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No Brasil, quase todos os "médiuns" não têm concentração para receber espíritos

(Autor: Professor Caviar)

O que se entende por "mediunidade" no Brasil é uma atividade que praticamente está desmoralizada. Mensagens que não passam de mershandising religioso, em que os supostos mortos se reduzem a propagandistas da religiosidade, não bastasse apresentarem aspectos estranhos à suas peculiaridades pessoais, além de fraudes nas pinturas e nas psicofonias, estas mais parecendo imitações dignas de stand up comedy, tudo isso acaba afastando os espíritos do além que não se sentem, nem de longe, dispostos a se comunicar com a gente de cá.

Tudo na "mediunidade" é errado. Até seu nome, porque o certo seria dizer "paranormalidade". Tanto pelo fato de que ninguém é médium por se comunicar, por si só, com as almas do além - alguém pode apenas se comunicar com um morto pessoalmente, sem que se sirva de intermediário para outras pessoas - , quanto pelo fato de que os "médiuns", no Brasil, pecam pelo culto à personalidade.

Sim, porque apesar de toda a imagem de pretensa humildade dos "adorados médiuns", eles são beneficiados pelo culto à personalidade. São os centros das atenções, o que corrompe o sentido da linguagem comunicativa.

Normalmente, um verdadeiro médium é, como o nome diz, intermediário entre o morto e algum ente querido que está vivo. É, no processo linguístico, segundo a Teoria da Comunicação, o canal entre o emissor (o morto) e o receptor (o vivo).

No Brasil, isso se corrompe. O médium vira emissor, por causa das "mensagens de amor" e das "lições de vida". Vira dublê de intelectual, filósofo, psicólogo e consultor sentimental. O morto é que deixa de ser o emissor para ser um canal , ou seja, um propagandista de mensagens consoladoras. Só o receptor, o vivo, continua intato, mas sua percepção é que fica muito atrofiada, pelo apelo emocional que supostas psicografias, psicofonias ou pictopsicografias trazem para ele.

A verdade, porém, é contundente: QUASE NENHUM dos ditos médiuns têm concentração para receber espíritos. E, quando têm, é muito limitada. Francisco Cândido Xavier tinha até essa concentração, mas ela era precária e não se estendia para a volumosa produção de livros que levam seu nome (e que, a partir dos anos 1970, não tinham sequer a colaboração dele, eram feitos por editores da FEB, como no Dr. Brown do conto "A Terra Árida", de Luiz Fernando Veríssimo).

Além disso, Chico Xavier produziu pastiches literários que, sem dúvida alguma, horrorizaram espíritos do além, que nunca iriam se comunicar se suas mensagens não são aproveitadas. O caso Parnaso de Além-Túmulo, uma coletânea de grotescos pastiches literários que até tentam, na superfície, buscar alguma semelhança com os estilos originais dos autores (Casimiro de Abreu falando de infância, Castro Alves evocando o Abolicionismo, Olavo Bilac exaltando a pátria brasileira), mas as diferenças destoam severamente desses estilos, de maneira comprovada.

Um exemplo bem claro disso é que, nessa antologia poética, Olavo Bilac e Auta de Souza demonstram explicitamente "falar" como Chico Xavier. O descuido da métrica poética demonstra contraste com o estilo original de Bilac, e Chico Xavier também costuma ser escritor medíocre, com textos que indicam leitura pesada, de tão cansativos, e sem fluência poética. A "Auta de Souza" de Chico Xavier perde a graciosidade feminina e infantil da autora original e "incorpora" a linguagem e as ideias do "bondoso médium".

E isso se vê no caso Humberto de Campos. Não dá para salvar a obra atribuída ao autor maranhense trazida por Chico Xavier. É um desastre irrecuperável. O estilo do "espírito Humberto de Campos" é muito diferente do que o escritor deixou em trabalhos publicados em vida. A narrativa ágil, descontraída, culta mas acessível, deu lugar a um texto pesado e cansativo, de narrativa melancólica e deprimente, linguagem forçadamente erudita mas cheia de vícios de linguagem, parágrafos mais longos do que aqueles que Humberto havia escrito enquanto era vivo.

Chico Xavier acabou perdendo a concentração. Virando o popstar do "movimento espírita", ele praticamente abandonou os dons paranormais, que já não eram tão amplos. Tendo que acolher pessoas, dar entrevistas e tudo, alguém acreditaria que ele mesmo teria condições de lançar uma quantidade muito grande de livros e uma concentração ímpar para receber mensagens de uma multidão do além? Isso é praticamente difícil.

O próprio caráter falho da personalidade de Chico Xavier já o faz distante de ser o "homem puro" dos sonhos de seus seguidores. Deturpador severo dos postulados da Doutrina Espírita, com preocupante contraste com as ideias kardecianas observadas explicitamente nos livros chiquistas, Chico ainda era um católico beato e ortodoxo e um moralista ultraconservador que torna risível qualquer definição de "progressista" e "ativista" dado pelos seus deslumbrados e cegos seguidores.

Chico Xavier criou uma péssima escola de mediunidade, em que a pessoa cria uma mensagem da própria mente, se servindo de informações colhidas do morto de sua escolha, e a recheia de recados religiosos, para afastar qualquer desconfiança das pessoas. Normalmente se acredita que as pessoas não teriam coragem de identificar como fraude uma mensagem que apresente "lições positivas de vida" e "recados de amor e fraternidade". Não se costuma processar mensagens fraudulentas que tragam "coisas boas".

Além disso, o "rouba mas faz" do "movimento espírita" faz com que todo o trabalho dito "mediúnico" seja, na verdade, uma indústria de fraudes. Mensagens escritas que escapam das particularidades pessoais dos mortos a que são atribuídas autorias, mensagens por voz que mais parecem falsetes humorísticos, pinturas que nem de longe lembram os estilos dos respectivos autores atribuídos e que, invariavelmente, só mostram a assinatura pessoal do suposto médium.

Não há concentração. A paranormalidade precisa de um exercício mental profundo, de uma discrição rigorosa, de uma humildade que não é a das palavras e do aparato, mas aquela que não se alardeia, uma humildade sentida por dentro e não fingida por fora. Não é um processo simples de trancar-se numa sala de uma "casa espírita" e esperar a mensagem "vir" (ainda que da própria imaginação do "médium"). 

Infelizmente, a quase totalidade dos "médiuns" brasileiros, incluindo muita gente tida como "conceituada" - como os próprios Chico Xavier e Divaldo Franco - , não tem essa concentração nem qualquer pré-requisito para ter a habilidade mediúnica. São apenas escrevinhadores baratos de mensagens religiosas que apenas "tomam emprestado", como que usando pseudônimos, os nomes dos mortos de sua escolha. E há o agravante de que, sobre Chico e Divaldo, pesam graves acusações de vergonhosos plágios literários.

Tudo isso se deixa passar, impunemente, pelo status religioso que representam. Ninguém vai processar contra fraudes que são feitas "pelo pão dos pobres". É uma grande falha do meio jurídico, pois essa "caridade" é comparável ao do crime eleitoral de oferecer cestas básicas durante uma campanha para cargo eletivo. Desonestidade feita "com amor" não pode ser considerada honesta. Mas muito consideram. Esse é o problema que tem que ser resolvido duramente no Brasil, despindo as pessoas das complacências tentadoras da paixão religiosa.

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