Franklin Félix, colunista "espírita" de Carta Capital - cujo dono, Mino Carta, nasceu na mesma Gênova de Afonso Angeli Torteroli - , até tenta livrar o "médium" Francisco Cândido Xavier da reputação de ultraconservador, mesmo tendo que admitir tal postura em seu discípulo Divaldo Franco.
Félix é um dos que tentam desenhar Chico Xavier como um "progressista", sempre se valendo de apelos emocionais que, todavia, carecem de argumentos lógicos, por serem ideias que soam agradáveis a muitos, mas não possuem o menor fundamento. Nesta tendência, os "espíritas" se esquecem que Chico Xavier era abertamente conservador e expressava ideias retrógradas, apenas iludindo as pessoas por causa de uma maneira educada de manifestar tal pensamento, uma cautela que, no entanto, faltou quando foi ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971.
Quanto à causa LGBT+ - antes denominada homossexualismo - , muitos acreditam, ingenuamente, que Chico Xavier era favorável à causa. Não era. Os "espíritas" ouviram as frases dele pela metade e se deixam guiar pelo jeito aparentemente efeminado do "médium". Os "espíritas" não leem sequer os livros dele e, por isso, não têm a menor ideia de suas pautas conservadoras, daí que se sentem chocados só de imaginar que Chico Xavier apoiaria Jair Bolsonaro (e ele apoiaria mesmo).
Chico Xavier dizia que os homossexuais "mereciam o mais absoluto respeito". Parando por aí, muitos de seus seguidores se apressam em publicar, nas redes sociais, a foto do "médium" descolorida mas recolorida com as cores do arco-íris, símbolo da causa LGBT+. Mas isso é um grande equívoco, se percebemos o que Chico disse a seguir.
Ele definia a situação do homossexual como de "confusão mental", correspondente à reação individual na reencarnação. Com uma narrativa punitivista, Chico Xavier atribuía ao homossexualismo a perturbação mental do ser humano que, na encarnação anterior, tinha a condição sexual oposta à atual, e que nasceu sob um gênero diferente para expiar faltas passadas. Chico propôs que o reencarnado reeduque seus instintos e aceite a condição sexual presente, por ser ela uma determinação de Deus que deve ser obedecida. Para desespero de muitos, Chico Xavier foi um dos precursores da tese da "cura gay", hoje associada somente aos evangélicos neopentecostais.
Chico Xavier apenas pediu respeito aos homossexuais como "doentes" respeitados pelos médicos. O "médium" via o homossexualismo como uma enfermidade espiritual e moral, e quem acha que isso é coisa do "mentor" Emmanuel, é bom apostar em uma dessas considerações:
1) Embora seja duvidoso que Chico Xavier tenha psicografado até Emmanuel, considerar essa hipótese é plausível. Em todo caso, o contexto confirma que tudo o que Emmanuel supostamente pensava era de concordância absoluta de Chico Xavier, que não pode ser dissociado de posições morais bastante conservadoras;
2) Chico Xavier demonstrou a mesma opinião educadamente homofóbica no programa Pinga Fogo, numa participação, como convidado desse talk show, que deve ser analisada como um atestado fiel e realista das posições conservadoras do "médium", que nunca deve ser visto como um ativista progressista, porque todos os argumentos lógicos comprovam seu conservadorismo.
Franklin Félix teve que admitir o conservadorismo em Chico Xavier no trecho de seu artigo "Cura gay, LGBTs, kardecismo e as interpretações equivocadas", dos quais extraímos o seguinte trecho:
"Segundo Jorge Andréa, um psiquiatra tão famoso quanto controverso no meio espírita, a falta de sintonia entre o ser e o querer ser, ou entre o que se é e o que se pensa ser, transforma o homossexual, masculino ou feminino, num ser frustrado, atormentado por ilusões e anseios de consumação às vezes impossível e que o debilitam moralmente, abrindo porta larga a graves obsessões (obsessão é a influenciação negativa de um espírito desencarnado sobre um indivíduo).
O Espírito Emmanuel, em sua obra “Vida e Sexo”, psicografada por Chico Xavier, relata que quase sempre aqueles que chegam no além-túmulo, sexualmente desequilibrados, depois de longas perturbações, renascem no mundo tolerando moléstias insidiosas, ou em condição homossexual, amargando pesadas provas como consequência dos excessos que cometeram no passado.
Percebam como esse discurso espírita, parecido com o discurso de culpa da maioria das religiões cristãs, é carregado de preconceito e desconhecimento".
Não há como usar o pensamento desejoso e puxar Chico Xavier para o lado da causa LGBT+, usando alegações emocionais ligadas à fraternidade, o amor e o convívio harmonioso entre os diferentes. É impossível transformar um "médium" conforme a vontade de cada seguidor, porque a liberdade da fé não autoriza pessoa alguma a querer moldar um "médium" de acordo com o que ela quer que ele seja, sob o risco dessa pessoa idealizadora cair em uma grande decepção.
Sabemos que é estranho definir como "perturbação mental" o desejo de, por exemplo, pessoas como a cantora Daniela Mercury e o humorista Paulo Gustavo, além do jornalista estadunidense radicado no Brasil, Glenn Greenwald - famoso por investigar os bastidores da Operação Lava Jato e dos "heróis" Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, endeusados pelos "espíritas" - , se casarem com pessoas do mesmo sexo.
Mas o mito "adocicado" do "médium bondoso" não significa que seja sempre direcionado a tudo que é positivo. Temos que chamar a atenção das raízes ultraconservadoras de Chico Xavier. Sair jogando a sua pessoa para tudo que for causa avançada pode ser arriscado e pode até mesmo soar ofensivo, como o erro de blogueiros progressistas terem definido o "médium" como um "comunista". Se Chico soubesse disso, ele teria protestado com muita indignação.
Devemos, portanto, parar de jogar Chico Xavier para o lado das causas progressistas porque a essência real de sua obra é, para frustração de muitos, extremamente conservadora, e isso é fato, baseado nas raízes e na formação social do "médium".
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