(Autor: Professor Caviar)
A história do "movimento espírita" é marcada por acusações de charlatanismo aqui e ali. Previsto no artigo 283 do Código Penal Brasileiro, de 1940, e é geralmente atribuído a processos duvidosos de cura medicinal, através de meios místicos, e mediante cobrança de dinheiro.
Isso se trata de charlatanismo strictu sensu, ou seja, no sentido restrito. No lato sensu, ou seja, no sentido mais amplo, charlatanismo pode se estender à divulgação de mensagens e outras atividades que, supostamente atribuídas à paranormalidade religiosa, servem para enganar as multidões através de tamanho sensacionalismo.
Num Brasil em que o tema da paranormalidade é praticamente desconhecido, sendo pior do que o Primeiro Mundo, onde as pesquisas sobre fenômenos paranormais ainda está engatinhando, as chamadas "obras mediúnicas" mostram um caráter bastante duvidoso e fortes indícios de fraudes.
Pretensos intelectuais como Alexandre Caroli Rocha tentam alegar, sem que apresentem um fundamento minimamente confiável, que a "psicografia" de Chico Xavier é "bastante sofisticada para ser admitida como uma fraude". Sua linha de pesquisa segue critérios mecanicistas ou tecnicistas demais, processos extremamente rebuscados e desnecessários, que em nada esclarecem sobre a veracidade ou não das obras em questão, e, além disso, o acadêmico despreza problemas de fácil identificação, como se desconfiasse da obviedade da fórmula matemática "2+2=4".
Análises aprofundadas sobre outros aspectos, como a participação de editores da Federação "Espírita" Brasileira nas revisões dos manuscritos de Chico Xavier - depois rasgados, mas que deixam subentender que apresentavam somente a caligrafia do "médium" - e a estranheza de que Parnaso de Além-Túmulo sofreu reparações editoriais cinco vezes em quase duas décadas e meia, são desconsideradas pelos "acadêmicos espíritas" que se gabam de possuir, se não a "verdade", ao menos a pretensa objetividade "científica" que os fazem pretensos possuidores do Saber, respaldados por pesquisas que mais obscurecem do que esclarecem problemas sobre tais obras "mediúnicas".
Além do mais, o que causa estranheza em Chico Xavier é sua superprodução literária. Para que mais de 400 livros? E isso quando, entre Parnaso de Além-Túmulo, primeira edição de 1932, e Cartas de uma Morta, atribuído à mãe do "médium", Maria João de Deus, de 1935, houve um hiato de dois anos.
Não existe necessidade de lançar tantos livros, marcados de mero igrejismo moralista, porque eles nunca tiveram o objetivo de promover o verdadeiro saber. Eles chegam mesmo a cometer crimes de lesa doutrina, com linguagem rebuscada e conteúdo moralmente ultraconservador, que contrariam os ensinamentos originais da obra kardeciana.
Mas por que tantos e tantos livros? A ideia é criar uma fonte de renda para desviar o lucro do charlatanismo. As supostas atividades "mediúnicas", o Assistencialismo e as pedantes receitas e curas também "mediúnicas" são feitas mediante aparente gratuidade.
O "movimento espírita", para fugir de tais acusações de charlatanismo - acreditando que, sem haver cobrança financeira, não haveria indícios de tal crime - , tenta buscar outras formas de renda: seminários, documentários cinematográficos, dramaturgia, mercado literário etc. Uma superprodutividade que busca arrancar dinheiro com sensacionalismo e mistificação travestidos de "mensagens de consolação e esperança". E ainda não falamos de superfaturamentos que as instituições "espíritas" contraem ao pedir verbas públicas para seus sustentos.
A ênfase na gratuidade tenta afastar qualquer indício de mercenarismo religioso. Obras literárias e até cinematográficas que se tornam antigas passam a ser disponibilizadas de graça, sob os pretextos de "dar de graça o que de graça receberam" ou de "trazer a Boa Nova (Evangelho)".
A aparente versatilidade da obra de Chico Xavier também é um apelo mercenário mal-disfarçado. Aparentemente, sua obra literária vai de livros infantis a livros científicos, mas todos se constituindo em arremedos cuja essência é tão somente a pregação moralista igrejeira, travestida em diversas roupagens. A suposta variedade temática e estilística foi feita para atingir vários nichos de mercado, seduzidos pelo sensacionalismo da figura pessoal de Chico Xavier.
Com isso, o "movimento espírita" passou a enriquecer com Chico Xavier. A desculpa do faturamento era que o "lucro iria totalmente para a caridade". Mas, como diz o ditado, "não existe almoço grátis", e muito menos temos "sopas espíritas" realmente gratuitas. Há um preço em todo o estardalhaço dos lucros dos livros de Chico Xavier que nos fazem desconfiar se realmente sua "caridade" tinha validade. Se tivesse, pela autoproclamada grandeza do "médium" (evocada mesmo considerando eventuais imperfeições) o Brasil teria atingido níveis escandinavos de vida. O que nunca aconteceu.
Pelo contrário. Uberaba, cidade mineira que durante anos tratou Chico Xavier como um "filho ilustre" e o mantém como um dos seus maiores ídolos, caiu mais de cem pontos em Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, entre 2000 e 2010. E a cidade do Triângulo Mineiro ainda sofre com a escalada da violência, que ocupa os noticiários locais.
Consta-se que não há necessidade de lançar tantos livros. Uma média de dez a quinze livros por ano? Se houvesse contexto para tanto, tudo bem, existem escritores que, para "esvaziar" suas gavetas de manuscritos, lançam um livro atrás de outro.
Só que o caso de Chico Xavier nunca foi este. Sua superprodução literária tinha caráter mercenário, mistificador e apoiado em ideias ultraconservadoras, seguindo apenas a máscara das diversas roupagens, como arremedos de reportagens, tratados científicos, contos infantis, crônicas, livros históricos etc, para atingir vários tipos de públicos, diversificando também o foco de renda.
Alguém imaginaria que os adeptos de Chico Xavier se enfureceriam à toa quando ele era contestado porque as rendas dos seus livros iriam realmente para os miseráveis? Não. Se eles se enfurecem, é porque Chico Xavier atrai muito dinheiro, e ele não vai para os pobrezinhos, mas para os dirigentes "espíritas" em geral. O que eles defendem é o poder comercial das obras do "médium", que traz fortuna para muita gente. Isso é doloroso de dizer para muita gente, mas, paciência. Não existe almoço grátis.
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