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Heróis dos "espíritas", lavajateiros demonstram falta de humanismo


(Autor: Professor Caviar)

Não tem como escapar: o "movimento espírita", no seu conjunto, no seu establishment, apoiou o golpe político de 2016. Definiu como "começo de regeneração" as passeatas dos "coxinhas", aos quais os "espíritas" atribuem "despertar político" e "necessidade de evolução". O discurso "espírita" apostava na mesma falácia do povo "cansado de tanta corrupção".

No seu bojo, os "espíritas" apoiaram a Operação Lava Jato, a votação do "Fora Dilma" - "contra a irmã Dilma Rousseff, que se desviou dos caminhos de usar o cargo político para se servir à caridade do Cristo" - e o governo Michel Temer, incluindo o seu "pacote de maldades", que "reeducaria os brasileiros no seu apego (?) aos bens materiais".

Depois, os "espíritas" passaram a ficar mais enrustidos, no seu apoio a Jair Bolsonaro. Há bolsonaristas no "movimento espírita", mas se subestima essa afinidade de sintonias, consagrada pela impressionante similaridade entre o lema de Francisco Cândido Xavier, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e o lema de Bolsonaro, "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos".

Para desespero de muitos, o "espiritismo de direita" não é o do "seu Zé do Escritório", do "João da Batina" ou do seu "Raimundo da Alfaiataria" e seus "espíritos" de lençóis brancos. O "espiritismo de direita" é, queiram ou não queiram, o do próprio Chico Xavier, que teve arrepiantes provas de defesa de ideias reacionárias em sua vida, constatação que não tem caráter opinativo, porque se sustenta por fatos, o que desafia completamente qualquer pensamento desejoso que tentasse transformar o "médium" numa mistura de fada-madrinha da Disney com militante guevarista.

Chico Xavier apoiou a ditadura militar, a ponto dele fazer o que nenhum humanista faria, que é receber homenagem dos opressores, indo à Escola Superior de Guerra, em 1972. Com muito gosto, Chico Xavier exaltou os generais, achou o AI-5 "necessário" para combater o "radicalismo dos opositores" e ainda esculhambou os movimentos operário, camponês e sem-teto. Dá pena haver gente, hoje em dia, que acha que Chico Xavier era esquerdista. 

E dá pena Chico Xavier ser considerado "médium dos pés descalços" quando, no momento mais difícil vivido pelos brasileiros mais oprimidos, que foi a fase mais repressiva da ditadura, o "médium" ficou no lado dos opressores. Isso vai contra a natureza de um humanista, que preferiria ir à forca, se for para salvar os oprimidos, do que elogiar seus algozes. O próprio Jesus foi crucificado e em nenhum momento elogiou os tiranos do Império Romano.

Sem poder explicar, quando alegam terem sido "enganados" pela Operação Lava Jato, os "espíritas" agora tentam desmentir que apoiaram o golpe político de 2016. No calor do momento, eles eram muito convictos em suas perspectivas, mas quando a realidade mostra, passam a dizer que "erraram", que foram "mal intuídos", que "não observaram bem as coisas" e "foram mal avisados" etc.

Como assim? Que religião é essa que se arroga em falar de um "futuro melhor", que em muitos momentos fala em perspectivas que "realmente vão acontecer, queira ou não queira a humanidade", que inventa que Chico Xavier "previu" descobertas científicas etc, e brocha na hora H, dizendo que "falhou", "foram obsediados nas previsões" etc. Não têm a menor prudência quando são acometidos de supostos instintos proféticos, e chegam a jogar tudo em periódicos, como o fluminense "Correio Espírita", sem perceber se realmente estamos ou não estamos na "regeneração".

Enquanto Divaldo Franco, considerado o maior discípulo de Chico Xavier, falou que toda a equipe da Operação Lava Jato estava intuída pelo "plano superior divino", ele se valeu de atribuições que muitos acreditam serem elevadas e certeiras. Como é que "o maior médium vivo do Brasil", seguidor fiel e entusiasmado de Chico Xavier e herdeiro de sua trajetória, vai errar agora, segundo seus seguidores?

Reportagens investigativas mostram, com provas consistentes obtidas com muita pesquisa e cuidado na verificação de denúncias e depoimentos, que os "heróis" do "movimento espírita" não passam de uma fraude. Grupos como Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua, Acorda Brasil, Nas Ruas e até o Revoltados On Line (na ironia do "movimento espírita" ser contra o sentimento de revolta), vistos pelos "espíritas" como "jovens comprometidos com a regeneração da humanidade", dotados do "clássico dever humanitário" de "lutar contra a injustiça dos homens", representada por "séculos de corrupção e impunidade". Mas eles foram denunciados como fraudulentos.

Nomes como Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol eram vistos como "cidadãos simples a serviço do bem" e, por isso, eram glorificados pelos "espíritas" como "mensageiros de um tempo difícil, mas que traria a paz e a solidariedade em momento oportuno".

Agora, denúncias mostram que esses grupos que organizaram as passeatas do "Fora Dilma" - num estranho processo de regeneração humanitária que incluiu manifestantes baixando suas bermudas para mostrar seus glúteos ao ar livre (sério!), senhoras mostrando cartazes perguntando por que os esquerdistas não foram mortos em 1964 e faixas pedindo "intervenção militar" (eufemismo para ditadura) e exibindo até suásticas nazistas - foram financiados por grandes empresas.

Recentemente, reportagens do Intercept Brasil com uma equipe comandada pelo premiado jornalista Glenn Greenwald - estadunidense, advogado de formação, que foi conhecido por vazar documentos secretos da CIA revelados por Edward Snowden - , mostram Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, respectivamente, (então) juiz e procurador, esbanjando uma cumplicidade inadmissível no meio jurídico, chegando a negociar delações e condenações e até como evitar certas investigações.

A atuação de Deltan Dallagnol ainda é mais destacada. Ele se revelou um ganancioso arrivista, desejoso de fazer do legado da Operação Lava Jato uma fábrica de palestras, às quais ele ganharia valores financeiros de cinco dígitos para cada exposição. Ele chegou a fazer palestras para banqueiros que, depois, adquiriram ações na BR Distribuidora, tornando a Petrobras um sócio minoritário sem poder de decisão.

Mas as mais recentes revelações mostram Deltan e outros procuradores esnobando Lula e familiares falecidos, em diálogos cheios de ironias. Marisa Letícia era comparada, friamente, a um "vegetal", na ocasião de sofrer um acidente vascular cerebral. Uma procuradora chegou a dizer que a ex-primeira dama sofreu AVC por causa dos "pulos de cerca" do marido Lula. Sobre o irmão Genival da Silva, o Vavá, Lula, proibido de ir ao velório, recebeu um comentário grosseiro do procurador Januário Paludo: "O safado só queria passear". Procuradores também ironizaram a comoção de Lula, quando foi autorizado a ir ao enterro do neto Arthur da Silva, visto como "vitimismo". E, sobre a ida aos enterros, os procuradores temiam que Lula não voltasse à prisão, segurado pela "militância do PT".

Essa é a equipe da Operação Lava Jato que o "humanista" Divaldo Pereira Franco definiu como "intuída pelo plano superior divino". Que iria conduzir as "profecias humanitárias" de Chico Xavier. Que iria promover a "regeneração da humanidade", pondo fim a "séculos de corrupção e impunidade". Com sua falta de humanismo, os lavajateiros deixam os "espíritas" sem as roupas na mão, sem poder explicar o porque de um apoio tão convicto, no calor do momento, mas que depois se dissolveu numa "imperfeição". Como pessoas que, no presente, fazem algo com consciência e convicção, agindo por saber, e, depois, quando a farsa é revelada, essas mesmas pessoas dizem que "erraram feio" e "agiram sem saber"?

E agora o "movimento espírita" tenta dizer que "agiu por precipitação", "agiu sem saber", e com tantas irregularidades a religião virou um "paraíso da imperfeição": "médiuns que erram", "pessoas iluminadas que são obsediadas", "dirigentes de centros espíritas que brigam uns com os outros", "pessoas boas e humildes, mas que falham o tempo todo". E ainda tem gente apelando para "médiuns espíritas" para interceder em suas preces cotidianas! Quanta aberração!

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