(Autor: Senhor dos Anéis)
É impossível que Francisco Cândido Xavier tenha apoiado a ditadura militar a "contragosto", como tentam, em vão, afirmar os seus defensores, sempre desesperados em manter no "médium" somente as atribuições que lhes agradem, manobra que, em tempos de pós-verdade, soa muito caraterística.
Não há uma visão consistente que justifique a imagem supostamente progressista de Chico Xavier. Tal tese se sustenta por bases teóricas muito frágeis, tomadas pela emotividade cega e envolvendo ideias vagas e superficiais em torno de virtudes humanas supostamente associadas ao "médium".
São alegações sem provas, mas são teses meramente especulativas, meramente opinativas e apenas "legitimadas" pela força da pós-verdade e pela ilusão de que a liberdade da fé religiosa pode tudo, até renegar a realidade.
Não existe base lógica que provasse que Chico Xavier apoiou a ditadura militar por ingenuidade, impulso do momento ou contragosto. Queiram ou não queiram seus seguidores, Chico Xavier apoiou a ditadura porque ela estava muito de acordo com a formação ultraconservadora do "médium", que possui bases sólidas no contexto do espaço e da época social em que ele foi criado.
Enquanto pessoas ficam felizes ventilando mentiras como dizer que Chico Xavier era "comunista", a realidade cobra a conta e faz muita gente se decepcionar quando lê algum livro do "médium" com mais atenção. Daí que os seguidores de Chico Xavier não leem seus livros nem procuram seus depoimentos, preferindo o limitado repertório de memes que estão disponíveis nas redes sociais.
Deixemos de ilusão. Chico Xavier apoiou, mesmo, a ditadura militar, e sua formação social permitiria que ele chegasse ao apoio, ainda que crítico, a Jair Bolsonaro, porque Chico tinha um profundo horror ao PT e a Lula. Esse direitismo de Chico Xavier se baseia em fatos, em informações realistas que podem contrariar a imagem "amorosa" que muitos acreditam que o "médium" sempre teve, mas estão em perfeito acordo com o Chico Xavier da realidade, que sempre foi conservador.
ANÁLISES LÓGICAS
Muita gente coerente diz: "Se Chico Xavier apoiou a ditadura, é porque ele apoiou a ditadura, ora!". Não há esse negócio de "ele apoiou a ditadura, sem que a tivesse apoiado de fato". Como assim? Daí que acadêmicos melindrosos e medrosos como Ronaldo Terra usaram a "santidade de Chico Xavier" (ahn?!) para alegar o seu apoio "circunstancial" à ditadura militar.
Em primeiro lugar, alguém acharia que Chico Xavier iria demonstrar, abertamente, num programa de TV de grande audiência, o Pinga Fogo da TV Tupi, que atingiu altos picos de alcance público e cujo acervo foi preservado na posteridade e, daí, visto por mais gente ainda, um apoio entusiasmado à ditadura militar, por algum contragosto ou impulso do momento e sem saber do risco de ser marcado por tais posições ao longo dos tempos?
Em segundo lugar, Chico Xavier não seria forçado a ser homenageado pela Escola Superior de Guerra, instituição que foi o "laboratório" do golpe de 1964 e do projeto político dos generais. Também a Escola Superior de Guerra não seria forçada a homenagear Chico Xavier. Se um foi homenageado e a homenagem foi dada por alguém ou alguma entidade, é porque houve afinidade de sintonia, de ideias, de tudo.
Ninguém homenageia à força como ninguém é forçado a ser homenageado. Também ninguém vai a um evento de homenagem a contragosto. Se os generais e os políticos civis da ditadura homenagearam Chico Xavier, é porque tiveram afinidade com ele e ele, comparecendo a esses eventos, também teve a franca (olha o trocadilho) afinidade com seus homenageadores. Simples assim.
O conservadorismo de Chico Xavier possui fundamentos teóricos e provas bastante robustos. Ele teve raízes sociais bastante conservadoras, sua formação católica é ortodoxa, apesar da suposta paranormalidade, e, como um conservador nato, Chico nunca iria, na velhice, virar a casaca e virar o festivo esquerdista libertário que seus seguidores desejam que ele fosse.
É patético que pessoas tentem "mudar" Chico Xavier mesmo depois de morto há anos. Se o espírito dele mudou no mundo espiritual, é outra história, mas aí ele deixou de ser Chico Xavier, mudou de contexto, de situação, nada tem mais a ver com a encarnação que o marcou. Mas daí a seus seguidores, mesmo dentro dessa constatação, virem a "esquerdizar" o "médium", aí é uma grande e vergonhosa falta de discernimento mental.
As atribuições de Chico Xavier como um suposto progressista e até esquerdista, LGBT+, marxista ou coisa parecida é que não possuem fundamento teórico algum. Elas só se sustentam fragilmente por ideias soltas, vagas, e por apelos meramente emocionais, especulativos e meramente opinativos. Se o direitismo de Chico Xavier é comprovável por fatos da realidade, seu suposto esquerdismo não tem provas, é apenas uma ideia agradável, porém fantasiosa e desprovida de qualquer fundamento.
ANTI-HUMANISTA
Voltando ao apoio de Chico Xavier à ditadura militar, Ronaldo Terra alega que o "médium" assim o fez para "não ser censurado". Uma desculpa sem pé nem cabeça, que faz depois o acadêmico, contrariando as normas de abordagem científica e lógica das monografias, derramar exaltações à suposta santidade do "médium".
A verdade é que Chico Xavier desmascarou-se quando apoiou a ditadura militar. Ele, com isso, deixou de ser o "bondoso homem" que muitos insistem, em neurótico desespero, em acreditar nele, até porque, no Pinga Fogo, o "médium" afirmou que a "violência e o AI-5" foram necessários para combater os atos dos opositores da ditadura. Qualquer dúvida? Vejam o que o "bondoso médium" disse:
"Diga-se, a bem da justiça, que os militares só recorreram à violência, ao AI-5 em represália aos atos de violência dos opositores do regime democrático capitalista, que viviam provocando atos de vandalismo, seqüestros de embaixadores e mortes de inocentes".
E ainda tem comunista bobo alegre dizendo que adora Chico Xavier e, ao mesmo tempo, tenta dizer "eu sou comunista mesmo, de Marx, Lênin e Trotsky". Parecem aqueles nerds da escola achando que as animadoras de torcidas, namoradas de valentões, irão se apaixonar pelos perdedores sociais. Quantas esquerdas caíram de tolas ao adorarem um "médium" reacionário!...
O apoio à ditadura por parte de Chico Xavier - que relatos afirmam ter tido ele profundo pavor de ver Lula governando o Brasil - é tão grave que revela um anti-humanismo, porque, mesmo sob o pretexto de "sobreviver à repressão ditatorial", o "bondoso médium", ao exaltar, em várias ocasiões, à ditadura militar, e ao aceitar ser homenageado por ela, ele comprovou estar no lado dos opressores, porque ninguém faria o que ele fez por contragosto.
Um humanista religioso, mesmo conservador, faria o contrário. Repudiaria, mesmo sofrendo risco de morte, qualquer tipo de tirania. Preferiria estar ao lado dos oprimidos, mesmo em situação difícil, mesmo que tenha que pagar caro pelo seu altruísmo aos excluídos.
Quando os oprimidos estiveram em situação difícil, Chico Xavier ficou no lado dos opressores. E isso colocou o "médium" em desvantagem até mesmo diante de católicos ortodoxos como Alceu Amoroso Lima - o mesmo que afirmou que Parnaso de Além-Túmulo é uma farsa montada por editores da FEB - , que, depois de apoiar o golpe de 1964, passou a se opor aos arbítrios da ditadura e defender, em seguida, a redemocratização do Brasil.
Um humanista não iria ficar ao lado dos opressores, mesmo que seja para sua própria sobrevivência. O verdadeiro humanista aceita riscos, porque é sob tiranias que ele prova o seu apreço pelos oprimidos, como um amigo socorrendo um agonizante em situação bastante difícil.
O humanista não negocia com os opressores e tiranos, e é justamente essa negociação que Chico Xavier fez com a ditadura, o que desmascara de vez a imagem de "humanista, caridoso e bondoso" que o "médium" expressa entre seus seguidores e simpatizantes. Portanto, Chico Xavier comprovou ser uma figura anti-humanista.
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