(Autor: Professor Caviar)
Há um poema atribuído a Emmanuel no livro Correio Fraterno, de Francisco Cândido Xavier, de 1970, que é pura perversidade, se associarmos suas ideias sobre o sofrimento humano e situar a obra no contexto do AI-5 da ditadura militar, que botava pra quebrar no Brasil varonil.
O poema parece de uma doçura e piedade muito grandes, mas isso é só impressão. Se percebermos bem, muitas das mensagens de Chico Xavier, não bastassem elas serem desnecessárias, são muito irritantes. Afinal, quando alguém sofre muito, não se pode dar mensagens a ela, sobretudo quando lhe pede para aceitar o sofrimento, porque a pessoa, na sua fraqueza emocional, se sentirá agredida com isso.
Portanto, aqui está o poema, que deve ser lido com cuidado, para que as pessoas não sejam levadas pela tentação do envolvimento emocional, que nas paixões religiosas como as que se voltam a Chico Xavier se tornam uma perigosa armadilha. A seguir, mais comentários:
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SOMENTE HOJE
Por Francisco Cândido Xavier - Atribuído a Emmanuel - Correio Fraterno, FEB, 1970, atribuído a espíritos diversos
Hoje - a luz do presente!...
Dia como este dia
Em toda a vida
Terás este somente
Recorda isso
E atende todo o bem que desejes fazer
Prestação de serviço em socorro de alguém
Atenção no dever
Felicidade e paz
Esperança e carinho
Que aspires a plantar em lances do caminho
Alegria, favor,
Dádivas que pretenda ofertar
Relações que precisa recompor
Gentilezas no lar
Trabalho, o mais singelo e aquele que mais custe revisão, reajuste, corrigenda, perdão, provas
de estima e consideração
Apoio espiritual em simples frases nas tarefas que abraces e abençoes
Que nada disso atrases, nem deixes que fazer para depois
Por que o tempo não volta
Contando sempre aquilo que se fez
E dia igual a hoje, só terás uma vez.
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Chico Xavier era devoto da Teologia do Sofrimento, corrente do Catolicismo medieval. Ele pedia às pessoas para aceitarem as desgraças da vida sem reclamar e em silêncio. Para ele, tanto faz que as pessoas perdessem prematuramente uma encarnação por tragédias vindas do nada, ou então desperdiçassem longas encarnações com infortúnios e adversidades fora do controle. A desculpa era que na reencarnação havia a "possibilidade de começar tudo de novo".
Só que este texto contradiz essa perspectiva, trazendo a ideia de que "o tempo não volta". Ou seja, se só teremos uma vez um "dia igual a hoje", teríamos também uma encarnação única, por mais que tentemos fazer da encarnação posterior um reboot ou remake da encarnação presente (e haverá muito disso, diante de tantos erros na vida). Afinal, nossos amigos nem sempre serão os mesmos e os papéis sociais serão diferentes, por mais que experiências sejam repetidas nos aspectos gerais.
Portanto, o poema é perverso. O moralismo medieval de Chico Xavier traz más energias e influi, muitas vezes, nos infortúnios e tragédias que interrompem tantas encarnações. A reencarnação existe, mas haverá dificuldades para retomar o caminho interrompido na encarnação anterior, e muitos esforços nesse sentido não ocorrem sem conflitos nem concessões. Portanto, o poema acima, apesar do tom melífluo e paternal, é uma das grandes crueldades sádicas, uma verdadeira "chicuta" em forma de versos poéticos que nem deveriam ter sido escritos.
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Chico Xavier era devoto da Teologia do Sofrimento, corrente do Catolicismo medieval. Ele pedia às pessoas para aceitarem as desgraças da vida sem reclamar e em silêncio. Para ele, tanto faz que as pessoas perdessem prematuramente uma encarnação por tragédias vindas do nada, ou então desperdiçassem longas encarnações com infortúnios e adversidades fora do controle. A desculpa era que na reencarnação havia a "possibilidade de começar tudo de novo".
Só que este texto contradiz essa perspectiva, trazendo a ideia de que "o tempo não volta". Ou seja, se só teremos uma vez um "dia igual a hoje", teríamos também uma encarnação única, por mais que tentemos fazer da encarnação posterior um reboot ou remake da encarnação presente (e haverá muito disso, diante de tantos erros na vida). Afinal, nossos amigos nem sempre serão os mesmos e os papéis sociais serão diferentes, por mais que experiências sejam repetidas nos aspectos gerais.
Portanto, o poema é perverso. O moralismo medieval de Chico Xavier traz más energias e influi, muitas vezes, nos infortúnios e tragédias que interrompem tantas encarnações. A reencarnação existe, mas haverá dificuldades para retomar o caminho interrompido na encarnação anterior, e muitos esforços nesse sentido não ocorrem sem conflitos nem concessões. Portanto, o poema acima, apesar do tom melífluo e paternal, é uma das grandes crueldades sádicas, uma verdadeira "chicuta" em forma de versos poéticos que nem deveriam ter sido escritos.
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