(Autor: Professor Caviar)
Há estórias que, de tão bonitinhas, trazem dúvida de que elas realmente teriam ocorrido. Lembram contos de fadas e mostram supostas lições morais que soam muito simplórias, e é preocupante que elas sejam vendidas como "histórias reais" ou "fatos realistas".
Duvidamos muito que as estórias abaixo sejam verídicas. Ou, se elas realmente ocorreram, foram situações produzidas de maneira tendenciosa ou cujo registro em livros soa inútil e desnecessário. O que vemos é que elas não trazem sabedoria alguma, e os relatos, curtos, não seriam aproveitados sequer para a sessão de piadas premiadas das Seleções do Reader's Digest.
Selecionamos dois pequenos textos, tão pequenos - em forma e conteúdo - que são insignificantes e supérfluos. Um vem do livro Lindos Casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama, e outro, de Notáveis Casos de Chico Xavier, de Oswaldo de Castro. Lembremos que os dois livros são alguns dos que pretenderam divinizar e glamourizar a figura de Francisco Cândido Xavier. São estórias de conteúdo simplório e moralismo religioso banal e rasteiro, e interpretaremos, a seguir, o sentido dessas pretensas lições de vida. Vamos aos textos:
A influência do pensamento
Por Ramiro Gama - Livro Lindos Casos de Chico Xavier
Palestrávamos com o Chico a respeito de enfermidades graves e da influência que tem o Pensamento sobre elas. E citou-nos o médium um caso: uma sua conhecida era portadora de um câncer no útero e de nada sabia. A medicina da Terra sentiu-se impotente para curá-la. Emmanuel, colocado a par da situação, alvitrou: vamos, com a ajuda de Deus, medicá-la.
É preciso, todavia, que ela continue ignorando sua enfermidade. Se souber, seu mal agravar-se-á e neutralizará todo o nosso esforço.
O tratamento foi feito e, por misericórdia de Deus, a doente, que sempre ignorou seu padecimento, melhorou e, hoje, está completamente curada.
Lembramo-nos de um doente, vítima do câncer, que se localizara na uretra, que vivia regularmente bem e sob tratamento médico, enquanto ignorava a causa da sua enfermidade.
Mas, de repente, por descuido de um parente, veio a saber de sua moléstia. Alarmou-se.
O Pensamento refletiu seu pavor na doença e influiu na sua piora. E desencarnou dias depois.
==========
Respeito às Religiões
Por Oswaldo De Castro - Livro Notáveis Casos de Chico Xavier
Chico respeitava as religiões e a convicção de cada um. Era considerado tanto pelos espiritas quanto pelos não espiritas. Exemplo dessa postura constatamos quando determinada pessoa lhe fez a seguinte observação:
– Se a mãe de Jesus é uma só, Maria Santíssima, como, para o católico, há dezenas de Nossas Senhoras?
Chico redarguiu?
– Não devemos criticar, o que importa é a fé. Se a pessoa tiver fé e Nossa Senhora da Aparecida e for orar com louvor a Nossa Senhora de Lourdes, da Abadia, de Fátima, de Guadalupe etc, não o faz imbuída de fé?
Uma senhora presente disse-lhe:
– Eu estou muito triste, minha sobrinha frequentava o centro espírita e agora o abandonou e não sai da igreja!
Chico sabiamente ponderou:
– Minha filha, dê graças a Deus. Lá ela só aprende o que é bom. Eu ficaria muito triste se a senhora me contasse que ela anda bebendo cachaça ou usando drogas…
==========
Em primeiro lugar, a "força do pensamento" tem seus limites pela lógica da situação e dos fatos. Sem dúvida alguma, desejamos que algo ocorra a nosso favor, mas atribuir isso somente a uma força de pensamento soa incoerente e em desacordo com a realidade.
No caso do câncer, por exemplo, existem condicionais que podem atenuar progressivamente a doença, chegando à cura, e isso envolve menor descuido à saúde e tratamentos médicos bastante cautelosos.
Há muitos casos de pessoas que, com o simples otimismo no pensamento, estavam com câncer e, mesmo se "esquecendo" da doença, morreram pouco depois. E é verdade que, aparentemente, assassinos portadores de câncer podem sobreviver mais tempo, mas isso porque sua doença não é agravada por momentos de tensão emocional, quando o crime do qual foram marcados é esquecido momentaneamente, evitando relações de animosidade com outras pessoas.
A Fé tem seu plano de ação válido, mas também tem seus limites definidos. Do contrário do que defendeu Chico Xavier, a Fé não pode tudo, havendo situações que o simples pensamento religiosamente positivo não consegue funcionar.
Quanto ao segundo texto, supõe-se que Chico Xavier sentia tolerância religiosa, o que é discutível, vide o episódio em que católicos questionavam sua "psicografia", apontando-lhe fraudes (com provas robustas e argumentos sólidos), que despertou a reação repulsiva do "médium".
Além disso, Chico Xavier, que sempre foi católico-medieval - em oposição ao Catolicismo propriamente dito, que buscava repaginar-se e adequar aos novos tempos - , mais parecia próximo ao velho Catolicismo jesuíta que, no episódio, deve ter sido a opção da sobrinha de uma senhora.
Nesse segundo texto, também a Fé tornou-se a ênfase de Chico Xavier, que devemos reconhecer como um anti-kardeciano, porque a religiosidade no Espiritismo original não autoriza a supremacia da Fé sobre a Razão, mas somente a sua coexistência, dentro dos limites racionais. Quando a Fé, que é o caso das ideias de Chico Xavier, se coloca acima da Razão, ela se torna, segundo Allan Kardec, uma "fé cega", e, portanto, o "médium" mineiro comprovou estar em completo desacordo com os ensinamentos espíritas originais.
Há estórias que, de tão bonitinhas, trazem dúvida de que elas realmente teriam ocorrido. Lembram contos de fadas e mostram supostas lições morais que soam muito simplórias, e é preocupante que elas sejam vendidas como "histórias reais" ou "fatos realistas".
Duvidamos muito que as estórias abaixo sejam verídicas. Ou, se elas realmente ocorreram, foram situações produzidas de maneira tendenciosa ou cujo registro em livros soa inútil e desnecessário. O que vemos é que elas não trazem sabedoria alguma, e os relatos, curtos, não seriam aproveitados sequer para a sessão de piadas premiadas das Seleções do Reader's Digest.
Selecionamos dois pequenos textos, tão pequenos - em forma e conteúdo - que são insignificantes e supérfluos. Um vem do livro Lindos Casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama, e outro, de Notáveis Casos de Chico Xavier, de Oswaldo de Castro. Lembremos que os dois livros são alguns dos que pretenderam divinizar e glamourizar a figura de Francisco Cândido Xavier. São estórias de conteúdo simplório e moralismo religioso banal e rasteiro, e interpretaremos, a seguir, o sentido dessas pretensas lições de vida. Vamos aos textos:
A influência do pensamento
Por Ramiro Gama - Livro Lindos Casos de Chico Xavier
Palestrávamos com o Chico a respeito de enfermidades graves e da influência que tem o Pensamento sobre elas. E citou-nos o médium um caso: uma sua conhecida era portadora de um câncer no útero e de nada sabia. A medicina da Terra sentiu-se impotente para curá-la. Emmanuel, colocado a par da situação, alvitrou: vamos, com a ajuda de Deus, medicá-la.
É preciso, todavia, que ela continue ignorando sua enfermidade. Se souber, seu mal agravar-se-á e neutralizará todo o nosso esforço.
O tratamento foi feito e, por misericórdia de Deus, a doente, que sempre ignorou seu padecimento, melhorou e, hoje, está completamente curada.
Lembramo-nos de um doente, vítima do câncer, que se localizara na uretra, que vivia regularmente bem e sob tratamento médico, enquanto ignorava a causa da sua enfermidade.
Mas, de repente, por descuido de um parente, veio a saber de sua moléstia. Alarmou-se.
O Pensamento refletiu seu pavor na doença e influiu na sua piora. E desencarnou dias depois.
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Respeito às Religiões
Por Oswaldo De Castro - Livro Notáveis Casos de Chico Xavier
Chico respeitava as religiões e a convicção de cada um. Era considerado tanto pelos espiritas quanto pelos não espiritas. Exemplo dessa postura constatamos quando determinada pessoa lhe fez a seguinte observação:
– Se a mãe de Jesus é uma só, Maria Santíssima, como, para o católico, há dezenas de Nossas Senhoras?
Chico redarguiu?
– Não devemos criticar, o que importa é a fé. Se a pessoa tiver fé e Nossa Senhora da Aparecida e for orar com louvor a Nossa Senhora de Lourdes, da Abadia, de Fátima, de Guadalupe etc, não o faz imbuída de fé?
Uma senhora presente disse-lhe:
– Eu estou muito triste, minha sobrinha frequentava o centro espírita e agora o abandonou e não sai da igreja!
Chico sabiamente ponderou:
– Minha filha, dê graças a Deus. Lá ela só aprende o que é bom. Eu ficaria muito triste se a senhora me contasse que ela anda bebendo cachaça ou usando drogas…
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Em primeiro lugar, a "força do pensamento" tem seus limites pela lógica da situação e dos fatos. Sem dúvida alguma, desejamos que algo ocorra a nosso favor, mas atribuir isso somente a uma força de pensamento soa incoerente e em desacordo com a realidade.
No caso do câncer, por exemplo, existem condicionais que podem atenuar progressivamente a doença, chegando à cura, e isso envolve menor descuido à saúde e tratamentos médicos bastante cautelosos.
Há muitos casos de pessoas que, com o simples otimismo no pensamento, estavam com câncer e, mesmo se "esquecendo" da doença, morreram pouco depois. E é verdade que, aparentemente, assassinos portadores de câncer podem sobreviver mais tempo, mas isso porque sua doença não é agravada por momentos de tensão emocional, quando o crime do qual foram marcados é esquecido momentaneamente, evitando relações de animosidade com outras pessoas.
A Fé tem seu plano de ação válido, mas também tem seus limites definidos. Do contrário do que defendeu Chico Xavier, a Fé não pode tudo, havendo situações que o simples pensamento religiosamente positivo não consegue funcionar.
Quanto ao segundo texto, supõe-se que Chico Xavier sentia tolerância religiosa, o que é discutível, vide o episódio em que católicos questionavam sua "psicografia", apontando-lhe fraudes (com provas robustas e argumentos sólidos), que despertou a reação repulsiva do "médium".
Além disso, Chico Xavier, que sempre foi católico-medieval - em oposição ao Catolicismo propriamente dito, que buscava repaginar-se e adequar aos novos tempos - , mais parecia próximo ao velho Catolicismo jesuíta que, no episódio, deve ter sido a opção da sobrinha de uma senhora.
Nesse segundo texto, também a Fé tornou-se a ênfase de Chico Xavier, que devemos reconhecer como um anti-kardeciano, porque a religiosidade no Espiritismo original não autoriza a supremacia da Fé sobre a Razão, mas somente a sua coexistência, dentro dos limites racionais. Quando a Fé, que é o caso das ideias de Chico Xavier, se coloca acima da Razão, ela se torna, segundo Allan Kardec, uma "fé cega", e, portanto, o "médium" mineiro comprovou estar em completo desacordo com os ensinamentos espíritas originais.
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