(Autor: Professor Caviar)
Pior do que os fanáticos do "espiritismo" brasileiro, são os chamados "isentões". Estes ficam patrulhando o tempo inteiro, na esperança de neutralizar as duras críticas que a doutrina igrejeira brasileira anda recebendo, e adotam um discurso de "isenção" e de "imparcialidade" com o objetivo de tentar impressionar a plateia.
Os "isentões" são pessoas que estão prontas a argumentar e contra-argumentar, mesmo quando seus pontos de vista são desprovidos de lógica e apresentam teses bastante duvidosas, mas que se encaixam no sentido aparente de palavras e ideias arrumadinhas.
Eles tentam todo tipo de malabarismo para ficarem sempre em situação favorável. Se acham "imperfeitos e falíveis", como uma espécie de carteirada pelo avesso, comparável à de alunos que tiram notas ruins na prova e querem ser aprovados de qualquer jeito.
Vários deles se comportam como a "patrulha canina" de Francisco Cândido Xavier e quejandos, e criam um discurso que se resume na ideia de que eles "erraram muito, mas ainda merecem nossa consideração no verdadeiro Espiritismo". Uma falácia arrumadinha, verossímil, uma conversa para boi dormir até porque a religião "espírita" traz apelos emotivos bastante agradáveis, por serem açucarados a níveis bem diabéticos.
Os "isentões" criam um discurso que apenas varia quanto à opção religiosa. Uns são "espíritas" e dizem defender o Espiritismo original, "com moderações". A desculpa é que o "cientificismo rigoroso" de Allan Kardec só faz sentido na França e o que aqui vale são as "liberdades religiosas" de uma "catolicização saudável e dentro dos ensinamentos cristãos". Se acham "espíritas equilibrados", que buscam a coexistência dos postulados espíritas originais com conceitos igrejistas "moderados". É aquela coisa da confraternização do Bom Senso com o Contrassenso.
Outros, por sua vez, capricham ainda mais na "isenção" e se dizem "não-espíritas". É um artifício para dizer "olha, eu reconheço aspectos positivos de Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia e eu não sou espírita", uma falácia feita para se atirar sobre a plateia. Mas, fora esse "não-espiritismo", o pensamento é o mesmo e também apoiam uma "apreciação equilibrada" do Espiritismo francês, desculpa para a mistura de alhos com bugalhos que se observa por aqui.
PROBLEMAS NOS ARGUMENTOS
Esse pessoal é persistente, diz "não ser dono da verdade", mas luta para ficar sempre com a palavra final para tudo, ainda que finjam admitir que "seu raciocínio pode ter falhas". Isso é uma forma de driblar qualquer questionamento, porque os "isentões espíritas" não gostam de serem contrariados. Até a "imperfeição" é uma máscara para evitarem serem desqualificados em seus argumentos.
Os "isentões espíritas" equivalem hoje aos sofistas que eram manipuladores de argumentos e palavras nos tempos de Sócrates. Eram considerados pseudo-intelectuais e mentirosos, mas tinham grande habilidade de usar as palavras e as ideias, de forma que tentavam desafiar as argumentações de seus interlocutores. Como os sofistas, os "isentões espíritas" são falastrões e palavreadores.
Nesse sentido, podemos também comparar "médiuns" como Chico Xavier com o de outro tipo de falastrões e palavreadores, que são os escribas e fariseus, tipos de sacerdotes e pseudo-intelectuais rejeitados por Jesus de Nazaré. E ver sofistas blindando fariseus, ou seja, os "isentões espíritas" blindando "de forma equilibrada" os "médiuns", é coisa bastante preocupante.
Há problemas em argumentações do tipo "temos que admirar os médiuns como pessoas falíveis e imperfeitas", criando uma idolatria às avessas sob o verniz da "simplicidade", da "humildade" e da "imperfeição humana".
Um desses problemas é em torno da ideia de "admitir que os médiuns erram". "Admite-se", mas, em contrapartida, se mantém eles no pedestal, não os bane da associação ao legado espírita e mantém praticamente intata a idolatria, independente dos exageros e das relativizações "reprováveis", "consentidas" ou "saudavelmente apoiadas".
Isso equivale a aprovar alunos ruins, fazendo com que eles passem de ano mesmo levando menos de cinco numa prova final, diante de más pontuações obtidas ao longo do ano letivo. Ver que Chico Xavier e companhia são considerados "habilitados" para assumirem o legado espírita, apesar dos erros cometidos, é ficar complacente com erros graves.
Contraditoriamente, os "isentões espíritas" condenam pontos de vista e práticas que acabam fazendo e até apoiando. Dizem não aceitar a complacência com o erro, mas são eles mesmos os maiores complacentes aos erros cometidos pelos "médiuns". Dizem rejeitar o igrejismo no Espiritismo, mas são os maiores entusiastas do igrejismo de Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia.
Os "isentões espíritas" dizem não serem reacionários, fogem de associações realistas, porém desconfortáveis, ao bolsonarismo, e uns até se atrevem se dizer "de esquerda", embora achem justa a prisão do ex-presidente Lula, que dizem "admirar", e achem adequada a falácia da "ajuda humanitária" que esconde um golpe civil-militar em marcha na Venezuela.
O grande perigo dos "isentões espíritas" é que eles sabotam todo o debate em torno da deturpação espírita. Como os antigos sofistas, eles intervém com argumentos feitos não para se somarem a um debate, mas para tentar intimidá-los. Sabotam a busca do saber e da verdade com argumentos que mantenham valores estabelecidos e dominantes.
Eles tentam dar a falsa impressão de que concordam que os ensinamentos espíritas originais devam ser respeitados e rigorosamente cumpridos, mas em dado momento criticam o cientificismo kardeciano, sob a desculpa de ver neles "alguns exageros". Por outro lado, criticam nomes como o mistificador Emmanuel, mas sempre se mantém apoiando o igrejismo que tanto dizem repudiar, quando esse igrejismo vem de Chico Xavier e quejandos.
Os "isentões espíritas" usam a capa da "imparcialidade", do "equilíbrio", da "isenção" para manter tudo como está. Persistem em argumentações verossímeis que falham num momento e em outro. Sob a desculpa de "admitir imperfeições" nos deturpadores do Espiritismo, eles acabam contribuindo para manter essa mesma deturpação, que produz os fanáticos que os "isentões" dizem reprovar, mas os quais, no fundo, consentem numa boa.
Na verdade, os "isentões espíritas" são os piores patrulheiros a impedir que os debates se avancem e comprometam a prevalência de dogmas e paradigmas do "espiritismo" catolicizado. Os "isentões" são verdadeiros enganadores, que, usando uma roupagem "objetiva" e "imparcial" em seus argumentos - nos blogs, por exemplo, eles usam até "referências bibliográficas" em seus artigos, como em arremedos de teses científicas - , tentam parecer "superiores" no seu malabarismo discursivo, pois, mesmo não se dizendo "donos da verdade", tentam ficar com a posse da "palavra final", como falsos juízes em sua falsa modéstia.
Os "isentões" são a grande ameaça e a mais terrível das que envolvem a busca da fidelidade doutrinária ao Espiritismo, porque são patrulheiros traiçoeiros a serviço da deturpação.
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