(Autor: Professor Caviar)
Difícil criticar a deturpação do Espiritismo, sobretudo através da pessoa do suposto médium Francisco Cândido Xavier, sem que sua "patrulha canina" reaja com suas respostas pedantes e com pretensões de obter a posse da verdade (sem que estivesse de acordo com ela, é claro).
Eles surgem com respostas prontas, embora falhas no que se refere a argumentos lógicos, porque a argumentação, neste caso, vale mais pela persistência do que pela pertinência de seus textos.
Eles tentam desmentir os fatos: que o Espiritismo, no Brasil, é deturpado, que Chico Xavier cometeu fraudes literárias e, com a ajuda de parceiros da FEB, desenvolveu obras fake, e, além disso, o suposto médium apoiou a ditadura militar com um apetite de fazer inveja a um reacionário mais obsessivo.
É evidente que, nas redes sociais e nos fóruns de Internet, tem gente usando argumentação para brigar com fatos e evidências. Tem muito "intelectual de Facebook" cheio de palavreado persistente, que detesta ficar sem razão e fica respondendo tentando argumentar o que não dá para, depois, sair por aí disparando xingações e chantagens aqui e ali.
O reacionarismo de Chico Xavier é, mais ou menos, o inverso do que acontece com o ex-presidente Lula. Há no caso do "médium", uma fartura de provas robustas, argumentos consistentes e teses de uma lógica contundente, coisas não muito difíceis de serem explicadas e comprovadas.
Mas, assim como se condena o ex-presidente Lula sem provas, no caso de Chico Xavier as provas nunca têm valor, pois o "médium" é o único brasileiro no qual o pensamento desejoso (do inglês wishful thinking) se impõe à realidade, algo que deixaria Allan Kardec profundamente envergonhado, ele que rejeitaria Chico Xavier como discípulo, por ele personificar aspectos negativos previamente alertados na literatura kardeciana.
Os livros de Chico Xavier deixam claro que suas pautas morais sempre foram retrógradas e reacionárias. Reforma trabalhista, "cura gay", Teologia do Sofrimento, extremo rigor na hierarquia social etc. Defesa do trabalho exaustivo, da redução salarial (imagina-se Chico, naquele seu estilo peculiar, dizendo "Para que tanto dinheiro para comprar somente o necessário?" - leia-se "necessário" apenas o que "dá para sobreviver", abaixo dos níveis satisfatórios de qualidade de vida de classe média).
Chico Xavier defenderia até mesmo o fim do Ministério do Trabalho - "Para que se preocupar com isso, se todo ministério é do Trabalho?", diria ele - e, principalmente, a "livre negociação" de patrões e empregados que traz mais vantagem aos primeiros ("Devemos dar graças porque agora só Deus é que regula os acordos trabalhistas").
Falar que Chico Xavier era reacionário nunca foi uma questão de opinião. Se baseia em fatos e provas consistentes e robustas. É fácil manipular o pensamento desejoso, iludido com as supostas liberdades da Fé e moldar um ídolo religioso conforme os desejos de qualquer um. Esquecemos que as religiões costumam ser redutos do mais profundo conservadorismo ideológico.
Os "chicomínions" que pipocam na Internet, arrotando sua pós-verdade com suas mensagens persistentes, sempre tentam desmentir fatos desagradáveis relacionados a Chico Xavier. Tentam fazer concessões aqui e ali, como dizer que o "médium" era "imperfeito", ou dizer que "não gostam muito" de Emmanuel ou de Carlos Bacelli, e uns nem se dizem "espíritas" para evitar serem acusados de sectarismo.
Esses internautas, desesperados em ver que os fatos não agradam suas convicções, armam todo um exército de palavras para tentar argumentar até o limite de suas desculpas esfarrapadas. Tentam desmentir seu reacionarismo, à maneira dos pseudo-esquerdistas dos tempos do governo Lula, que fingiam apoiar o presidente dez anos antes de assumirem profundo ódio a ele.
Claro, ninguém quer abrir o jogo e mostrar seus podres. Mas os pretensos progressistas que escondem seu reacionarismo no armário também mostram, depois, o seu reacionarismo. Acabam mostrando seu moralismo quando falam, sobre Chico Xavier, que a pessoa tem que trabalhar mais e ganhar menos, que é melhor ela sofrer calada e rezar em silêncio, entre outras coisas, e isso depois de desmentirem que são reacionários ou "bolsomínions espíritas".
Chegam a desmentir tudo. Se são rancorosos, apelam para a "síndrome da projeção" (fenômeno psicológico pelo qual a pessoa atribui a outrem os defeitos que ela tem) e dizem que os outros "é que são rancorosos". Tentam de tudo para ficar com a verdade, puxando para trás os debates em torno da deturpação espírita como forma de desqualificar os questionamentos. O apetite pela pós-verdade, pela supremacia da Fé sobre a Razão, une chiquistas e bolsonaristas.
A coisa se dá de tal modo que os chiquistas acabam se mostrando também bolsomínions. Isso porque os valores defendidos por Chico Xavier são praticamente os mesmos que Jair Bolsonaro. Os chiquistas acabam se tornando bolsomínons por tabela.
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