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Morreu Sabrina Bittencourt, a ativista que denunciou João de Deus e Prem Baba


(Autor: Professor Caviar)

A religião mostra ilusões que muitas pessoas se recusam a perceber. As paixões religiosas, com suas tentações associadas a armadilhas como a fascinação obsessiva, o "bombardeio do amor" e a cegueira do "olhar do coração", desnorteiam as pessoas e lhes dão uma falsa impressão de segurança pessoal e altruísmo humano, dissimulando instintos egoístas ou elitistas muito mal resolvidos.

As mortes de Marcelo Yuka e, agora, por suicídio, de Sabrina Bittencourt, ativista que denunciou o "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, nos fazem refletir. Os dois mostraram o lado sombrio por trás do discurso religioso, como a "paz sem voz" da música de O Rappa, e as denúncias de assédio sexual nos bastidores do "humanismo religioso".

São ideias que muitos brasileiros, mesmo aqueles que se dizem progressistas e esclarecidos, se recusam a admitir. Cantam a canção de O Rappa, "A Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)" da boca para fora e, depois, vão para o Facebook cultuar a "paz sem voz" de Francisco Cândido Xavier, o tão adorado Chico Xavier dos idiotas religiosos.

Essas pessoas não imaginam que, sob o aparato da "caridade", pode haver criação de "pobres em cativeiro", e que, embora com manifestações aparentemente afetivas, a ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro, Damares Alves, tirou sua filha adotiva Lulu de suas raízes sociais indígenas. Não imaginamos tantas armadilhas traiçoeiras são postas nas doces relvas da fé religiosa, e a realidade vai mostrar o quanto as paixões religiosas são muito mais perigosas que as do sexo, das drogas e do dinheiro, em que pese a gravidade desses vícios.

A propósito, Sabrina Bittencourt cometeu um crime que só os "espíritas" e moralistas similares consideram hediondo: o suicídio. Ela se matou em Barcelona, Espanha, onde estava refugiada com o filho, Gabriel Brum. Os "espíritas" não aprovam o suicídio e não conseguem compreender dignamente o problema, mesmo com aparentes tentativas como os da escritora Yvonne Pereira, que no entanto era adepta do punitivismo roustanguista.

Fiquemos com a carta de Sabrina Bittencourt, que inspira vergonha nos moralistas e patriarcalistas que hoje estão no poder - não se fala apenas do político, mas também o social - e que, muitas vezes, se escondem no verniz da fé religiosa para cometer seus abusos. Seguimos com a dramática carta de despedida que Sabrina Bittencourt deixou, antes de dar fim à sua triste vida:

“Marielle me uno a ti. Somos semente. Que muitas flores nasçam dessa merda toda que o patriarcado criou há 5 mil anos! Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos. VOCÊS TERÃO MILHARES DE MÃES NO MUNDO INTEIRO. Minhas irmãs e irmãos na dor e no amor, cuidem deles por mim… ❤️ Eu sempre disse que era só uma pequena fagulha. Nada mais. Só pó de estrelas como todos. USEM A SUA PRÓPRIA VOZ. A SUA PRÓPRIA VONTADE. TOMEM AS RÉDEAS DE SUAS PRÓPRIAS VIDAS E ABRAM A BOCA, NÃO TENHAM VERGONHA! ELES É QUEM PRECISAM TER VERGONHA. Não aguento mais. Todas as provas, evidências, sistemas de apoio, redes organizadas e sobretudo, meu legado e passagem por aqui está entregue ou chegará às mãos corretas. As REDES DE APOIO AOS BRASILEIR@S FORAM CRIAD@S E SE EXPANDIRÃO NA VELOCIDADE DA LUZ! Não se desesperem. Dessa vida só levamos o mais bonito e o aprendido. Paulo Pavesi, eu sinceramente sinto muito pela morte do seu filho. Tenha certeza, que se eu soubesse da sua história na época, implicaria minha vida e segurança como fiz com centenas de pessoas. Damares, eu sei que você não teve tratamento psicológico quando deveria e teve sequelas, servindo de marionete neste sistema de merda que te cooptou, acolheu e com o qual você se sente em dívida o resto da sua vida. Não tenho dúvidas que você amou e cuidou da sua “Lulu” como gostaria de ter sido cuidada e protegida na sua infância, mas ela nao é uma bonequinha bonita que você poderia roubar e sair correndo… Giulio Sa Ferrari, eu te considerei um irmão e você sabia de todas as minhas rotas de fuga… eu vi em você a pureza de um menino que nunca foi notado por uma sociedade neurotípica que não entendia os neuroatípicos, mas reputação é algo que se constrói e não é de um dia ao outro. Gabriela Manssur, muito obrigada por me fazer ter esperança de que elas serão ouvidas e atendidas em suas necessidades. João de Deus, Prem Baba, Gê Marques, Ananda Joy, Edir Macedo, Marcos Feliciano, DeRose Pai, DeRose filho, todos os padres, pastores, bispos, budistas, espíritas, hindús, umbandistas, mórmons, batistas, metodistas, judeus, mulçumanos, sufis, taoístas, meus familiares, Marcelo Gayger, Jorge Berenguer, eu desconheço a sua infância e a sua criação pelo mundo, mas sei no meu íntimo que TODO MENINO NASCEU PURO e foi abusado, corrompido, machucado, moldado, castrado, calado, forçado a fazer coisas que não queria, até se converter talvez, cada um à sua maneira, em tiranos manipuladores (em maior ou menor grau) que ao não controlar os próprios impulsos, tentam controlar a quem consideram mais frágil e assim praticam estupros, pedofilia, adicções diversas… Eu sei, eu sinto, eu vi. Mas ainda assim, preferi SEMPRE ficar do lado mais frágil nesta breve existência: mulheres, crianças, idosos, jovens, povos originários, afrodescendentes, refugiados, ciganos, imigrantes, migrantes, pessoas com deficiência, gays, pobres, lascados, fudidos, rebeldes e incompreendidos… Essa vida é uma ilusão e um jogo de arquétipos do bem e do mal, de dualidades… desde que o mundo é mundo. Vivo num outro tempo desde que nasci e sempre senti que vivia num mundo praticamente medieval. Volto pro vazio e deixo minha essência em PAZ. Aos meus amigos, amadas e amantes, nos encontraremos um dia! Sintam meu amor incondicional através do tempo e do espaço. SIM e FIM.”

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