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Chico Xavier e os problemas de seu bom-mocismo e da adoração a ele


(Autor: Professor Caviar)

A fascinação obsessiva que seguidores, simpatizantes e mesmo uma parcela de críticos de Francisco Cândido Xavier apresenta um problema muito sério e extremamente grave. É a complacência generalizada à sua figura, sempre relativizada em seus erros, como se fosse o único que pudesse ter qualquer tipo de atenuante em seus atos mais irresponsáveis.

Chico Xavier, na verdade, não merece 1% da adoração ou mesmo da condescendência que recebe, mesmo postumamente. Seu bom-mocismo, que seduz até mesmo uma parcela dos que o criticam, foi uma campanha bem construída, a maneira de uma peça publicitária, com a ajuda da mídia hegemônica, seja a TV Tupi, seja a Rede Globo.

Essa visão de "bondade" e "generosidade" apenas são formas de supervalorizar a aparente simpatia de Chico Xavier, como se isso fosse um diferencial. Não é. Chico Xavier é simpático, como Jair Bolsonaro também é simpático. E mesmo a grande mídia não consegue esconder o lado sombrio de sua pessoa, tão associada aparentemente à afabilidade e doçura.

Quem viu o programa Pinga Fogo, da TV Tupi, transmitido no fim de julho de 1971 e disponível na Internet através do YouTube, deveria prestar um pouco de atenção. Chico Xavier deixou a máscara cair várias vezes. Expressou pontos de vista reacionários, falando mal dos movimentos sociais e defendendo a ditadura militar. Parecia muito ranzinza, com expressões que alternavam mau humor e sorrisos cínicos. Confessou-se um católico convicto, tirando a esperança dos que apostam no pensamento desejoso de que o "médium" mineiro poderia ser um kardeciano autêntico. E tantas outras coisas.

Mas, apesar disso, Chico Xavier é alvo do mais obsessivo, do mais mórbido, do mais persistente, porém arriscado pensamento desejoso das pessoas, que o veem não como ele foi, mas como gostariam de vê-lo, através da imagem adocicada construída tão habilidosamente pelo discurso midiático - inspirado no que o inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá, outra ranzinza tida como "bondosa" - , que cria ingredientes que agradam a muita gente.

É um discurso bem construído durante décadas, no qual se exploram o jeitinho brasileiro, livrando Chico Xavier das consequências graves de seus atos irregulares - como a prática fraudulenta de criar livros fake, atribuídos a supostos espíritos de literatos mortos - , promovendo-o como um pretenso filantropo com práticas de mero Assistencialismo feitas mais para render adoração do que para produzir resultados sociais (que, por sinal, sempre foram medíocres). Além do jeitinho brasileiro, há a memória curta, o "perdão fácil" dos erros, assim como a construção, em processo de marketing, da imagem "amorosa" para o consumo de corações e mentes deslumbrados.

UMA PORÇÃO DE HIPOCRISIAS

A adoração extrema e fácil a Chico Xavier revela, entre seus seguidores, simpatizantes e até em críticos mais complacentes, inúmeras falhas que revelam a hipocrisia do ser humano no Brasil. A partir da exploração da imagem do "velhinho frágil e dócil", as pessoas que adoram Chico Xavier, salvo honrosas exceções, são as mesmas que desprezam os velhinhos de seu meio social mais próximo.

A hipocrisia humana tem, na adoração a Chico Xavier, sua máscara para inúmeras ocasiões. Pessoas cultuam sua imagem de "velhinho frágil e dócil" para não valorizaram a de outros velhos. Atribuem ao "médium" uma imagem de "bondade" que são incapazes de desenvolver por conta própria. Ao "médium" também atribuem a imagem de "amor ao próximo", enquanto elas mesmas reagem com nojo à presença de pobres, como na famosa ocasião de fechar as janelas dos carros diante de humildes pedindo esmola. O bom-mocismo de Chico Xavier, mais do que um processo de sedução de corações e mentes, é também um mascaramento para a sordidez de muitos que o adoram.

Tudo isso é um rol de ilusões. A imagem de Chico Xavier é uma ilusão que tenta se impor à realidade. Um sujeito que não pode ser considerado "bom e amável" porque pesam contra ele erros que não são acidentais, mas propositais, como deturpar o legado da Doutrina Espírita e publicar obras fake, além de, no caso das "cartas mediúnicas", cometer uma série de perigosas leviandades.

No caso da deturpação, foi Chico Xavier quem traduziu, com perfeita adaptação, o legado de Jean-Baptiste Roustaing, com tal habilidade que a Federação "Espírita" Brasileira pôde descartar o nome do advogado de Bordéus, porque o igrejismo, a catolicização do Espiritismo, poderia ser responsabilizada por alguém menos controverso.

Oficialmente, diz-se que Chico Xavier "se desgostou do Catolicismo" por causa de um incidente em Pedro Leopoldo, no qual foi excomungado pela igreja. Mas Chico sempre foi católico até o fim e o movimento espírita usa a manobra ideológica de "não obrigar seus seguidores a largar suas religiões" para justificar assimilações igrejeiras que descaraterizam o Espiritismo no Brasil. No entanto, há também a desculpa de que o "médium" teria se "empolgado demais com a origem católica" quando inseriu conceitos católicos na literatura dita "espírita", uma desculpa agradável mas improcedente, feita apenas para manter o "médium" sob blindagem, mesmo diante da promessa de recuperação das bases kardecianas originais. Essa promessa nunca foi cumprida pelo Espiritismo que prevalece no Brasil.

A produção de obras fake - como os livros que usam nomes de personalidades literárias, como Humberto de Campos, ou de figuras "comuns" como André Luiz (fictício), Meimei e Jair Presente (usurpados) - , são legitimadas, apesar das aberrantes disparidades de estilo e aspectos pessoais dos autores espirituais alegados, sob diversos pretextos. Entre eles, estão as mensagens "positivas" e a suposição de que a individualidade seria um "capricho terreno" que não valeria no mundo espiritual. Diante disso, o movimento espírita tenta estabelecer critérios escalafobéticos para analisar as supostas psicografias, para evitar que elas sejam analisadas pelo raciocínio humano comum, fácil de observar fraudes nessas obras.

Certa vez, a dita "inteligência artificial", usada sob encomenda da FEB, constatou "autenticidade" nas supostas psicografias de Chico Xavier. É uma coisa risível, pois se trata justamente do uso de "algoritmos", ou "robôs", que mediante leitura de códigos binários associados a formação de palavras e frases, apenas trazem resultados de acordo com a combinação de linguagens prévias, sem que se faça uma análise intelectual de conteúdo. Em outras palavras, trata-se do mesmo recurso que faz as fake news ganharem ampla aceitação pública e enorme repercussão nas redes sociais.

A produção de "cartas mediúnicas" soma uma série de leviandades. Além de estimular a obsessão pelos entes queridos mortos, elas apresentam obras fake facilmente reconhecíveis pela disparidade de assinaturas entre a suposta psicografia e a do suposto autor registrada em vida. Não obstante, os "mortos" tinham a assinatura pessoal na caligrafia de Chico Xavier.

Outro aspecto a considerar é que as sessões "mediúnicas", pelo caráter de catarse e de euforia, possuem um efeito psicológico análogo às orgias mais mórbidas de sexo, drogas e dinheiro, mas sem estes elementos. Essa analogia se dá pelo caráter de transe, euforia e deslumbramento serem surpreendentemente semelhantes ao dessas orgias da matéria, o que pode fazer da religião um processo de entorpecimento emocional.

Não há como considerar, mesmo com graves erros, Chico Xavier um "homem bondoso e amável", porque isso seria, mesmo diante de críticas severas, exercer a fascinação obsessiva - um tipo perigoso de obsessão - em torno de sua pessoa, algo parecido com o canto de sereias da Odisseia de Homero, clássico da literatura da Antiguidade.

É vergonhoso como Homero nos alertava dessa tentação que fez Ulisses querer ser amarrado no mastro de seu navio, muito tempo antes de Jesus nascer. O Brasil, em pleno Século XXI, não se mostra capaz de resistir ao canto da sereia do "bondoso" Chico Xavier, beneficiado pelas relativizações confortáveis do pensamento desejoso, sendo ele a personificação das sereias que seduziram Ulisses. É hora das pessoas deixarem de lado essa fascinação obsessiva por alguém que cometeu estragos muito graves no Espiritismo, agindo de forma desonesta, sem ética e contrariando a lógica e o bom senso.

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