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A atitude de Chico Xavier diante do ocaso de Wantuil de Freitas

(Autor: Professor Caviar)

Devemos analisar os bastidores do "movimento espírita" nos tempos em que Antônio Wantuil de Freitas, o centralizador e igrejeiro presidente da FEB, começava a sair de cena, paralelo ao escândalo causado pelo episódio da farsante Otília Diogo.

Era o final da década de 1960, época em que várias crises atingiram o "espiritismo" brasileiro, um preço muito caro pago pela deturpação. Da suspeita de queima de arquivo em relação à morte do sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier, ao rompimento de Waldo Vieira com o seu antigo ídolo e parceiro, o "espiritismo" era alvo de incidentes graves resultantes de suas próprias escolhas.

Sabe-se que, em 1958, Amauri Xavier ameaçou denunciar o tio e revelar os bastidores do "movimento espírita", o que derrubaria um mercado literário alimentado por pretensas psicografias. Chico Xavier era protegido de Wantuil de Freitas, presidente da FEB e descobridor do "médium". Wantuil foi uma espécie de "empresário" que queria transformar Chico num popstar da religiosidade, investindo em muito sensacionalismo e na apropriação de grandes nomes literários falecidos, que "regressavam" com obras supostamente espirituais que, no entanto, escapavam de seus estilos pessoais.

O caso Humberto de Campos foi o que mais causou problemas, embora a antologia Parnaso de Além-Túmulo, de 1932, tivesse sido um escândalo vergonhoso. Se o caso Humberto fez Chico virar réu e só ser salvo porque nossa Justiça é "seletiva" (ela protege pessoas dotadas de algum privilégio, mesmo que seja o religioso), a denúncia de Amauri iria gerar um escândalo ainda mais grave.

Daí que o "espiritismo", que diz "não apreciar a calúnia" e "não promover o ódio", partiu para cima de Amauri, numa campanha de profundo ódio e calúnias violentas. Inventou-se que Amauri falsificava até dinheiro - imagine, um jovem daqueles ter uma "fábrica" de papéis-moedas! - e que arrombava residências. Amauri era só viciado em álcool, mas morreu cedo demais do que esse mal sugere (aos 28 anos incompletos). Há suspeitas de que ele sofreu maus tratos num sanatório onde foi internado e, estranhamente liberado, teria morrido por envenenamento, em 1961.

No final da década de 1960, o escândalo envolvendo Chico Xavier era outro. Fotos feitas por um amigo da causa, Nedyr Mendes da Rocha, em um conhecido "fogo amigo" do "movimento espírita" - outro "fogo amigo" foi a revelação, por Suely Caldas Schubert, de que Chico pedia aos editores da FEB fazerem a revisão de Parnaso de Além-Túmulo - , desmentem a ideia oficial de que Chico Xavier teria sido enganado por Otília Diogo nas farsas de materialização.

Muitas fotos mostram Chico Xavier observando os bastidores, acompanhando todo o processo alegremente, bastante comunicativo e conversando com todos os presentes. Waldo Vieira esteve entre eles e ficou decepcionado com o antigo ídolo e parceiro, que saiu-se melhor depois que reportagens de O Cruzeiro denunciaram a fraude de Otília Diogo (os repórteres receberam ameaças dos "espíritas" depois que tais denúncias foram reveladas).

Com o desfecho do caso, com Otília Diogo presa e depois solta e desaparecida - ela morreu muitos anos depois - e Chico Xavier se livrando das acusações de cumplicidade, apesar das provas reveladas pelas fotos divulgadas, passou a posteridade se passando por "vítima de um embuste", embuste no qual ele mesmo colaborou, com muito prazer.

O episódio custou o rompimento de Waldo com Chico e a "parceria André Luiz", e a série envolvendo o suposto espírito de um médico se encerrou oficialmente com o livro ...E a Vida Continua, de 1968, embora o nome de "André Luiz" esteja associado a eventuais obras posteriores, mesmo sem o nome de Xavier.

O incidente ocorreu numa mesma época em que, com o fim da longa presidência de Antônio Wantuil de Freitas, estourou a denúncia de que ele havia explorado comercialmente as obras lançadas por Francisco Cândido Xavier. O "médium", no fundo um mineiro muito esperto, conseguiu também sair-se desta, se dizendo "profundamente triste" com a referida denúncia.

Quem presta atenção nos fatos e investiga os bastidores sabe que essa "tristeza" de Chico Xavier foi um jogo de cena. Afinal, Chico Xavier havia decidido deixar os direitos autorais à FEB, ciente de que a federação iria ficar com o dinheiro da comercialização de livros. Ora, seria muito ingênuo considerar que Chico achava que a FEB só iria arrecadar "para a caridade". Chico apenas não gostava de tocar em dinheiro (talvez pela sujeira material), mas sempre teve uma vida confortável.

Xavier era o pupilo de Wantuil e o garoto-propaganda de todo um arrivismo igrejista promovido pela federação. O escândalo da "comercialização dos livros", que Chico fingiu ignorar mas que sabe ter sido acordado desde o início, percorreu a virada dos anos 1960 e 1970, e resultou no isolamento da cúpula da FEB, já hostilizada pelo "movimento espírita" pelo desprezo às federações regionais e por ter vazado que Divaldo Franco havia plagiado obras de Chico Xavier, este já um plagiador.

Diante desses escândalos, o que fez Chico Xavier? Vendo seu tutor e descobridor se aposentar, morrendo quatro anos depois, ele decidiu se "desvincular" da cúpula da FEB, atuando de forma "independente" e passando a lançar livros por outras editoras "espíritas", inclusive algumas de menos expressão. Esperto, o mineiro "comeu quieto" e sobreviveu a dois escândalos, nos quais tinha a responsabilidade direta que, na hora H, se recusou a assumir, temendo sua ruína.

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