também admitir que havia uma hierarquia militar a ser respeitada, o que desmente que o apoio ao "médium" tenha partido de militares de baixa patente ou de meros estudantes militares.

Na verdade, quem homenageou Chico Xavier foi a cúpula da ESG que aproveitou um evento de condecoração de cadetes para chamar o "médium" para uma palestra. A decisão, evidentemente, veio do comando da ESG que, sustentáculo da ditadura, era o que mais impunha um viés hierárquico, o que desmente que as homenagens ao "médium" tenham partido de meros estudantes.

Dito isso, ficamos indagando sobre as razões da homenagem, e de maneira surpreendente se revela o ultraconservadorismo de Chico Xavier. Se ele foi homenageado pela ESG, não foi à toa: o "médium" era um dos artífices do pensamento ultraconservador brasileiro, sobretudo através de suas pregações em prol da Teologia do Sofrimento, corrente católico-medieval nunca declaradamente apreciada pelo "movimento espírita", mas identificável nas ideias trazidas por Chico Xavier.

Não é difícil de reconhecer ideias da Teologia do Sofrimento na obra de Chico Xavier. A ideia de aceitar a desgraça humana em silêncio, "sem queixumes", a resignação com as imposições do opressor, a conformação com o trabalho exaustivo, a ideia de que Deus é que trará a melhoria de vida em um "momento oportuno", ainda que este fosse a próxima encarnação. Tudo isso dentro de um ideário medieval que os chiquistas fazem vista grossa ao ignorarem ou subestimarem.

3) DIVERSIONISMO FRENTE À CRISE DA DITADURA MILITAR

Muitos desconhecem que o mito que Chico Xavier representa hoje foi moldado durante a ditadura militar, com um discurso semelhante ao que Malcolm Muggeridge fez em prol de outra reacionária, Madre Teresa de Calcutá.

Um mito associado a paradigmas conservadores de suposto ativismo social e suposta filantropia, feito mais como um meio diversionista para evitar as revoltas populares e garantir que as desigualdades sociais fossem amenizadas e nunca rompidas de fato.

Chico Xavier sempre foi um aliado das elites dominantes, e seu mito, desenhado à maneira de Muggeridge, foi promovido com a ajuda da Rede Globo de Televisão, por motivos estratégicos diversos, entre eles o de barrar a ascensão de pastores evangélicos como Edir Macedo e R. R. Soares, que usavam a TV para se projetarem, colocando contra eles um ídolo religioso, porém supostamente ecumênico e sob uma aparência aceitável em contextos laicos.

Mas o mito de Chico Xavier também foi feito para evitar os movimentos em prol da redemocratização do país. A ideia era essa: a ditadura era horrível, o Brasil vivia uma crise gravíssima, mas com Chico Xavier e Deus tudo ficaria bem. Era a ideia anestesiante do ídolo religioso, supostamente filantrópico, para "consolar as pessoas".

As "cartas mediúnicas" eram um jogo psicológico que manipulou as massas da seguinte forma: se nossos parentes e amigos que de repente morreram cedo "estão bem", isso significa que os torturados pela ditadura militar estavam "melhor ainda". Tudo o que a ditadura fez com suas mortes e torturas era apenas "promover reajustes morais" e "mandar as vítimas desta para melhor". Ou seja, as vítimas eram as culpadas e, se elas morreram, isso foi um "benefício" trazido pelos militares.

4) CHICO XAVIER ERA O ANTI-LULA

Enquanto correntes do "movimento espírita" tentam enxergar cabelo em ovo inventando do nada as atribuições "progressistas" de um Chico Xavier idealizado à maneira de uma fada-madrinha dos contos de fadas, a realidade mostra que o mito de Chico Xavier foi usado para neutralizar a ascensão de um líder sindical.

Esse líder sindical, Luís Inácio Lula da Silva, é justamente aquele que, anos depois, foi presidente da República e, acusado de infundados rumores de corrupção, está preso na sede da Polícia Federal em Curitiba. Nos anos 1970, ele crescia em popularidade como um ativista político-social dos mais influentes, combinando ideais humanistas com a luta das classes operárias.

Devemos lembrar, muitíssimo bem, que, de maneira explícita, Chico Xavier rejeitou os movimentos operários. Não dá para relativizar isso, como não dá para esquerdistas inventarem alegações e contextos inexistentes, como se quisessem equiparar o petista e o "médium", dentro de alegações superficiais ligadas, em tese, à caridade.

Além disso, devemos admitir que a quase totalidade das religiões é de direita porque elas detestam a agilidade que os movimentos de esquerda fazem na ajuda ao próximo, combatendo os privilégios abusivos das elites e não dando tempo para os líderes religiosos obterem protagonismo com suas caridades "paliativas", que não mexem nos privilégios das classes mais ricas.

Chico Xavier declarou, com o mesmo temor conhecido da atriz Regina Duarte, que tinha muito pavor em ver o Brasil sendo governado por Lula. O "médium" apoiou Fernando Collor de Mello em 1989 a ponto de recebê-lo em sua casa. No final da vida, Chico Xavier sinalizava apoio ao PSDB e manifestava simpatia por Aécio Neves.

Portanto, são fatos consistentes e que não podem ser relativizados. Não dá para brigar com a realidade, que nem sempre mostra coisas agradáveis. A liberdade da Fé não permite brigar com os fatos, ainda mais quando a Fé se autoproclama pacificadora e conformadora. 

É patético ver que religiosos, que costumam se conformar até com suas perdas e a promover a paz com seus algozes, tetem que ficar em guerra permanente com a realidade, pela obsessão de promover os ídolos religiosos não como eles realmente foram, mas como seus seguidores gostariam que eles tivessem sido.

Daí que os chiquistas que se dizem "esquerdistas" e "neutros" vivem com um peso na consciência e ficam desesperados em despejar um monte de textos tentando definir Chico Xavier como um "progressista", através de argumentos frágeis e contraditórios que, mesmo assim, tentam se impor de qualquer jeito.

Mas como Chico Xavier foi um precursor dos "médiuns de direita", são justamente os seguidores mais abertamente reacionários os mais tranquilos, porque eles estão mais de acordo com a realidade e não precisam ficar em guerra permanente com os fatos.

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