Ingênuo divulgador do Espiritismo e aparente esquerdista, Franklin Félix comete um erro crasso nesse texto em que questiona que Francisco Cândido Xavier teria previsto a Terceira Guerra Mundial.
O grande erro é poupar Chico Xavier nesta situação, apenas renegando o caráter catastrofista e tentando reafirmar a imagem de "bondoso" do suposto médium, que na verdade tinha a esperteza de Aécio Neves, o reacionarismo de Jair Bolsonaro e o oportunismo "filantrópico" de Luciano Huck sintetizados numa mesma pessoa.
Evidentemente, a "profecia da data-limite" é uma grande bobagem. Mas Franklin Félix, mesmo renegando o catastrofismo - presente nos depoimentos de Geraldo Lemos Neto - , se esquece que Chico Xavier se enquadra em muitos procedimentos rejeitados pelos ensinamentos de Allan Kardec, e que ele havia determinado, sim, datas determinadas para acontecimentos futuros.
Chico Xavier é um anti-kardeciano explícito. Ele personifica muito do perigo alertado por Kardec: textos empolados, ideias mistificadoras, uso de nomes ilustres para enganar e iludir as pessoas. Só o apelo sensacionalista de Parnaso de Além-Túmulo de 1932, que dizia acolher uma multidão de poetas e escritores falecidos em obras supostamente trazidas do mundo espiritual, já deveria servir de aviso diante de uma figura arrivista e traiçoeira que sempre foi o "bondoso Chico Xavier".
Franklin Félix comete seus equívocos, primeiro, por dizer que "Chico Xavier é um dos médiuns mais respeitados do mundo". Isso é mentira. Sua "mediunidade" é duvidosa e, se ela é "respeitada", isso só acontece no Brasil. É aquele papo do "Dia Mundial do Rock", que mal consegue valer dentro de escritórios de grandes empresários de shows e de executivos de rádio no Brasil.
O que Franklin Félix não percebe é que Chico Xavier, como "médium", sempre apresentou irregularidades muito graves. E isso se explica por um simples motivo: se a paranormalidade ainda é um problema a ser estudado no exterior, no Brasil a ignorância é total e nosso país é justamente o mais estéril em termos de paranormalidade, não será aqui que os problemas de mediunidade se tornam resolvidos se o mundo desenvolvido ainda não conseguiu resolvê-los.
Temos, no YouTube, o exemplo de um suposto paranormal estadunidense, Charles Chittenden, que através de um aparelho eletrônico, tenta fazer Trans-Comunicação Instrumental (TCI), buscando contatos com celebridades mortas. O resultado é um fracasso, pois o aparelho capta apenas sons soltos e vagos, que mais lembram fragmentos de entrevistas, conversas de bastidores ou de canções radiofônicas.
Se lá existem esses problemas, por que a "mediunidade" de Chico Xavier, que mesmo no âmbito da escrita apresenta falhas grosseiras preocupantes, é vista como "respeitável"? Contradições que se mostram até mesmo em caligrafias e pontos de vistas, sem falar da "perda do talento" no além-túmulo.
Como Olavo Bilac, despojado da matéria terrestre e com seus potenciais mentais e sua individualidade ampliados, perderia seu talento (um dom espiritual) no túmulo e passaria a "pensar" e "escrever" igual Chico Xavier? Como Auta de Souza, a meiga poetisa negra, poderia perder seu talento peculiar de versos ao mesmo tempo infantis e femininos, para "escrever versos" que de Chico Xavier cheiram o mofo de seus velhos paletós, tamanha é a visão pessoal do "médium" expressa nesses poemas?
Franklin Félix tenta livrar Chico Xavier de qualquer enrascada, mas creio que ele não deve ter prestado atenção nos seus livros, quando o colunista escreveu o seguinte: "Nós não somos uma “experiência” de Deus, tampouco, suas marionetes".
As ideias de Chico Xavier sempre se dirigem à "submissão a Deus". Isto está muito claro em toda sua obra e seus depoimentos. Chico Xavier estabeleceu datas fixas, sim, para suas "profecias" e não é possível que Geraldo Lemos Neto esteja querendo desmoralizar seu ídolo. E mesmo que questionássemos o relato de Geraldinho, como ele é conhecido, devemos admitir que Chico Xavier já mencionava uma "terceira reunião", no século XX, para "discutir os rumos da humanidade".
Além disso, o moralismo de Chico Xavier sempre apelava, com base na Teologia do Sofrimento, que a pessoa teria que aceitar suas desgraças em silêncio, sem queixumes, o que significa que a pessoa teria que aguentar seu suplício, supostamente para pagar "dívidas espirituais", por se tratar de um "desígnio de Deus".
Em Reportagens de Além-Túmulo, que Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas escreveram usando o nome de Humberto de Campos, há um conto intitulado "A Queixosa", que é completamente deplorável e discrimina as pessoas que reclamam da vida. Em dado momento, Chico Xavier desaprova a queixa da senhora em servir de "capacho do Destino", ou seja, de ser usada como "marionete de Deus" para enfrentar infortúnios sucessivos.
Ou seja, dependendo do moralismo de Chico Xavier, a pessoa tem mais é que ser "marionete de Deus", ser "cobaia" de situações adversas graves, sucessivas e, em doses surreais, supostamente como "provas" para a "depuração espiritual", aceitando as adversidades com resignação e apenas buscando sua superação através de esforço extremamente doloroso e de difícil realização.
Outro aspecto a considerar é a confusão. Se Chico Xavier rende interpretações conflituosas, é bom lembrar que ele mesmo fez por onde. Desde o livro sensacionalista Parnaso de Além-Túmulo, desde os fakes literários e outras irregularidades - como o apoio do "médium" a fraudes de materialização - até posturas ultraconservadoras e factoides plantados - como a "profecia da data-limite" ou a tese absurda de que Xavier seria reencarnação de Kardec - , se tudo isso causa controvérsia, a culpa é, sim, de Chico Xavier.
Devemos admitir que Chico Xavier nunca foi com a lógica e o bom senso. A coerência nunca foi seu forte, e sua trajetória, diferente da de Jesus e Kardec, foi marcada causando muita confusão, muito conflito, o que significa que o "médium" nunca representou união fraterna dos povos. Ele dividia as pessoas com suas atividades irregulares, seu igrejismo medieval, seu ultraconservadorismo ideológico, suas atitudes extravagantes.
Não há como tratar Chico Xavier como uma "fada-madrinha" dos filmes da Disney, com aquela inocência e pureza tristonhas e vitimistas. Ele também aprontou das suas, não como um "bom médium que errou muito no caminho", mas como um irresponsável que, como bem lhe convinha, cometia atos que, depois, causaram maus efeitos. Chico Xavier é o inimigo interno do Espiritismo e nada tem a ver com a imagem adocicada que gente como Franklin Félix insistem em manter. Vamos abandonar as fantasias que residem nessa doença infantil do chiquismo!
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