(Autor: Professor Caviar)
Uma mensagem atribuída a Emmanuel e divulgada por Francisco Cândido Xavier é uma demonstração do puro igrejismo que arruinou a compreensão correta dos ensinamentos do Espiritismo no Brasil. Hoje, o que entendemos por Espiritismo aqui feito é uma forma deturpada e igrejeira, fundamentada no legado do Catolicismo jesuíta português, de essência medieval.
Vejamos o que diz essas frases, presente no livro Caminho, Verdade e Vida, lançado em 1949:
"O Cristo não estabelece linhas divisórias entre o templo e a oficina. Toda a Terra é seu altar de oração e seu campo de trabalho, ao mesmo tempo. Por louvá-lo nas igrejas e e menoscabá-lo nas ruas é que temos naufragado mil vezes, por nossa própria culpa. Todos os lugares, portanto, podem ser consagrados ao serviço divino".
O texto, interpretado sem análise, parece positivo. Mas, vendo o contexto e o sentido oculto das palavras, que ainda por cima incluem a expressão erudita "menoscabar" - o que indica aquilo que Allan Kardec havia alertado sobre os textos empolados dos mistificadores - , vemos que a mensagem é ultraconservadora e se adequa ao prisma atual do cenário político e social do bolsonarismo, através de duas ideias defendidas por Jair Bolsonaro e seus partidários: a religião e o trabalho, sob a ótica austera e submissa.
Emmanuel está associado à defesa do serviço austero, em valores que se encaixam, com surpreendente exatidão, aos defendidos pela "reforma trabalhista" aprovada pelo governo Michel Temer (presidente discretamente apoiado pelo "movimento espírita") e reforçada pelo governo Bolsonaro O aumento de horas trabalhadas, por exemplo, é uma bandeira associada claramente às ideias de Emmanuel e Chico Xavier, também simpáticos às restrições salariais e à flexibilização dos acordos trabalhistas, onde o negociado prevalece sobre o legislado.
A religião, dentro da ótica de submissão à hierarquia social, aceitação resignada dos infortúnios e pela rigidez do sacrifício humano, além da subordinação à hierarquia religiosa, são defendidas por Emmanuel e Chico Xavier de forma bastante indêntica ao que os religiosos envolvidos no governo Jair Bolsonaro, como os ministros Gustavo Bebianno, da Secretaria Geral da Presidência, Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, acreditam.
Portanto, é um igrejismo retrógrado, que se baseia somente na prece e na servidão, e segue valores medievais que, infelizmente, os brasileiros, mesmo os ditos "progressistas", ainda consideram "modernos" e de "surpreendente atualidade (sic)". Mas como o governo Jair Bolsonaro é considerado o "governo do novo" e Chico Xavier um "profeta futurista", isso faz sentido. Quanto bolor ainda existe nas mentes dos brasileiros...
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