(Autor: Professor Caviar)
Fórmulas complicadas demais para analisar obras "mediúnicas". Métodos extremamente mecanicistas, de um lado, ou algorítmicos, de outro. Equações matemáticas complexas demais, tudo para blindar o trabalho duvidoso de Francisco Cândido Xavier.
Um artigo do jornal Diário da Manhã, de Goiânia, do médico e psicólogo goiano Marcelo Caixeta, tenta defender a "veracidade" das obras literárias de Chico Xavier através de argumentações que o autor pretende serem "científicas".
Exaltando o trabalho duvidoso de Alexandre Caroli Rocha - que pretende deixar a obra "psicográfica" de Chico Xavier "em aberto", mas se omite quanto à necessidade de retirar seus livros de circulação até que estudos que o acadêmico julga "aprofundados" sejam concluídos - , Marcelo Caixeta fala de "modelos que mostram a veracidade dos livros de Chico Xavier".
Os tais "modelos" são excessivamente tecnicistas, desnecessariamente complexos, como "análises de sílabas", leituras algorítmicas, entre outras complexidades. Marcelo Caixeta, no entanto, não mostra um mínimo fundamento de suas teses, apenas falando de aspectos "silabantes", dentro de uma metodologia extremamente rebuscada.
Caixeta afirma que "estudou todas as obras de Chico Xavier", mas não apresenta provas consistentes de tal caso. E, talvez sofrendo do "efeito Forer", um fenômeno no qual há uma falta de discernimento às avessas, quando se vê diferença onde não existe, como se nota nos horóscopos lidos nos jornais, onde uma mesma mensagem de um signo é vista por cada um dos leitores como "individualizada".
Ele superestima as diferenças pontuais de "estilos" como os atribuídos ao fictício André Luiz, ao pretenso Humberto de Campos, à suposta Meimei etc. Tenta afirmar que as diferenças são "extremamente diferentes", sem que apresentasse algum fundamento para isso.
O médico e articulista acompanha Alexandre Caroli Rocha, um estudioso de literatura que sonega o exame da análise textual. Assim como Caroli, Caixeta aposta em métodos complexos demais, o que nos faz desconfiar dessa elite de "intelectuais espíritas" que não gosta de admitir que "2+2=4", preferindo que, para se chegar a quatro, se adotem complexíssimas fórmulas matemáticas. Não é à toa que Caixeta corrobora com o método "matemático" de Caroli estudar a obra de Chico Xavier.
Uma declaração, na qual Caixeta demonstra sua vaidade intelectual e defende critérios tecnicistas de análise literária, definindo os estilos literários apenas pelo aspecto "mecanicista" de sílabas, mostra o quanto ele tenta ser "científico" sem no entanto ter uma base científica, a mínima sequer, pois sua declaração soa meramente especulativa:
"Muitos alegam fraude e se perguntam por que Chico Xavier não psicografava coisas “difíceis”, por exemplo, científicas, matemáticas, outras línguas, médicas, etc. Pois estão enganados : Chico Xavier psicografou muitos livros “técnicos”, p.ex. , Evolução em dois mundos (medicina), mecanismos da mediunidade (fisica), caminho da luz (antropologia/historia), Brasil Coração do Mundo, etc. Psicografou inclusive em inglês. Alem de mais de 100 poetas difíceis, mantendo toda tecnicidade deles. Eu, um intelectual, nao consigo plagiar nem um… E não eram “plágios amadores”. Como Caroli mostra, Chico “plagiava” até o número de sílabas de um poema (p.ex., todos os poemas de Augusto dos Anjos em decassílabos), “plagiava” não só estilo, mas todos os modelos matemáticos que um poema tem. Os cientistas da literatura sabem que um poema não é algo simples. Por exemplo, cada autor tem uma predileção para um tipo de sílaba tônica, cesuras, hemistíquios, etc. Chico, 4o ano fundamental incompleto plagiou mais de 500 autores…".
Caixeta alega que trabalha com "critérios objetivos", mas eles se tornam mais complicados e obscuros do que esclarecedores. Caixeta deixa implícito que segue a tendência complicada dos acadêmicos que apreciam linguagens prolixas, ideias complicadas, usando a Ciência como um privilégio, uma privatização do Saber, como nos antigos cientistas medievais que estavam a serviço de imperadores e sacerdotes.
Ele diz que não há "achismo" nas teses que defende, mas observa-se que não existe clareza nas suas teses, e falta fundamento até para confirmar suas ideias, mais preocupado ele em fazer defesa a Chico Xavier, usando de todo tipo de desculpa "científica". Não há uma demonstração sequer de verossimilhança de suas teses. Ele fala sua tese e acabou. Não seria isso um tipo de "achismo", travestido de "argumentação científica"?
Ele diz que os livros de Chico Xavier têm todo tipo de Ciência, evocam autores difíceis etc. Mas se observa que em nenhum momento Marcelo Caixeta apresenta um fundamento mínimo de sua tese, ele o faz de maneira especulativa, por mais que sua retórica tente seguir o caminho da "objetividade científica".
Outra amostra do "achismo" de Marcelo Caixeta é que ele se preocupa em dizer que "leu criticamente os livros de Chico Xavier", "leu todas as obras do médium" e até se gaba em dizer que "há erros, sim", supondo que ele "têm consciência dos mesmos e pode apontá-los". Mas não aponta, porque seu texto é desprovido de qualquer prova que sustente ou, ao menos, garanta uma verossimilhança à sua tese, bastante prolixa mas, em termos de lógica, bastante duvidosa.
Ele ainda comete o equívoco de dizer que Caminho da Luz é de 1932 e, por isso, "previu" a Segunda Guerra Mundial. Engano dele. O referido livro é de 1939, lançado portanto no começo do conflito mundial, um fato já fartamente analisado pelos jornalistas e analistas políticos da época. E o extermínio judeu já havia ocorrido em 1938, na chamada "Noite dos Cristais" (09-10 de novembro de 1938), como lembrou o historiador Philippe Burrin, no seu livro Hitler e os Judeus:
"Depois de se entrevistar com Hitler, Goebbels pronunciou um discurso no qual deu a entender que uma onda de terror teria de responder a esta agressão dos judeus contra o Reich. Na mesma noite, desencadeou-se o pogrom mais inacreditável de que se teve notícias na Europa ocidental em vários séculos, provocando cerca de 100 mortes e a destruição de milhares de casas e centenas de sinagogas. A polícia prendeu e enviou para os campos de concentração cerca de 30 mil pessoas, escolhidas entre os judeus ricos; eles foram liberados nas semanas seguintes em troca da promessa por escrito de emigrar imediatamente".
Marcelo Caixeta apenas cita enunciados. Em nenhum deles ele dá provas. Ele diz apenas que os poetas de Parnaso de Além-Túmulo apresentam "os mesmos aspectos técnicos" das obras que os supostos autores deixaram em vida. Mas não traz uma prova sequer. E, no caso de Caroli, quando há provas, elas são duvidosas, porque meramente tecnicistas.
Nós, críticos da deturpação espírita, combinamos análises textuais e cálculo de sílabas, na comparação textual, fazendo, sim, a análise de texto que Caroli acha "escorregadia" - se esquecendo, ele, de suas teorias "escorregadias" sobre a obra do suposto espírito de Humberto de Campos - , mas entendendo também os aspectos gramaticais, sem apelar para fórmulas matemáticas complicadas nem para algoritmos.
O mero aparato formal das palavras não garante a veracidade de uma mensagem, porque é necessário observar os estilos, sim, pela análise textual, não apenas pela mecânica comparação de sílabas, pontuações e rimas, mas também pela personalidade artística de cada autor, que Caroli finge reconhecer mas, pelo jeito, a sonega.
Um bom exemplo de análise objetiva no sentido de contestar e não afirmar a duvidosa psicografia de Chico Xavier está na comparação textual entre um poema original de Olavo Bilac, "Velhas Árvores", que vale pela sua musicalidade, e o suposto poema espiritual, "Brasil", do livro Parnaso de Além-Túmulo.
Caixeta e Caroli garantem que os poemas "espirituais" de Parnaso de Além-Túmulo "possuem rigorosamente o mesmo estilo" dos poetas originais. Comprovamos que eles estão errados diante da comparação abaixo.
Basta ler os poemas oralmente, como num recital, onde se testa a linguagem silábica, e se confirmará que o poema "espiritual" é muito aquém do estilo original de Olavo Bilac. Enquanto "Velhas Árvores" demonstra uma leveza melódica nos versos, o recital de "Brasil" soa cansativo, sem a musicalidade que marcou o poeta parnasiano e com uma estrutura silábica diferente da que Bilac usou em vida.
A comparação abaixo já mostra o quanto Caixeta e Caroli estão errados em suas avaliações extremamente tecnicistas e com um pretenso cientificismo que envergonharia Allan Kardec, porque é uma "Ciência complicadora" e não esclarecedora, sendo mais um processo de privatização do Saber que envaidece os pretensos "intelectuais espíritas":
Velhas Árvores
Olavo Bilac - livro Poesias, 1888
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
BRASIL
Atribuído ao espírito Olavo Bilac (Parnaso de Além-Túmulo, 1932)
Desde o Nilo famoso, aberto ao sol da graça,
Da virtude ateniense à grandeza espartana,
O anjo triste da paz chora e se desengana,
Em vão plantando o amor que o ódio despedaça,
Tribos, tronos, nações... tudo se esfuma e passa.
Mas o torvo dragão da guerra soberana
Ruge, fere, destrói e se alteia e se ufana,
Disputando o poder e denegrindo a raça.
Eis, porém, que o Senhor, na América nascente,
Acende nova luz em novo continente
Para a restauração do homem exausto e velho.
E aparece o Brasil que, valoroso, avança,
Encerrando consigo, em láureas de esperança,
O Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho.
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