(Autor: Professor Caviar)
As pessoas estão com saudade dos tempos em que ouviam contos de fadas falados pelo pai ou pela mãe, ou então por avós, em que as almas eram anestesiadas com fantasias de infância narradas de maneira agradável.
Elas recorrem à religiosidade, e o "espiritismo" está incluído nesse processo, para recuperar, de maneira nostálgica, os tempos em que poderiam sonhar se imaginando nas nuvens, enquanto a realidade fervia e explodia.
Hoje sabemos que ser adulto ou idoso não é garantia alguma de maturidade e sabedoria. Pessoas com mais de 60 anos de idade cometem barbaridades na vida e isso se observa nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dotado de exemplos de arrepiar os cabelos, fazendo coisas mais graves do que criança chutar a bola contra uma vidraça.
Há neuroses e desejos juvenis muito mal resolvidos, como se os cabelos brancos acumulassem dívidas sobre anseios adolescentes ou de puberdade muito mal conduzidos e precariamente realizados. E não são raras as pessoas que, na hora de aderir à religião ou ler um livro, ainda têm a busca desesperada da infância perdida.
Pessoas buscam as tais "lindas estórias de amor". A desculpa é o "consolo moral", o "estímulo à esperança", a "busca do conhecimento", quando na verdade se trata de um trauma não resolvido de uma infância perdida, de um retorno desesperado aos tempos em que ouvia contos de fadas, com a Cinderela recuperando o sapatinho perdido e se casando com um príncipe, ou o Lobo Mau duplamente derrotado, pelos três porquinhos e pelo caçador que protegia a Chapeuzinho Vermelho.
É isso que faz com que pessoas adultas recorram ao recreio supérfluo das palestras religiosas, sobretudo "espíritas", onde o balé de palavras bonitas se torna mais espetacular. Ou então no mercado literário, onde os livros mais vendidos são justamente aqueles que fogem de qualquer missão de transmitir conhecimento, e que não raro trazem obras tidas como "esclarecedoras", as obras religiosas, que na verdade não passam de engodo misturando moralismo e mistificação.
Francisco Cândido Xavier se valeu disso. Maior arrivista do Brasil, Chico Xavier se valia de citar relatos "bonitos" e palavras "confortadoras" que lembravam os contos de fadas da infância. Palavras dóceis, dramalhões piegas que mostram sofredores em desgraças extremas que depois, com a "força da fé", vencem na vida, se tornaram a marca do suposto médium, a ponto de muitos até admitirem que ele "entendeu mal a Doutrina Espírita", mas se tornam complacentes com ele por causa da "bondade" e das "mensagens de amor".
É certo que contos de fadas trazem mensagens esclarecedoras, e são formas de explicar a vida para crianças pequenas em compreensão incipiente do mundo em volta. Mas as estórias religiosas, arremedos de contos de fadas, acabam se tornando mais infantis, porque não são mais as traduções da realidade da vida em narrativas para crianças, mas a subordinação da realidade a uma narrativa mistificadora de conteúdo moralista muitas vezes conservador.
As pessoas correm atrás dos livros de Chico Xavier por causa dessas "estórias lindas". Vale tudo: o traiçoeiro Emmanuel, o pseudo-Humberto de Campos, o fictício André Luiz e um cem-número de "personalidades do além" que parecem falar as mesmas palavras e as mesmas ideias de Chico Xavier.
Há quem faça vista grossa com as aberrantes contradições que supostos autores como Olavo Bilac, Auta de Souza, Castro Alves, Humberto de Campos e outros aparecem nos livros de Chico Xavier. Contradições de estilo, de ideias, de linguagem. As pessoas ficam complacentes por causa das tais "lições de vida" e "mensagens de amor". São entorpecidas pelo deslumbramento religioso, que os leva para reinos da fantasia nos quais não querem se desapegar.
Mas fora do "espiritismo", o mercado literário que, nos últimos anos, renega a valorização do Conhecimento, com seus livros sobre poesias inexpressivas, terror com estudantes-vampiros, jogos de Minecraft e Pokemon Go, "livros para colorir" e bobagens de youtubers, Auto-ajuda, livros de estórias religiosas, em que qualquer autor surgido do nada vira best seller nem que seja por uma semana, mas o suficiente para passar para trás autores com maior compromisso de transmissão de conhecimentos.
Há uma neurose infantil, um trauma da infância perdida, que as "estórias lindas" da religião buscam, em tese, recuperar. E, do contrário que muitos imaginam, isso não é saudável. Afinal, essas obras são muitas vezes obras de mistificação e de moralismo retrógrado, e seguem até mesmo uma função pedagógica inversa a dos contos de fadas.
Essas "estórias lindas" mais deseducam e trazem o conformismo, disfarçam a baixa autoestima com a subordinação pela fé, glamourizam a tragédia humana, desestimulam o questionamento da realidade, e acabam indo no sentido inverso dos contos de fadas da infância, na medida em que estes interpretam a realidade pela narrativa da fantasia, enquanto as "estórias lindas" do mundo adulto transformam a realidade no subproduto da fantasia religiosa.
Isso é muito grave. As pessoas adultas são induzidas a acreditar em fantasias, diferente das crianças, às quais o mundo da fantasia é apenas um meio de explicar a realidade. Isso resulta em teimosias muito mais perigosas que as infantis, em ilusões ferrenhas em níveis dominantes, uma compreensão atrofiada da realidade que pode ameaçar o Estado de Direito e gerar tiranias.
Não por acaso, o exemplo de Chico Xavier traz perturbações mentais graves. As pessoas só mantém alegria e mansidão quando tudo está bem, mas quando são contrariadas, as pessoas que seguem Chico Xavier perdem a cabeça, se alteram, se irritam extremamente. Já houve casos de pessoas agindo como psicopatas só por ver algum questionamento sobre as obras do suposto médium.
São apegos neuróticos a fantasias infantis, muito diferentes do estágio da infância. É como uma busca desesperada por aquilo que acabou. Recuperar essa puerilidade, o conforto de ouvir estórias belas na infância, no relato do vovô, da vovô, do papai e da mamãe, ou mesmo da babá, é inútil porque o que se acredita ser recuperado, o prazer de ouvir relatos bonitos, é seu arremedo grotesco de ouvir ou ler relatos moralistas e mistificadores, obras sombrias que apenas são organizadas por palavras bonitas e situações bastante confortáveis.
Portanto, as "estórias lindas" que fazem a fama de Chico Xavier e, por conseguinte, por Divaldo Franco e sua verborragia e tantos outros exemplos, não passam de entretenimento supérfluo que em nada acrescenta de útil na vida das pessoas, e tão somente servem apenas para o recreio de belas palavras e ideias fantasiosas, sob as quais se transmitem conceitos bastante retrógrados de humanidade.
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