(Autor: Kardec McGuiver)
Um fato que não é novo, mas é desconhecido da maioria das pessoas por ser algo pouco comentado e nada difundido nas grandes mídias é o de que as nossas elites e a classe média que a apoia tem mentalidade escravocrata e altamente preconceituosa em relação aos pobres.
Mesmo de forma positiva, as elites tentam enxergar o pobre não como seu igual, mas como algo semelhante a um bichinho de estimação, cuja ajuda deve ser no máximo paliativa, nunca do mesmo nível das elites.
O professor Jessé Souza, um dos maiores intelectuais da atualidade, está lançando nesta semana um livro, A Elite do Atraso, que mostra com detalhes como se preservou a mentalidade escravocrata de nossas elites. Souza já havia falado no tema em várias de suas palestras e o livro serve como um detalhado documento de sua observação e análise.
De fato, as elites, descendentes dos velhos senhores de engenho dos tempos feudais, receberam muito bem as lições de seus ancestrais e se empenham em transmiti-las a seus filhos, perpetuando o preconceito que mantém o Brasil no atraso.
Porque estou falando nisso em um site que critica a deturpação brasileira ao Espiritismo? Para entender como funciona a doutrina brasileira (que nada tem em comum com a francesa, além do nome e da crença na vida pós-morte e na reencarnação) é necessário entender a mentalidade de nossas elites, pois é sabido que o "Espiritismo" brasileiro tem ricos e classe média alta na maior parte de seus seguidores e muitos dos preconceitos elitistas foram enxertados no repertório dogmático.
As elites brasileiras não são nada generosas. Quando ajudam, agem de forma a não prejudicar a sua ganância. Preferem doar bens baratos e/ou usados, que para eles, que gostam de renovar o acúmulo de seus bens, não tem mais serventia. Nunca abrem mão de seu supérfluo e usam a caridade paliativa para se auto-promoverem como benfeitores, mas sem gerar o verdadeiro benefício que é o fim das desigualdades.
Esta forma de caridade praticada pelas elites é a mesma praticada pelas religiões, ONGs e instituições de filantropia e como seita religiosa, o "Espiritismo" brasileiro está perfeitamente incluído nesta. Até porque é uma religião de elite e tem que seguir a mentalidade de seus seguidores.
Pois esta elite não quer o verdadeiro altruísmo. Ser altruísta de verdade é abrir mão de seus excessos, é desistir de privilégios e enxergar aquele que não tem oportunidade de crescer como um igual, como um outro ser humano merecedor dos mesmos direitos.
Ao invés disso, as elites preferem enxergar os pobres como um animal, que quando dócil merece uma comida rudimentar, abrigos rudimentares, sem a qualidade usufruída pelas elites, já que para estas os pobres não sã gente. Portanto não devem ter os mesmos benefícios de que merece um ser humano.
Recomendo a leitura atenta do excelente livro de Jessé Souza, A Elite do Atraso, para entender não somente como pensa as elites e a classe média concordante como também o conceito de caridade difundido no "Espiritismo" brasileiro: uma caridade que não reparte renda e direitos, além de não eliminar a injusta divisão de classes, servindo apenas de um paliativo para que excluídos possam suportar a pobreza crônica que nunca termina.
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